O presidente da Câmara Municipal do Seixal manifestou-se hoje preocupado com os desacatos registados na Área Metropolitana de Lisboa, um dos quais na Arrentela, levado a cabo por "um grupo organizado de cerca de 20 pessoas".
Em declarações à agência Lusa, Paulo Silva (eleito pela CDU) adiantou que, segundo os dados de que dispõe, "um grupo organizado de cerca de 20 pessoas mandou parar o autocarro na Arrentela, fez sair os passageiros e o condutor, e regou o veículo com combustível".
Este foi, segundo a PSP, um dos dois autocarros incendiados na madrugada de hoje, nos concelhos do Seixal (distrito de Setúbal) e de Loures (distrito de Lisboa), que se somam assim aos outros dois queimados na noite anterior na Amadora e em Oeiras, no âmbito dos desacatos registados desde a noite de segunda-feira.
Os protestos decorrem na sequência da morte de Odair Moniz, baleado por um agente policial na Amadora na madrugada de segunda-feira.
"Apesar de ser um grupo numeroso, não houve mais qualquer ocorrência no concelho, o que dá a entender que não seriam de cá e que se deslocaram aqui para fazer este desacato", disse Paulo Silva, referindo, contudo, que houve contentores ardidos no Miratejo, freguesia de Corroios, com o fogo imediatamente apagado pela população.
O autarca do Seixal, que falava à agência Lusa momentos antes da reunião do Conselho Metropolitano de Lisboa marcada para hoje de manhã, disse ver com preocupação toda a situação que está a ocorrer na Área Metropolitana de Lisboa (AML).
Paulo Silva referiu que o direito ao protesto é constitucional, mas que nada justifica atos violentos como os que têm ocorrido.
"O direito ao protesto é constitucional. Todas as pessoas devem exercer, mas dentro dos limites constitucionais e sem violência e episódios que colocam em causa pessoas e bens", disse.
Odair Moniz, de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Os desacatos desencadeados pela sua morte tiveram início no Zambujal, na noite de segunda-feira, e estenderam-se, desde terça-feira, a outros bairros da AML.
No total, mais de uma dezena de pessoas foram detidas. Além de um motorista de autocarro que sofreu queimaduras graves (em Loures), alguns cidadãos ficaram feridos sem gravidade e dois polícias receberam tratamento hospitalar.
Segundo a PSP, Odair Moniz pôs-se "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial e "entrou em despiste" na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação "séria a isenta" para apurar "todas as responsabilidades", considerando que está em causa "uma cultura de impunidade" nas polícias.
A Inspeção-Geral da Administração Interna abriu um inquérito urgente e também a PSP anunciou um inquérito interno, enquanto o agente que baleou o homem foi constituído arguido.