O presidente deposto da Coreia do Sul foi esta quarta-feira detido, quase um mês e meio após ter declarado lei marcial. Yoon Suk-yeol disse que aceitou ir com as autoridades para “evitar um derramamento de sangue desagradável”. No entanto, recusou-se a falar durante o interrogatório.
As autoridades podem agora manter Yoon sob custódia policial durante 48 anos. Depois destes dois dias, os investigadores terão de solicitar um novo mandado de detenção para um período máximo de 20 dias ou libertá-lo.
No entanto, nestas primeiras horas de interrogatório, o presidente deposto recusou-se a falar e não aceitou que as entrevistas com os investigadores fossem gravadas em vídeo, de acordo com a agência Reuters.
A polícia anunciou a detenção de Yoon Suk-yeol, depois de uma tentativa falhada da equipa do Gabinete de Investigação à Corrupção para Altos Funcionários (CIO, na sigla em inglês), no início de janeiro.
Durante a madrugada desta quarta-feira, cerca de 3.000 agentes do CIO e da polícia chegaram à residência presidencial, num bairro nobre da capital Seul, onde o presidente deposto estava “barricado” há semanas.
"Evitar um derramamento de sangue desagradável”
Antes de ser escoltado pelas autoridades, Yoon gravou uma mensagem de vídeo na qual disse ter concordado submeter-se ao interrogatório para “evitar um derramamento de sangue”.
“Hoje, quando os vi entrar na área de segurança utilizando equipamento de combate a incêndios, decidi responder à investigação Gabinete de Investigação à Corrupção para Altos Funcionários, apesar de ser uma investigação ilegal, para evitar um derramamento de sangue desagradável.”
Na mensagem, o antigo procurador garantiu que esta decisão não significa que reconhece a investigação e considerou “deplorável” a forma como “estes procedimentos ilegais estão a ser levados a cabo à força, com um mandado inválido”.
Os advogados de Yoon defenderam que o mandado de detenção é ilegal, uma vez que foi emitido por um tribunal da jurisdição errada e que a equipa criada para o investigar não tinha um mandado legal para o fazer.
A oposição já reagiu, com o líder dos deputados do Partido Democrático na Assembleia Nacional, Park Chan-dae, a dizer que a detenção é "o primeiro passo" para o regresso à ordem:
"A detenção de Yoon Suk-yeol é o primeiro passo para o regresso à ordem constitucional, à democracia e ao Estado de direito."
O primeiro presidente sul-coreano em exercício a ser detido
Yoon, que está a ser investigado por rebelião, na sequência da declaração de lei marcial em 3 de dezembro, é o primeiro presidente sul-coreano em exercício a ser detido.
Suspenso pelos deputados e objeto de investigação por rebelião, o líder conservador tem-se recusado desde o início a prestar declarações sobre a imposição da lei marcial, o que levou os procuradores a emitirem um mandado de detenção.
Yoon surpreendeu o país em 3 de dezembro ao declarar lei marcial, uma medida que fez lembrar os dias negros da ditadura militar sul-coreana e que justificou com a intenção de proteger o país das "forças comunistas norte-coreanas" e de "eliminar elementos hostis ao Estado".
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No entanto, a Assembleia Nacional frustrou os planos presidenciais ao votar a favor do levantamento do estado de emergência. Pressionado pelos deputados e por milhares de manifestantes pró-democracia, Yoon foi obrigado a revogar a decisão.
Em 3 de janeiro, os serviços de segurança presidencial, responsáveis pela proteção do chefe de Estado, bloquearam uma primeira tentativa do COI de executar o mandado de detenção. Na segunda incursão, esta quarta-feira, as autoridades avisaram que deteriam qualquer pessoa que impedisse a detenção.
- Com Lusa