A eurodeputada do Partido Socialista (PS) Marta Temido disse, esta quarta-feira, que foi necessário "engolir um travo amargo" para aprovar o novo colégio de comissários de Ursula von der Leyen e anteviu "cinco anos muito difíceis".

Apesar das reservas manifestadas nas últimas semanas, nomeadamente em relação ao comissário Raffaele Fitto, do Irmãos de Itália (extrema-direita), os Socialistas & Democratas (S&D) no Parlamento Europeu ajudaram a aprovar a próxima Comissão Europeia, o segundo executivo comunitário a ser liderado pela alemã Ursula von der Leyen.

"Vivemos um momento muito difícil, com um conjunto de fatores externos e internos que são muito preocupantes. Este não é o colégio de comissários que escolheríamos, há nomes que nos preocupam bastante", afirmou Marta Temido.

A antiga ministra da Saúde portuguesa considerou que era necessário haver uma Comissão Europeia em funções para começar a debelar os desafios que os 27 Estados-membros da União Europeia (UE) têm pela frente.

"Foi isso que determinou, em última instância, que, invocando a imagem que outros utilizaram no passado, hoje tapássemos alguns nomes de alguns comissários, engolíssemos este travo amargo e votássemos favoravelmente", sustentou.

Voto a favor "não é carta em branco"

Marta Temido deixou claro que o voto favorável dos socialistas "não é uma carta em branco" e que é o "início de um processo", considerando que os eurodeputados portugueses do PS "continuam preocupados" com a aproximação entre o Partido Popular Europeu (PPE, centro-direita) e os grupos políticos da extrema-direita, especialmente os Conservadores e Reformistas Europeus (ECR).

Esta posição, prosseguiu Marta Temido, "reflete a sensibilidade da delegação portuguesa do PS". Bruno Gonçalves foi o único eurodeputado socialista que não votou favoravelmente o colégio de comissários, que optou pela abstenção.

Em declarações à agência Lusa, Bruno Gonçalves defendeu a sua posição e o seu entendimento do processo de composição da nova Comissão Europeia: "O que aconteceu até hoje foi que o PPE e Ursula von der Leyen abriram a porta à extrema-direita".

Em causa está a inclusão de um vice-presidente "de um partido neofascista italiano, que infelizmente ataca os direitos das mulheres, das minorias e dos migrantes", que "coloca em perigo o próprio projeto europeu", sustentou.

Eleição após intensas negociações

O Parlamento Europeu aprovou, esta quarta-feira, a composição da próxima Comissão Europeia de Ursula von der Leyen, com 370 votos favoráveis, 282 contra e 36 abstenções.

A derradeira votação dos eurodeputados realizou-se durante o plenário de Estrasburgo, em França. No final da votação, a nova Comissão Europeia foi aplaudida por uma parte do hemiciclo.

A aprovação, por maioria simples, surgiu após o escrutínio dos eurodeputados (incluindo audições a cada um dos comissários indigitados) e de intensas negociações nas últimas semanas entre os grupos de centro-direita, socialistas e liberais para um acordo político sobre os sete nomes que estavam pendentes de um total de 26 comissários, que foi alcançado há uma semana.

Com a validação dos eurodeputados, o executivo comunitário pode entrar em funções já no dia 1 de dezembro. O Parlamento Europeu também deliberou sobre duas resoluções que se opunham à aprovação da Comissão Europeia, da Esquerda e do Patriotas pela Europa (extrema-direita), mas acabaram chumbadas pelo plenário.