O Presidente russo, Vladimir Putin, defendeu esta quinta-feira que um acordo de paz com a Ucrânia deve basear-se na realidade do campo de batalha, onde as forças de Moscovo controlam quase 20% do território ucraniano.
“Estamos prontos para considerar quaisquer conversações de paz com base nas realidades locais. Não estamos prontos para fazer mais nada”, declarou em conferência de imprensa na cidade russa de Kazan, onde hoje terminou a cimeira dos BRICS, bloco originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e entretanto alargado a mais países.
“A bola está do lado deles”, disse Putin, comentando a possibilidade de negociações, embora tenha insistido que Kiev se recusa a dialogar com Moscovo.
Durante a cimeira dos BRICS, os representantes da China, Índia e Brasil apelaram ao líder do Kremlin para um imediato alívio da violência na Ucrânia e para o rápido início das conversações de paz. “Todos estão concentrados em pôr fim ao conflito o mais rapidamente possível e de preferência de forma pacífica”, comentou o líder russo.
Na quarta-feira, a diplomacia ucraniana congratulou-se pela falta de referências na declaração final da cimeira dos BRICS à “visão neoimperialista russa de mudar a ordem mundial e a arquitetura de segurança global através da sua agressão contra a Ucrânia”.
Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano salientou que o parágrafo dedicado à Ucrânia da declaração da cimeira se limita a mencionar as posições nacionais dos países participantes e “o seu compromisso com os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, bem como com um acordo pacífico e com a diplomacia” para encerrar o conflito iniciado pela Rússia em fevereiro de 2022.
Em Kazan, o Presidente russo expressou gratidão a todos os parceiros por prestarem atenção ao conflito ucraniano e “procurarem uma forma de o resolver”.
Quanto à situação atual na frente de combate, onde as tropas russas têm registado importantes progressos nas últimas semanas, Putin afirmou que o Exército russo “age com firmeza em todas as direções” e estão a avançar “em todos os setores da linha de contacto”. Em particular, o Presidente russo referiu a situação na região fronteiriça de Kursk, invadida pelas forças ucranianas a 6 de agosto.
“[Os militares russos] estão a trabalhar ativamente na frente de Kursk. Algumas unidades do exército ucraniano, incluindo na região de Kursk, estão bloqueadas e cercadas. São aproximadamente 2.000 militares”, disse ainda Putin.
UE condena envolvimento da Coreia do Norte, China “desconhece” movimentações
A União Europeia (UE) disse hoje estar “profundamente alarmada” com a decisão da Coreia do Norte de enviar militares para combater pela Rússia na Ucrânia e advertiu que o bloco comunitário vai coordenar uma resposta com parceiros.
Em comunicado, o alto representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, recordou que a decisão de Pyongyang “constitui uma grave violação da lei internacional, incluindo dos princípios mais fundamentais da Carta das Nações Unidas”. “Este ato unilateral hostil da Coreia do Norte tem consequências para a paz e segurança na Europa e global”, alertou.
O chefe da diplomacia europeia condenou em nome da União Europeia o “aprofundamento da cooperação militar e transferência de armamento” entre os dois países, que é uma “violação flagrante de múltiplas” resoluções das Nações Unidas.
Borrell disse que a Rússia enviou uma “mensagem clara” ao aprofundar a cooperação militar com a Coreia do Norte a deixar militares norte-coreanos combater na Ucrânia: “Apesar de declarar que está pronta para negociar [um cessar-fogo], a Rússia não está verdadeiramente interessada numa paz justa, compreensiva e duradoura”.
O alto representante da UE deixou um aviso: “A União Europeia vai coordenar-se com os parceiros internacionais nesta questão, incluindo em respostas”.
A China afirmou hoje “não ter conhecimento” da alegada presença de militares norte-coreanos a combater nas fileiras russas na guerra na Ucrânia.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, disse em conferência de imprensa que as autoridades chinesas “sempre mantiveram uma posição consistente e clara” sobre o conflito. E manifestou a sua esperança de que “todas as partes se esforcem por desanuviar a situação e se empenhem numa solução política”.
De acordo com os serviços secretos sul-coreanos, Pyongyang já terá enviado 3.000 soldados para a Rússia, onde estão a treinar para combate, embora, segundo Seul e Kiev, a Coreia do Norte possa mobilizar até 12.000 soldados.
O secretário da Defesa dos EUA, Lloyd J. Austin, afirmou na quarta-feira que as tropas norte-coreanas tinham sido efetivamente enviadas para a linha da frente, embora não tenha mencionado números.
Desde o início da guerra na Ucrânia, a China tem mantido uma posição ambígua, apelando ao respeito pela “integridade territorial de todos os países”, incluindo a Ucrânia, e à atenção às “preocupações legítimas de todos os países”, em referência à Rússia.
A China e a Coreia do Norte celebram este ano o seu “ano de amizade”, por ocasião do 75º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas, mas os intercâmbios entre os dois países em 2024 foram limitados, numa altura em que as relações bilaterais terão arrefecido, coincidindo com a forte aproximação entre Pyongyang e Moscovo. No entanto, a China continua a ser o principal parceiro estratégico e comercial da Coreia do Norte, com a qual partilha uma fronteira de mais de 1.400 quilómetros.
Outras notícias:
⇒ “Mais de 19 mil crianças ucranianas” foram deportadas ilegalmente para a Rússia desde fevereiro de 2022, “um ato testemunhado pelo mundo que não foi alvo de qualquer ação”, lamentou Olena Zelenska esta quinta-feira. A primeira-dama da Ucrânia esteve presente na 9.ª edição das Conferências do Estoril que decorre na faculdade Nova SBE, em Carcavelos, Lisboa;
⇒ Os deputados russos aprovaram esta quinta-feira em primeira leitura o projeto de lei orçamental 2025-2027, que prevê um aumento de 30% nas despesas militares no próximo ano, em linha com a política do Kremlin centrada no esforço de guerra. Os gastos com a defesa atingirão quase 13.500 mil milhões de rublos (cerca de 130 mil milhões de euros) em 2025, de acordo com o projeto de lei. O orçamento militar da Rússia já tinha aumentado em quase 70% num ano, em 2024, representando este ano 8,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país;
⇒ O Presidente da Bielorrússia advertiu na quarta-feira que a Rússia pode recorrer à “arma mais perigosa do seu arsenal”, referindo-se às armas nucleares, se a NATO entrar na Ucrânia, como sugeriu Kiev após a alegada presença de tropas norte-coreanas no conflito. “Não creio que os militares e os dirigentes russos precisem dos norte-coreanos”, disse Alexander Lukashenko, a caminho da cimeira dos BRICS;
⇒ Os juízes do Tribunal Penal Internacional (TPI) denunciaram a Mongólia ao órgão de supervisão por “não ter cumprido um pedido” de detenção do Presidente russo, Vladimir Putin, quando se deslocou ao país em setembro. foi concluído que o país “não cumpriu o pedido de cooperação”, contradizendo o Estatuto de Roma, o tratado fundador do tribunal, e impedindo o TPI de exercer “as suas funções e poderes” enquanto órgão judicial.