Pedro Tavares da Silva ficou “sem chão” quando, aos 44 anos, sem nada que o fizesse prever, descobriu que tinha um cancro bastante agressivo. Deram-lhe dois ou três anos de vida e uma noite, na sequência de uma complicação, chegaram a ligar à família a dizer que poderia não chegar ao dia seguinte. Passaram seis anos desde essa altura. Ainda que não esteja curado, o tumor estabilizou. Mas vive diariamente com “uma espada em cima da cabeça”.
“Muitas pessoas perguntam se me senti revoltado ou injustiçado. Antes pelo contrário. Sempre senti que isto era uma espécie de despertar de consciência. Nós damos tudo por garantido na vida. Sabemos que um dia vai acabar, mas nunca sabemos quando. Eu não. Tinha um temporizador, um cronómetro. E isso foi um despertar de consciência para aproveitar a vida ao máximo”, conta no mais recente episódio do podcast “Que Voz é Esta?”.
Seguido na Fundação Champalimaud, em Lisboa, Pedro tem apoio psicológico desde o início da doença e considera que isso foi determinante para a forma como lida com a incerteza do cancro e com a dureza dos tratamentos.
“Há coisas que não conseguimos dizer nem sequer às pessoas que nos são mais próximas ou dizemos e elas não compreendem. Ter um profissional [de saúde mental] que nos acompanha nesse caminho é absolutamente fundamental porque podemos falar sobre tudo. Quando me perguntam o que é importante fazer perante um diagnóstico de cancro, eu respondo: em primeiro lugar, ter apoio psicológico”, diz.
Sílvia Almeida, psicóloga clínica que dá consultas especializadas de psicoterapia a doentes oncológicos na Fundação Champalimaud, explica que “um diagnóstico de cancro é geralmente avassalador para quem o recebe, no sentido em que é entendido como uma ameaça à vida, o que desperta muitas emoções".
Neste episódio do podcast, a psicóloga explica as reações mais comuns entre os doentes oncológicos e as fases que são psicologicamente mais desafiantes no decurso da doença, frisando a importância do apoio psicoterapêutico nestas situações, já que os doentes oncológicos têm “uma probabilidade aumentada de sofrerem de problemas de ansiedade e depressão” e isso pode pesar na própria evolução da doença.