O líder do Hamas, Yahya Sinwar, que Israel confirmou ter assassinado esta quinta-feira, era a figura do grupo islamita que se acreditava ter a palavra final sobre uma eventual libertação de reféns israelitas.

Sinwar tornou-se o principal chefe do Hamas após o assassínio do anterior líder, Ismail Haniyeh, numa explosão no Irão em julho, que foi atribuída a Israel.

Nascido em 1962 num campo de refugiados na cidade de Khan Yunis, em Gaza, Sinwar foi um dos primeiros membros do Hamas, formado em 1987, e acabou por liderar o braço de segurança do grupo.

"O Carniceiro de Khan Yunis"

Israel prendeu-o no final da década de 1980, quando Sinwar admitiu ter matado 12 alegados colaboradores, um papel que lhe valeu a alcunha de "O Carniceiro de Khan Yunis".

Sinwar foi condenado a quatro penas de prisão perpétua por crimes que incluíram a morte de dois soldados israelitas e, quando cumpria as sentenças, organizou greves nas prisões para melhorar as condições de trabalho dos reclusos.

Salvo por médicos israelitas e libertado por Netanyahu

Estudante por conta própria da sociedade hebraica e israelita, Sinwar sobreviveu a um cancro no cérebro em 2008, após ser tratado por médicos israelitas.

Sinwar estava entre os mais de mil prisioneiros palestinianos libertados em 2011 pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, no âmbito de uma troca por um soldado israelita capturado pelo Hamas num ataque transfronteiriço.

Quando Sinwar regressou a Gaza, ascendeu rapidamente na hierarquia do Hamas com uma reputação de crueldade.

Acredita-se que tenha estado por detrás do assassinato, em 2016, de outro importante comandante do Hamas, Mahmoud Ishtewi, numa luta interna pelo poder.

Sinwar tornou-se chefe do Hamas em Gaza, colocando este movimento no controlo efetivo do território e trabalhou com Haniyeh para alinhar o grupo com o Irão e com os seus representantes na região.

Das ligações ao ataque de 7 de outubro à palavra final na libertação de reféns

Existem provas generalizadas de que Sinwar, juntamente com Mohammed Deif, o chefe do braço armado do Hamas, planearam o ataque surpresa de 07 de outubro em território de Israel.

O ataque matou cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, e desencadeou uma guerra que matou mais de 42 mil palestinianos em Gaza, segundo as autoridades de saúde locais.

Em maio, o procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) solicitou mandados de detenção para Sinwar, Deif e Haniyeh pelos seus alegados papéis no ataque.

Sinwar estava escondido desde o ataque, mas, mesmo antes de se tornar o principal líder do Hamas, acreditava-se que tinha a palavra final sobre qualquer acordo para libertar os reféns detidos pelo grupo islamita.

Cerca de 100 reféns permanecem em Gaza, dos quais se acredita que cerca de um terço estejam mortos.

Apoiantes do Hamas em Gaza, Cisjordânia e campos de refugiados palestinianos

Não é claro quem irá substituir Sinwar e o que isso poderá significar para os esforços de cessar-fogo, que foram interrompidos em agosto, após meses de negociações mediadas pelos Estados Unidos, Egito e Qatar.

O Hamas tem centenas de milhares de apoiantes em Gaza, na Cisjordânia ocupada por Israel e nos campos de refugiados palestinianos espalhados pela região. Vários dos seus principais líderes estão escondidos no Qatar, que tem servido de mediador entre Israel e o grupo islamita.

No passado, Israel assassinou vários líderes do Hamas: o fundador do grupo, o Xeque Ahmed Yasin, em cadeira de rodas, em março de 2004, e o seu sucessor, Abdelaziz Rantisi, menos de um mês depois, bem como dois outros líderes do braço armado do grupo islamita, Salah Shehade (2002) ou Ahmed Yabari (2012).

Com Lusa