Um número ainda não determinado de reclusos fugiu esta quarta-feira da cadeia de máxima segurança em Maputo, após uma rebelião, avançou à Lusa o secretário permanente do Ministério da Justiça.

"Confirmamos a evasão, mas equipas nossas ainda estão no terreno para aferir com exatidão o número específico e outros detalhes", declarou Justino Tonela.

O Estabelecimento Penitenciário de Máxima Segurança de Maputo, a pouco mais de 14 quilómetros do centro da capital moçambicana, alberga mais de três mil reclusos nesta ala de segurança máxima, prisioneiros condenados e suspeitos de crimes graves, principalmente homicídios, segundo dados do Ministério da Justiça.

O país vive o terceiro dia consecutivo de caos nas ruas, na sequência do anúncio dos resultados finais das eleições gerais, com saques, vandalizações e barricadas, nomeadamente em Maputo.

Imagens que circulam nas redes sociais desde o início da tarde mostram os confrontos entre os reclusos e seguranças da penitenciária, que realizaram diversos disparos para tentar conter a rebelião.

Outros vídeos feitos por populares mostram várias dezenas de reclusos em fuga nos bairros nos arredores da prisão e militares a fazerem buscas em casas, na tentativa de os recapturar.

O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na tarde de segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.

Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane - que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.

236 atos de violência grave em 24 horas

A polícia moçambicana registou 236 "atos de violência grave" em 24 horas, na contestação aos resultados eleitorais, incluindo ataques a esquadras e cadeias, que provocaram 21 mortos, anunciou na terça-feira à noite o ministro do Interior, garantindo o reforço imediato da segurança.

"Ninguém pode chamar, nem considerar, estes atos criminosos de manifestações pacíficas", afirmou esta noite o ministro Pascoal Ronda, em conferência de imprensa em Maputo, num momento de caos generalizado no país, com barricadas, saques, vandalizações e ataques diversos, um dia depois do anúncio dos resultados finais das eleições gerais de 09 de outubro.

O governante revelou que entre essas 236 ocorrências nas últimas 24 horas "em todo o território", incluem-se 25 viaturas incendiadas, duas das quais da Polícia da República de Moçambique (PRM), 11 subunidades policiais e um estabelecimento penitenciário "atacados e vandalizados, de onde foram retirados 86 reclusos", quatro portagens incendiadas, três unidades sanitárias vandalizadas, um armazém central de medicamentos incendiado e vandalizado e dez sedes do partido Frelimo incendiadas.

"Tiveram como consequências 21 óbitos, dos quais dois membros da PRM, 25 feridos, sendo 13 civis e 12 membros da PRM", acrescentou Pascoal Ronda, dando conta que 78 pessoas foram detidas e que a polícia está a investigar os autores morais e materiais destes crimes, que representam um momento "difícil" e "nefasto".

Apontou igualmente que "enquanto os atos de violência se desenrolam, grupos de homens armados, utilizando tanto armas brancas como de fogo, têm realizado ataques contra postos policiais, estabelecimentos penitenciários e outras infraestruturas criticas".

"O 'modus operandi' dessas ações sugere a possibilidade de estarmos perante ataques seletivos conduzidos por grupo terrorista associado à insurgência em Cabo Delgado. Diante dessa situação, as FDS irão intervir, pois não podem assistir inocente e eternamente ao crescimento deste movimento que tende a caracterizar-se como pleno terrorismo urbano", disse Pascoal Ronda.


Com LUSA