O líder da IL acusou, esta terça-feira, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, de irresponsabilidade por dizer que espera que "não seja necessário" avançar com uma comissão parlamentar de inquérito ao caso de Montenegro e da Spinumviva. Rui Rocha considera "absolutamente surpreendente" que o socialista o diga quando não há novas informações sobre o caso.

Vamos por partes. O que disse, afinal, Pedro Nuno Santos? Esta manhã, na conferência Fabrica 2030, promovida pelo jornal ECO, em Lisboa, o líder do PS disse esperar que "não seja necessário" haver uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) à Spinumviva por ter a “expectativa” de que até ao final da campanha “consigamos esclarecer o que há ainda para esclarecer”.

Declaração que na opinião de Rui Rocha é “um recuo” de Pedro Nuno Santos.

"Ou o Pedro Nuno Santos tem acesso a um conjunto de informação que os portugueses em geral não têm -- nesse caso, deveria ser o primeiro a disponibilizá-la aos portugueses -- ou, se não é isso, se tem a mesma informação do que há um mês, é absolutamente surpreendente, para não dizer irresponsável", afirmou o liberal, em declarações aos jornalistas após uma reunião com a CIP - Confederação Empresarial de Portugal, em Lisboa.

Mas o líder da IL não se ficou por aqui nas críticas e disse ainda ser "uma irresponsabilidade que alguém que tenha querido trazer o país para uma situação de crise, agora prescinda daquilo que era a sua proposta fundamental de esclarecimento de tudo isto, que era a comissão parlamentar de inquérito".

"Seria, portanto, absolutamente surpreendente que, depois da irresponsabilidade da AD e de Luís Montenegro que conduziu o país para um beco, que é o de eleições que não são desejadas (...), termos um líder da oposição que insistiu num instrumento, fez finca-pé nele, e agora prescinde dele sem que haja novas informações relevantes", considerou.

A questão é: Pedro Nuno Santos admitiu deixar cair a CPI?

As declarações do secretário-geral do PS foram proferidas num contexto em que revelou que ser ver clarificada o quanto antes a questão da averiguação preventiva do Ministério Público sobre a compra de duas casas. Se possível, disse, "antes de os portugueses serem chamados às urnas", no dia 18 de maio.

"Era correto, não tanto por mim, era pelos portugueses que vão fazer uma escolha no dia 18 de maio e têm que saber se têm algum motivo de preocupação com quem têm à sua frente", defendeu o líder do PS, dizendo esperar que esta situação não o prejudique, e assegurando que fez tudo "aquilo que podia" com as explicações que deu, colocando toda a informação pública como diz que lhe competia.

"Tivesse o meu adversário feito o mesmo se calhar nós não estávamos na situação em que nós estamos. (…) Por mais desagradável que possa ser fazer "um striptease" da sua vida, esse é o custo da decisão" que tomou de estar na vida política, reiterando que o primeiro-ministro deveria prestar todos os esclarecimentos sobre as situações que o envolvem.

E é aqui que, questionado pelo jornalista do ECO, António Costa, sobre o caso da Spinumviva, Pedro Nuno Santos disse já saber "o suficiente para fazer uma juízo negativo da seriedade ainda primeiro-ministro", Luís Montenegro, e que sobre a comissão parlamentar de inquérito que o PS apresentou no Parlamento, o líder socialista voltou a dizer que espera que “não seja necessário” recorrer a este instrumento na próxima legislatura por ter a expectativa de, até ao final da campanha, ser possível esclarecer o que considera estar em falta.

E a IL considera ou não que deve haver uma CPI?

Questionado sobre se a IL defende que ainda deve haver uma CPI à Spinumviva, Rui Rocha disse que o partido "nunca fez finca-pé em nenhuma destas questões que envolvem a situação de Luís Montenegro".

"O que a IL fez finca-pé é em ter um país que tem capacidade para gerar o sucesso que todos desejamos. Nunca fizemos dos temas pessoais a nossa campanha, continuaremos a apresentar as nossas propostas e assistiremos com estupefação aos ziguezagues e à irresponsabilidade de uns e outros na condução destas matérias", disse.

Interrogado, contudo, se admite aprovar uma comissão de inquérito à Spinumviva, tal como tinha admitido antes da marcação de eleições legislativas, Rui Rocha disse que, nessa altura, considerou que essa comissão seria necessária para evitar que o país fosse a eleições.

"Neste momento, se o principal interessado já se considera suficientemente esclarecido, é uma avaliação que o próprio tem que fazer e, sobretudo, tem de explicar ao país como é que colaborou nessa irresponsabilidade de trazer o país para uma crise política e agora, passado um mês, sem que se saiba se existe algum facto relevante novo, prescinda dela", referiu.

Sobre se a IL já está esclarecida relativamente à Spinumviva, Rui Rocha disse que o partido "nunca fez disso campanha" e reiterou que considera que foi "uma irresponsabilidade" de Luís Montenegro não ter "atalhado desde o início" a questão da Spinumviva.

Questionado se considera que Pedro Nuno Santos conseguiu atalhar cedo o caso que envolve a aquisição de duas casas, Rui Rocha referiu não querer fazer comparações nem gastar tempo de campanha a falar de casos envolvendo os líderes do PS e do PSD.