Na estreia nos debates, o candidato liberal teve pela frente o socialista. E se Rui Rocha criticou Pedro Nuno Santos por “não fazer outra coisa” a não ser falar dos casos do primeiro-ministro, o candidato do PS aproveitou a tirada do moderador e trouxe para a discussão o argentino Milei (e a famosa motosserra), que em tempos fora elogiado pela Iniciativa Liberal mas que agora Rui Rocha diz que “está do outro lado”.

Foi a habitação um dos temas (mais uma vez) dominante no debate, desta noite na RTP1. “Temos que atacar o problema e pôr o país a crescer, as empresas a crescer, e aliviar as famílias, reduzindo impostos em áreas fundamentais”, insistiu o liberal, criticando o “bolo sempre pequeno” com que o PS se apresenta.

“Pedro Nuno Santos tem uma visão que é: o bolo é pequeno, continua sempre igual porque as previsões de crescimento do PS não passam de 2%, e ainda quer dividi-lo por todos"

Na resposta, e recusando a ideia de que é um radical de esquerda, Pedro Nuno Santos defendeu que não há um exemplo de propostas políticas suas que possam ser apelidadas de radicais, ao contrário da IL - contestou dando o exemplo de privatizações de empresas como a RTP ou a CGD.

“Quando eu ouço Rui Rocha a dizer que quer fazer avançar Portugal, é fazer avançar Portugal mas é contra uma parede. O programa da Iniciativa Liberal é irresponsável e é profundamente radical”.

E, por ser preciso “seriedade”, Pedro Nuno Santos justificou o facto de não poder “ignorar as razões que nos trouxeram a estas eleições", a postura de Montenegro "é relevante porque nos trouxe aqui”.

“[A AD] começou com o truque do IRS e acabamos com outro, muitos portugueses que estavam habituados a receber [IRS], percebem agora que não recebem ou até têm de pagar. (…) Esta dimensão da sereidade é importante porque tem reflexos na forma como o Governo se comporta. Precisamos de gente séria na sala", afirmou Pedro Nuno, lembrando a Rui Rocha que quem viabilizou o Orçamento do Estado foi o PS e não a IL.

O socialista acrescentou, ainda, que os tempos exigem “responsabilidade”, por isso “temos um cenário sério, cauteloso, prudente, de contas certas”, já “a IL reduz impostos para tudo, tem a solução mágica, até para a calvice - a solução seria baixar um imposto”. Rui Rocha respondeu à ironia com um já "Pedro Nuno Santos resolve tudo com mais Estado”.

Milei? Por agora fica "do outro lado"

O liberal que agora opta pela “visão do liberalismo europeu, que trouxe prosperidade a muitos países”, e sublinha que a Argentina de Milei “está do outro lado”, atacou o adversário por trazer o IRS para cima da mesa quando “não tem nenhum descida” prevista. E quanto a seriedade, Rocha sugeriu “um diagnóstico com o passado”.

“A trajetória de Pedro Nuno Santos como ministro terminou com uma crise profunda na habitação, apenas mais um quilómetro em exploração de ferrovia do que quando começou, a uma TAP com 3.200 milhões dos portugeses investidos, 500 mil euros de indeminização aprovados via Whatsapp"

Mas o regresso ao passado não perturbou Pedro Nuno, até porque, disse, o liberal “usou o mesmo número no ano passado”. Depois, e agradecendo a oportunidade, defendeu que lançou, enquanto ministro, “o maior programa de construção pública, na ferrovia - o maior programa desde que se começou a fazer investimento ferroviário no país”, e reiterou que pegou na TAP falida e deixou-a a dar dinheiro.

Habitação é preocupação, só muda a solução

A habitação, que tem sido tema em todos os debates, é uma preocupação para PS e IL. Diferente é o caminho para resolver o problema.

“É uma das áreas em que a AD falhou - e até agravou o problema. (…) Mas a solução não é baixar o IVA da construção para todos - como defende a IL. O que precisamos é de estimular a oferta para a classe média e jovens, com IVA a 6% e não para casas de um milhão de euros. Aumento da constução pública é fundamental para alargar a oferta. Resposta da IL é errada”, criticou o socialista.

Outra questão foi a “racionalização da Administração Pública e do Estado”. Considera Rui Rocha, que “há áreas em que defendemos que o Estado não deve estar, onde há concorrência o Estado não deve estar”, noutras áreas, “é preciso eliminar redundâncias e burocracias”.

“O que não queremos é que o aparelho do Estado esteja ocupado por clientelas partidárias”

O adversário socialista “concorda que se deve eliminar redundâncias”, mas não “criar nenhuma nova estrutura” para fazê-lo, disse apontando o dedo ao que diz constar no programa da IL. “Diriei a todos os meus ministros que tem de fazê-lo, mas não precisamos de uma motoserra que corta o Estado social ao meio”.

Defesa fecha debate

Se Rui Rocha concorda com o reforço do investimento porque é também “uma oportunidade, indústria da defesa pode permitir uma reconversão para áreas de maior valor acrescentando, respietando o que é fundamental para os portugueses, e no quadro europeu e com bom senso”.

Já Pedro Nuno Santos optou por explicar a posição pública que assumiu, esta quinta-feira, por considerar que é “importante que em matéria de defesa, soberania, haja um consenso alargado, e lá fora é preciso mostrar unidade”.