O ministro dos Assuntos Parlamentares desmente “categoricamente”, em entrevista à SIC Notícias, que tenha sido feita qualquer proposta de acordo de Governo ao Chega. Pedro Duarte acusa André Ventura de “oscilação de personalidade” e afirma que seria “muito perigoso” se o Chega tivesse capacidade de influenciar o destino do país.

O governante considera que as declarações de André Ventura – que, esta noite, em entrevista CNN, acusar o primeiro-ministro de “mentir” aos portugueses, assegurando que Luís Montenegro quis “negociar” em privado com o Chega, com vista à viabilização do Orçamento do Estado - são “inqualificáveis”.

“Não tenho competências para diagnosticar personalidades com esta oscilação”, atirou o ministro, referindo-se a André Ventura, e acrescentando que não se deve dar ao líder do Chegaa relevância que, se calhar, ele pretende.

Pedro Duarte faz questão de atacar a falta de “credibilidade” do presidente do Chega, contrastando com aquilo que diz ser a “firmeza, tranquilidade e seriedade” de Luís Montenegro.

O governante lembra que, mesmo antes das eleições legislativas, Montenegro foi “muito claro”, dizendo que não faria acordos com o Chega. E que, após o sufrágio, “teria sido muito simples chegar a um entendimento e ter maioria absoluta”, mas que o primeiro-ministro é alguém com “coerência nas posições” e “sentido de Estado”.

“Se fosse preciso acordo com o Chega, poderia ter sido feito. Foi nos oferecido no primeiro minuto. Não queremos”, sublinhou Pedro Duarte.

O ministro dos Assuntos Parlamentares foi ainda mais longe e defendeu mesmo que, dada a “falta de credibilidade absoluta de André Ventura e do seu partido, seria muito perigoso se tivessem capacidade de influenciar a governação do país.

O Orçamento do Estado

Pedro Duarte insistiu, nesta entrevista à SIC Notícias, que é “muito importante” que o Orçamento do Estado para 2025 seja aprovado, porque o país “não precisa de uma crise política”.

O ministro dos Assuntos Parlamentares defende que a proposta apresentada pelo Governo corresponde a um “bom Orçamento”, que “aumenta pensões, aumenta salários, reduz impostos e aumenta investimento público".

“Só quem tem uma atitude muito partidária, sectária, a olhar para o interesse individual, pode querer criar problemas”, atirou o governante, sugerindo que o PS não tem motivos para votar contra o documento.

Pedro Duarte diz até acreditar mesmo que a viabilização acabará por ser a posição dos socialistas em relação ao Orçamento. “Se olharmos para o histórico do PS, já mostrou em muitos momentos que tem sentido de responsabilidade”, referiu.

Questionado sobre as críticas apontadas, esta quinta-feira, pelo PS ao documento – afirmando que as propostas que foram feitas durante as negociações, quanto à Saúde, Habitação e pensões - não foram acolhidas -, Pedro Duarte considera que os socialistas tentaram “encontrar qualquer coisa para criticar o Governo à última hora”.

“O PS, se quiser encontrar pretextos, vai ter de ser mais criativo”, atirou.

Questionado sobre se, nesse sentido, o Orçamento do Estado apresentado não contém já demasiadas cedências aos socialistas, Pedro Duarte assume que sim, mas considera que conseguiu encontrar-se um “equilíbrio”.

“Não nos foi dada maioria absoluta pelos portugueses. Nós temos de respeitar isso e agir em conformidade”, admitiu.

Ainda assim, rejeita que, caso o Orçamento do Estado seja viabilizado pelo PS na generalidade, haja espaço para ir mais longe na especialidade.

“Corríamos o risco de ter um Orçamento que não servisse os interesses do país”, conclui.

A comunicação social e os jornalistas

Numa entrevista em que negou a existência de aumentos de impostos neste Orçamento e em que garantiu que – “a não ser que haja um fenómeno totalmente inesperado” -, há razões para estar “confiante” nas previsões do Governo para o crescimento da economia, foi o tema da comunicação social e do jornalismo a fechar a conversa.

O ministro dos Assuntos Parlamentares foi questionado quanto às palavras do primeiro-ministro, que, referindo-se aos jornalistas, utilizou as palavras “ofegantes” e sugeriu que recebiam perguntas “sopradas ao auricular”.

Pedro Duarte considera que o primeiro-ministro não precisa de fazer qualquer “retratamento” após estas declarações, uma vez que foram ditas “de forma sentida, sincera e honesta”.

O governante assegura que o Executivo não convive mal com o escrutínio e que as palavras de Luís Montenegro significam apenas que o trabalho dos jornalistas deve ser “valorizado”, “maturado” e “ponderado”.

"Não quer que se coloquem jornalistas, pela pressão do mediatismo, na situação de não fazerem bem o seu trabalho”, declarou.

Quanto aos planos do Governo para apoiar a comunicação social, Pedro Duarte assegura que o Executivo procurará “consensos sociais e políticos”, estando disponível para acomodar propostas.

"Vamos começar um caminho de diálogo e conversas para chegar a equilíbrio”, assegurou.