A diretora dos Serviços Secretos dos Estados Unidos admitiu esta segunda-feira que a tentativa de assassínio do ex-Presidente Donald Trump foi o "fracasso operacional mais significativo" da agência em décadas.

"No dia 13 de julho, falhámos", afirmou Kimberly Cheatle aos representantes durante uma audição no Congresso dos Estados Unidos sobre o atentado contra o ex-líder da Casa Branca e candidato republicano nas eleições presidenciais de 5 de novembro.

A responsável dos Serviços Secretos assumiu total responsabilidade pelos erros da agência relacionados com o ataque no comício de Trump na Pensilvânia e que deixou o candidato ferido numa orelha.

Um participante no comício foi morto e dois outros ficaram feridos depois de Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, ter subido ao telhado de um edifício próximo e aberto fogo, antes de ser abatido no local.

Cheatle testemunha perante a Comissão de Supervisão da Câmara dos Representantes, enquanto aumentam os apelos para a sua demissão devido a falhas de segurança no comício onde o atentado ocorreu.

Vários congressistas têm expressado indignação pela forma como o atirador conseguiu chegar tão perto do candidato presidencial republicano, quando deveria ser cuidadosamente vigiado, e querem o afastamento de Kimberly Cheatle. "Penso que sou a melhor pessoa para dirigir os Serviços Secretos nesta altura", afirmou a diretora perante a pressão dos congressistas para se demitir.

Diretora dos Serviços Secretos defende que havia agentes em número suficiente para proteger Trump

Os Serviços Secretos tinham aumentado o nível de segurança do antigo Presidente antes da tentativa de assassinato. Uma garantia dada por Cheatle perante as perguntas dos congressistas sobre o número insuficiente de agentes. A diretora da agência responsável de proteger o Presidente e os candidatos a cargos públicos considerou ainda que "havia um número suficiente de agentes destacados" para proteger Trump.

Relativamente à ausência de um agente dos Serviços Secretos no telhado, a diretora respondeu que ainda se estavam a apurar as responsabilidades, mas assegurou que o edifício onde estava o responsável pelo disparo estava "fora do perímetro de segurança".

No domingo, os jornais Washington Post e New York Times informaram que altos funcionários dos Serviços Secretos norte-americanos negaram repetidamente pedidos de mais recursos e pessoal para a segurança do ex-Presidente Donald Trump nos dois anos anteriores à sua tentativa de assassínio.

Os agentes encarregados de proteger o político republicano solicitaram magnetómetros, mais agentes para analisar os participantes dos grandes eventos em que Trump esteve presente, bem como atiradores adicionais e equipamento especializado, disseram quatro fontes ao Washington Post.

Os pedidos foram frequentemente rejeitados por altos funcionários dos Serviços Secretos, que indicaram várias razões, incluindo a falta de recursos.

O New York Times afirmou por seu lado que duas fontes, que falaram sob anonimato, confirmaram que a campanha de Trump tinha pedido recursos adicionais durante a maior parte do tempo em que o político republicano esteve fora do cargo na Casa Branca.

Após a publicação desta informação, o porta-voz dos serviços secretos, Anthony Guglielmi, disse ao jornal que novas informações indicam que alguns pedidos podem ter sido negados e que a documentação estava a ser analisada. “Executámos uma estratégia abrangente e por níveis para equilibrar pessoal, tecnologia e necessidades operacionais especializadas”, disse.

Atirador foi identificado como suspeito

Cheatle informou ainda o Congresso que o atirador foi identificado como suspeito antes de Trump começar a discursar no comício através de um sistema de rastreio da espingarda que transportava. O Crooks também foi visto pelos agentes a transportar um telémetro, um objetivo que mede as distâncias e não integrava a lista de objetos proibidos no Comício.

Mais tarde, testemunhas viram-no a subir a lateral de um edifício industrial a 135 metros do palco. Questionada sobre o motivo pelo qual os Serviços Secretos não suspenderam o Comício após este avistamento, a diretora da agência disse que as comunicações entre os agentes ainda estavam a ser analisadas. Garantiu ainda que se tivesse havido uma suspeita de ameaça, o evento teria sido imediatamente interrompido.

A diretora garantiu ainda que os serviços secretos estão a "colaborar plenamente com as investigações em curso". "Temos de saber o que aconteceu e eu vou mover o céu e a terra para garantir que um incidente como o de 13 de julho não volte a acontecer”, declarou ao acrescentar que num prazo de 60 dias teria o relatório da investigação inicial concluído. Um prazo contestado pela democrata Alexandria Ocasio-Cortez que disse ser inaceitável para o público.

Sobre o tempo que demorou a retirar Trump do palco, a diretora dos Serviços Secretos não deu uma resposta exata, mas destacou a coragem dos agentes que rodearam o antigo presidente, que “em menos de três segundos” formaram um escudo corporal em redor do antigo Presidente. O deputado democrata Stephen Lynch contestou a afirmação ao argumentar que Trump teve durante “mais de um minuto de exposição naquele pódio”.

Como "Donald Trump está vivo, e graças a Deus que está, vocês parecem incompetentes” afirmou o deputado Mike Turner, republicano do Ohio. “Se Donald Trump tivesse sido morto, vocês pareceriam culpados”, alertou.

O ataque a Trump foi a tentativa mais grave de assassinar um Presidente ou candidato presidencial desde que Ronald Reagan foi atingido a tiro em 1981.

Foi também a mais recente de uma série de falhas de segurança por parte da agência que suscitaram investigações e escrutínio público ao longo dos anos.

As autoridades têm procurado pistas sobre o que motivou Crooks, que estava registado como eleitor do Partido Republicano, mas até agora não encontraram nenhuma tendência ideológica que pudesse ajudar a explicar as suas ações.

Os investigadores que revistaram o seu telefone encontraram fotografias de Trump, Biden e outros altos funcionários do Governo, e descobriram também que ele tinha consultado as datas da Convenção Nacional Democrata, bem como as aparições de Trump.