Não foi em 24 horas, como tinha prometido na campanha eleitoral, que Donald Trump conseguiu acabar com a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Esta quarta-feira também não o fez. Mas foi um passo. Os Estados Unidos conseguiram assinar acordos de cessar-fogo separados com a Ucrânia e a Rússia para assegurar a segurança da navegação no Mar Negro e implementar o fim dos ataques a estruturas energéticas nos dois países. Mas Volodymyr Zelensky desconfia do empenho de Vladimir Putin e exige mais armas e novas sanções contra Moscovo se a Rússia violar os acordos, enquanto França e Reino Unido acham estas tréguas parciais insuficientes.

Com este acordo, a Casa Branca pensa ter conseguido "assegurar a segurança da navegação, eliminando o uso da força, e prevenir o uso de navios mercantes para fins militares no Mar Negro", informou a administração norte-americana em comunicado. Segundo os EUA, Ucrânia e Rússia concordaram ainda em "trocar prisioneiros de guerra, libertar civis detidos", e a Rússia comprometeu-se com "o regresso de crianças ucranianas transferidas à força" para a orla de Moscovo. Os russos passaram também a poder regressar ao mercado internacional de produtos agrícolas e fertilizantes.

Poucas horas depois de anunciado o acordo de tréguas parciais, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, confirmou a entrada em vigor do cessar-fogo no Mar Negro e o compromisso de não atingir infraestruturas energéticas. Mas espera receber mais armas e um reforço de sanções sobre a Rússia por parte dos norte-americanos no caso de Moscovo violar os acordos.

"Se a Rússia violar" os acordos "então tenho uma questão direta para o Presidente Trump", lançou o Presidente ucraniano. Se o fizerem, "exigimos sanções e pedimos armas, etc". disse Zelensky numa conferência de imprensa em Kiev.

Volodymyr Zelensky também criticou o ponto do acordo que facilita as exportações agrícolas da Rússia, porque enfraquece as sanções e “ajuda a recuperar o acesso da Rússia ao mercado global de exportação de produtos agrícolas e fertilizantes”.

Por sua vez, o Presidente russo, Vladimir Putin, denunciou esta terça-feira que o Exército ucraniano está a destruir tudo, na sua retirada da região fronteiriça de Kursk, incluindo igrejas e muito património nacional. "Infelizmente, depois de as nossas tropas, os nossos homens, expulsarem o inimigo dos colonatos, eles destroem alvos industriais e energéticos e centros culturais", disse Putin, durante uma sessão do Conselho Presidencial Russo para a Cultura e a Arte.

Reino Unido quer um cessar-fogo "total, imediato e incondicional". França acha acordo insuficiente

Depois de ser conhecido o cessar-fogo parcial, o Governo britânico agradeceu aos Estados Unidos "pelos seus esforços" para alcançar uma trégua com a Rússia no mar Negro, mas reiterou a preferência por um "cessar-fogo total, imediato e incondicional". Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico disse que Londres está em contacto com os EUA e a Ucrânia após a conclusão das negociações de hoje em Riade.

"O Presidente [ucraniano, Volodymyr] Zelensky já demonstrou que a Ucrânia é a favor da paz, ao propor um cessar-fogo total, imediato e incondicional. Esperamos que o Presidente [russo, Vladimir] Putin aceite esta proposta sem mais demoras", vincou. O Governo britânico acrescentou que continua a trabalhar "em estreita colaboração com os parceiros internacionais com vista a uma paz duradoura e estável".

A França, que tem desenvolvido esforços no sentido de a Europa mobilizar uma força de paz, defendeu que os acordos anunciados pela Casa Branca, são "um passo na direção certa", mas ainda insuficientes para um "cessar-fogo duradouro" no conflito.

A suspensão de ataques a infraestruturas energéticas ou a trégua no mar Negro "são passos na direção certa, mas não são suficientes para estabelecer um cessar-fogo duradouro e sólido, muito menos um acordo de paz", segundo fontes da presidência francesa em videoconferência com os jornalistas.

As mesmas fontes indicaram que a França se opõe à exigência da Rússia de que as sanções às suas exportações agrícolas sejam suspensas como condição para a trégua, afirmando que a União Europeia não sancionou nem os envios de alimentos nem de fertilizantes, que estão, no entanto, a ser prejudicados pelos efeitos da guerra lançada por Moscovo em fevereiro de 2022.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, vai acolher na quinta-feira uma reunião de líderes de 31 países "sobre a paz e a segurança na Ucrânia" - em que o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, participará - na qual será discutida uma potencial força a destacar para o país, bem como a ajuda militar imediata e a longo prazo a Kiev e ainda os esforços para alcançar um cessar-fogo permanente, anunciaram fontes do Palácio do Eliseu.

Macron vai encontrar-se com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no Palácio do Eliseu nesta quarta-feira à tarde, para ambos se prepararem para a reunião no dia seguinte. As fontes do Eliseu, na teleconferência com os jornalistas, insistiram que tudo está a ser feito "com total transparência", mas não em coordenação com os Estados Unidos.