"Há registo de vandalização de mercearias e saque de produtos aqui na Munhava e esta manhã as coisas pioraram quando a polícia entrou em cena e começou a disparar", contou à Lusa Américo Tomás, residente naquela cidade.
Os resultados eleitorais proclamados pelo CC levaram igualmente ao saque de bens públicos e privados e bloqueio das vias na cidade da Beira, no centro do país, com a polícia a disparar gás lacrimogéneo e balas verdadeiras para dispersar os manifestantes.
A onda de saques e destruições começou instantes após a proclamação dos resultados das eleições de 09 de outubro pelo CC, que confirmou a vitória da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, e do candidato que apoia, Daniel Chapo.
Para além de vias bloqueadas incluindo destruições de infraestruturas públicas e privadas, os manifestantes queimaram camiões de cargas ao longo da principal estrada que dá acesso ao Porto da Beira.
No interior da cidade, os bairros da Munhava, Manga Mascarenhas, Inhamidzua, Cerâmica, Manga Longorto e as principais vias que dão acesso ao centro da cidade e ao aeroporto internacional local ficaram totalmente bloqueadas pelos manifestantes.
"Isto está acontecer desde ontem à noite, não há transporte de passageiros, mercados quase todos estão fechados e ninguém pode circular com viaturas" declarou à António Chirindza, munícipe da Beira.
O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou ontem Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frelimo, como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi.
A proclamação destes resultados pelo CC confirma a vitória de Daniel Chapo, jurista de 47 anos, atual secretário-geral da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), anunciada em 24 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), mas na altura com 70,67%.
Esse anúncio da CNE desencadeou durante praticamente dois meses manifestações e paralisações, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não os reconhecia, provocando pelo menos 130 mortos em confrontos com a polícia, segundo dados de organizações não-governamentais que acompanham o processo.
Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos, extraparlamentar), tinha ficado em segundo lugar, com 20,32%, segundo o anúncio anterior da CNE. O Conselho Constitucional, na leitura dos resultados, confirmou o segundo lugar e atribuiu-lhe 24,19% dos votos.
As eleições gerais de 09 de outubro incluíram as sétimas presidenciais - às quais já não concorreu o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite de dois mandatos - em simultâneo com legislativas e para assembleias e governadores provinciais.
JYJE // PSC
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