A poucos dias das eleições nos Estados Unidos da América, o ex-presidente e candidato presidencial republicano, Donald Trump, descreveu o seu comício no Madison Square Garden, em Nova Iorque - um evento marcado por insultos grosseiros e racistas por parte de vários oradores -, como um "festival de amor".
Este é um termo que Trump também usou para se referir ao motim de 6 de janeiro de 2021 e à invasão do Capitólio, o edifício do Congresso dos Estados Unidos, por apoiantes seus, para contestar e impedir a certificação dos resultados das eleições presidenciais que davam a vitória ao seu adversário na corrida, o democrata Joe Biden.
"Nunca houve um evento tão bonito" como o comício de domingo à noite na sua cidade-natal, Nova Iorque, apesar das críticas da campanha da atual vice-presidente e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, e de muitos dos espetadores - incluindo republicanos - sobre comentários racistas dirigidos a latinos, negros, judeus e palestinianos, bem como insultos sexistas dirigidos a Harris e à antiga secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton.
A atuação do comediante Tony Hinchcliffe no comício (vídeo acima), em que disse uma piada chamando a Porto Rico uma "ilha flutuante de lixo", causou especial ira, dada a importância eleitoral dos porto-riquenhos que vivem no estado da Pensilvânia e noutros estados essenciais para o resultado das eleições. A campanha de Trump deu o raro passo de se distanciar da piada de Hinchcliffe sobre Porto Rico, mas não de outros comentários.
Apesar do distanciamento, três ativistas lançaram na terça-feira tinta vermelha sobre as estátuas de presidentes norte-americanos junto ao Capitólio de San Juan. "É um ato de expressão do povo porto-riquenho face à política de ódio que está a ser liderada pelo Partido Republicano liderado por Donald Trump", destacou Tito Román, um dos ativistas, depois de lançar a pintura e antes de ser detido.
Também o rapper Bad Bunny, numa demonstração de orgulho e resistência, prestou homenagem à sua ilha natal com um vídeo publicado na terça-feira de manhã sobre as riquezas naturais e arquitetónicas de Porto Rico e as suas lendas internacionais em áreas como política, desporto ou música.
A classe política de Porto Rico condenou as palavras do comediante Hinchcliffe. "Lixo foi o que saiu da boca de Tony Hinchcliffe, e todos aqueles que o aplaudiram deveriam sentir vergonha por desrespeitar Porto Rico", frisou o governador de Porto Rico, Pedro Pierluisi, através da sua conta na rede social X.
Kamala Harris escolhe espaço Elipse para discurso final
A uma semana do dia da eleição, a vice-presidente decidiu utilizar o espaço Elipse, perto da Casa Branca, para prometer aos norte-americanos que trabalhará para melhorar as suas vidas, ao mesmo tempo que defende que o seu adversário republicano só está nisto por si próprio. O objetivo é, segundo o “The New York Times”, “parar de apontar o dedo e começar a dar os braços” para um futuro de responsabilidade partilhada.
A democrata Kamala Harris quer "colocar o país acima do partido" e de si própria no final da campanha presidencial. "[Trump] passou uma década a tentar manter o povo americano dividido e com medo uns dos outros: ele é assim", dirá Harris, segundo partes do discurso preparado divulgados pela sua campanha, citados pela agência Associated Press. "Mas, América, estou aqui esta noite para dizer: isto não é quem somos", contrapôs. O local escolhido por Harris é o mesmo onde Trump fomentou a insurreição do Capitólio
Antes da intervenção de Harris, os oradores serão americanos comuns, em vez das celebridades nos seus eventos recentes, como Amanda Zurawski, que quase morreu de sépsis após lhe ter sido negada assistência ao abrigo da proibição rigorosa do aborto no Texas, e Craig Sicknick, irmão do polícia do Capitólio Brian Sicknick, que morreu depois do ataque de 6 de janeiro.
O último discurso da vice-presidente está em preparação há semanas, mas os conselheiros esperavam que a sua mensagem tenha mais impacto depois do comício de Trump.Biden disse na terça-feira que não vai comparecer ao discurso de Harris porque o evento é "para ela", mas planeava vê-lo na televisão.
Outras notícias que marcaram o dia de campanha:
⇒ Tanto o “The Washington Post” como o “Los Angeles Times” decidiram não declarar apoio a qualquer dos candidatos nas próximas eleições. É a primeira vez desde 2004 que o Los Angeles Times não o faz. Quanto ao Post, segundo o seu ‘publisher’ William Lewis, vai “regressar às suas raízes” de se manter neutro nas eleições presidenciais norte-americanas”.
⇒ A Organização dos Estados Americanos (OEA) anunciou o envio de observadores eleitorais a 13 estados norte-americanos, para monitorizar as eleições. A missão de observação eleitoral, liderada pelo secretário-geral da OEA, Luis Almagro, é composta por 42 especialistas de 14 países, detalhou esta organização, em comunicado. Os observadores estarão presentes no distrito de Columbia, que alberga a capital, e em 13 estados do país, incluindo Geórgia, Michigan, Nevada e Wisconsin, que são quatro dos principais estados que decidirão as eleições. Haverá também observadores na Califórnia, Colorado, Indiana, Iowa, Maine, Maryland, Massachusetts, Nebrasca e Virgínia.
⇒ Ainda sobre o comício descrito pelo Trump como um "festival de amor", Biden denunciou a sua linguagem racista. No entanto, a mensagem que passou foi que chamou aos apoiantes de Trump “lixo”. A Casa Branca esclareceu que o atual Presidente se referia à linguagem e não a quem apoiava o republicado.