Às vezes tratando-se por “tu”, noutras mantendo um registo mais formal, Inês Sousa Real e André Ventura trocaram acusações e tocaram vários temas no debate em que se estrearam, esta segunda-feira à noite, na RTP.

Os cenários de governabilidade foram mote para André Ventura insistir que há pontos de comparação entre Luís Montenegro e José Sócrates, mas sem fechar por completo a porta a entendimentos com o PSD no pós-eleições. “Se o primeiro-ministro insistir em manter-se à margem de suspeitas graves e não se explicar (sobre como) ter dinheiro em várias contas para não ter de as declarar ou andar a comprar casas a pronto em nome dele e dos filhos…Isto faz lembrar José Sócrates”, afirmou Ventura, que começou por lembrar que foi o primeiro partido a pedir esclarecimentos sobre o caso e a apresentar uma moção de censura.

“Eu não conseguia chegar a Lisboa e comprar uma, nem duas”, acrescentou, para apontar que quem consegue “ou é rico - e isso é bom - ou enriqueceu de forma suspeita e tem de explicar isso”. “Fazer um acordo com uma pessoa que existe em não dar essas explicações? Enquanto não houver clareza e transparência, nunca será nunca”, garantiu o líder do Chega.

Ao mesmo tempo, Ventura aproveitou o tema da corrupção para acusar o PAN de “ser uma muleta do PSD”, considerando que o partido liderado por Inês Sousa Real ajudou "a sustentar a corrupção de Miguel Albuquerque na Madeira". Sousa Real retorquiu que quem “andou de joelhos” para ir para o Governo foi André Ventura. As pessoas não querem saber se as medidas que fazem diferença nas suas vidas são de esquerda ou de direita, defendeu a candidata, que recusou a acusação de representar um partido de “vazio ideológico. “O PAN tem sabido dialogar com todos os governos”, disse, sublinhando que é “do centro-progressista”.


Conduta “intolerável” no Parlamento, acusa PAN. Chega insiste na castração química para pedófilos


O segundo debate da noite passou igualmente pelo tema dos abusos sexuais e do aumento de crimes sexuais, que o líder do Chega considerou “preocupante”, deixando críticas aos partidos que no Parlamento votaram contra as propostas de aumento de penas e castração, reiterando que é a favor da castração química e de uma moldura penal mais pesada: “Um violador não deve ter pena suspensa, deve ir para a cadeia, um pedófilo deve ser castrado.”

Já a porta-voz do PAN defendeu que a violação deve ser passar a ser crime público e argumentou que o seu partido é o que mais tem feito para combater os crimes sexuais.

Inês Sousa Real afirmou que o Chega faz “política tóxica” e contestou a forma como a bancada daquele partido se comporta no parlamento, lamentando nunca ter ouvido um pedido de desculpa por parte de André Ventura: “Chamam nomes, interrompem constantemente” e imitam “mugidos de vaca”, acusou, considerando que é uma conduta “absolutamente intolerável”.

André Ventura recusou pedir desculpa, dizendo-se o “deputado mais ofendido” do parlamento. “Nunca te ofendi”, disse a líder do PAN, “mas já tiveste colegas teus que me ofenderem”.

As trocas de acusações entre ambos estenderam-se aos temas dos direitos dos animais e da imigração. “A imigração está a ser descontrolada”, defendeu André Ventura, que diz que o seu partido foi considerado “exagerado”, mas que agora até o ministro da Presidência já confirma que Portugal que os números se aproximam dos 15% de imigrantes: “É uma bandalheira que entra qualquer pessoa”.

Na resposta, Inês Sousa Real atirou que o Chega é “negacionista das alterações climáticas” e que se esconde atrás dos temas da imigração. Nas muitas críticas trocadas entre os dois, houve uma mais insólita, a propósito do posicionamento do PAN, que Ventura acusou de ser ideologicamente vazio: “O PAN até apresentou uma moção para que os animais tenham de ser vegetarianos." “Isso é mentira”, contestou Inês Sousa Real.