A sala de conferências de imprensa do estádio Dr. Magalhães Pessoa foi, este sábado, palco do 1.º debate da Associação Nacional de Delegados de Futebol (ANDF), que teve como foco a importância e desafios do papel de delegado no futebol. Com a moderação de Sérgio Krithinas, diretor executivo de Record, juntaram-se o ex-árbitro Artur Soares Dias, o advogado e consultor José Miguel Sampaio e Nora e Paulo Renato, presidente da ANDF.

Num debate com cerca de uma hora e meia, foram vários os temas abordados e muitas histórias contadas. Retirado da arbitragem profissional há cerca de dois meses, Artur Soares Dias partilhou como se foi desenvolvendo a relação entre árbitro e delegado nos seus quase 30 anos como árbitro profissional. Agradeceu a presença dos presentes, mas atirou que na sala estavam "muitos delegados não presentes e que deviam de estar".

Lembrou que quando começou, em 1996, não havia delegados e que passou "momentos menos bons nos túneis", mas frisou que hoje estes agentes são como "anjos da guarda": "É muito por causa deles que já não se vê tanto os árbitros contra o mundo." Considera, ainda assim que, num contexto internacional, há vários países onde os delegados são vistos de forma mais soberana do que outros. Sobre as divergências entre delegados e árbitros, Soares Dias usou como exemplo a expressão "debaixo da porta a pessoa está dentro ou fora?" para afirmar que existe ainda um caminho pela frente. "Se andarmos sempre a passar multas não haverá diminuição de ruído", exemplificou.

Em tom animado, recordou a história de uma multa de 1.000 € num Benfica-Sporting, atribuída a um agente desportivo e embaixador da Liga que é... seu amigo. "Ele entrou no meu balneário para me dar os parabéns por ter gerido bem um jogo difícil, mas quando passaram o texto do relatório para fora tiveram uma interpretação diferente e multaram-no em 1.000 €. Ainda hoje me diz que lhe lixei 1.000 €!", lembra. Ainda sublinhou, em tema paralelo sobre ofertas de dirigentes a árbitros, que nunca deixou de receber o 'Kit Eusébio', lembrando que deve haver uma "relação saudável entre todos".

José Miguel Sampaio e Nora, entre várias intervenções sobre o reforço da importância do delegado, considera que este "deve ser mais ouvido" naquele que é o processo regulamentar da Liga, porque "estas são as pessoas que representam a Liga no campo". Tocou também no aspeto das multas, várias vezes nomeado no debate. "As multas têm crescido imenso nos últimos anos. A Liga tem criado várias linhas vermelhas e não é admissível serem ultrapassadas", referiu, lembrando que a lei deve ser revista em função da percentagem do vencimento dos agentes desportivos para haver justiça na atribuição das multas. "A proporção resolvia o problema", concordou Soares Dias.

Enaltecendo a evolução e reconhecimento do papel do delegado, Sampaio e Nora frisou também que um delegado deve sempre escrever "sobre o que vê e não o que ouviu dizer". O advogado lembrou a história de uma delegada, em Portugal, que foi determinante num episódio de um jogo em que houve um suplente utilizado e que não estava na ficha de jogo. Isso resultou num processo disciplinar, mas a delegada foi fulcral para o desfecho deste processo.

Paulo Renato, presidente da ANDF que deu o mote do debate, comentou que entre jogadores de futebol ainda não se sabe bem a importância do papel de um delegado. "Pode tratar-se de um Benfica-Sporting ou de um Salgueiros-Rio Tinto que para os jogadores é igual, mas dentro das diferentes entidades da liga e Federação Portuguesa de Futebol há cada vez mais reconhecimento", e por essa razão, "na tomada de decisões, os delegados deveriam ter um lugar na Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Futebol", à imagem do que sucede com outras associações de classe.