Ainda Teresa Bonvalot se sintonizava com o mar, austera nas escolhas, paciente na sua espera, e Yolanda Hopkins era uma urgência flutuadora, a fazer das mãos remos que a propulsavam de um lado para o outro. Irrequieta, a surfista algarvia que vive no Alentejo apanhou quatro ondas em menos de 10 minutos enquanto a de Cascais era criteriosa nas águas de Saquarema, nos arrabaldes do Rio de Janeiro. O início do heat que juntou duas portuguesas era sintoma dos contextos de cada uma delas.

A primeira, quiçá a mais popular e badalada mulher que se dedica ao surf em Portugal, não tinha já hipóteses de alcançar o que há tanto almeja, a qualificação para o Championship Tour (CT). A segunda, menos agraciada com patrocínios e exposição, nascida longe dos centros mediáticos do país, era a única surfista nacional com hipóteses de se apurar para o circuito mundial e conseguir o que nenhuma portuguesa logrou. Essa urgência condimentada com esperança era notória.

Calhou uma das baterias dos quartos de final em Saquarema, na última das seis etapas do Challenger Series (CS), o circuito de qualificação para a elite, juntar as duas atuais melhores surfistas de Portugal, ambas com dois Jogos Olímpicos na bagagem. À medida que o heat se desenrolou, a virtual 8.ª classificada do ranking do qual apenas as cinco melhores ascendem à primeira divisão mundial surfou com um intento esfomeado, como que embalada por uma missão: a encarar as ondas que quebravam para a direita de frente, Yolanda dilacerou o mar com rasgadas frenéticas, deixando várias manobras em cada boleia que apanhou por comparação com Teresa, de costas para as paredes de água por surfar com o pé direito na frente da prancha.

Os 8.17 e 7 pontos que “Yo-Yo”, alcunhada assim por quem narrava a disputa em inglês na transmissão da World Surf League, cedo fixou chegaram a ter Bonvalot obrigada a ir buscar uma onda de nota 10 se quisesse bater o total de 15.17 com que Hopkins acabaria por avançar rumo às meias-finais (Teresa acabou com 12 pontos). Já com os pés na areia, a derrotada foi dar um passou-bem à vitoriosa, ambas sorriam, Yolanda fez um gesto de radical com uma das mãos e logo cerrou o semblante na caminhada rumo à estrutura montada na praia.

Frenética na água, compenetrada na areia, Yolanda Hopkins está pela primeira vez entre as quatro melhores de uma etapa do Challenger Series. “A Teresa é uma competidora incrível, sabia que ia ser difícil”, reconheceu a algarvia, dizendo que ainda não mostrou “um 100%” dela própria e que espera fazê-lo “no próximo par de heats”. A escolha de palavras terá pouco de inconsciente.

Yolanda Hopkins não o mencionou, tão pouco lhe perguntaram na entrevista rápida após o heat, mas, fixando os olhos na final, saberá que é o necessário para alimentar as esperanças: apenas chegando à última bateria e, provavelmente, ganhando-o, é que conseguirá qualificar-se para o CT. “Estou só a desfrutar do Brasil”, garantiu, “queria agradecer a toda a gente que me está a ver em casa, sei que tem sido um ano emocionante e espero dar ainda mais nos próximos heats”, acrescentou, de novo pondo a mira no destino mais longínquo possível.

Nas meias-finais vai defrontar Vahine Fierro, a francesa que está na derradeira posição de apuramento do ranking. Ganhando-lhe, e caso Luana Silva - brasileira que está colada à portuguesa na classificação - não avance para as ‘meias’, restará a Yolanda apurar-se para a final. Consoante as contas a fazer mais tarde, provavelmente terá de vencer a prova para assegurar o apuramento.