A auditoria forense às contas do FC Porto foi ao detalhe na análise de 55 jogadores do clube - entre 2014/15 e 2023/24 - no que toca a entradas, renovações e saídas, com foco na caracterização das comissões de intermediação para cada negócio.

A conclusão desta parte da auditoria levada a cabo pela Deloitte descreve que em 61 por cento dos movimentos de entrada o FC Porto pagou aos intermediários valores acima dos valores de referência da FIFA (10 por cento da transação no caso de uma compra/venda e três por cento da remuneração bruta no caso de renovação). Nos movimentos de saída, isto aconteceu em 27 por cento dos casos.

Ora, isto significa que do total de 58,6 milhões de euros gastos em comissões na contratação de jogadores, 21 milhões de euros foram acima do benchmark FIFA. No caso das saídas, 17,4 de um total de 72 milhões de euros também ultrapassarem esses 10 por cento. No total, 38,4 milhões foram gastos para lá do que organismo que tutela o futebol considera como valor de referência.

Fábio Silva, Éder Militão e Chancel Mbemba são alguns dos jogadores cujos negócios contaram com comissões de intermediação bem acima dos valores considerados normais.

Os 55 jogadores analisados

A saída de Fábio Silva para o Wolverhampton foi o negócio em que este benchmark FIFA foi ultrapassado de forma mais evidente. Ora, se o avançado saiu para Inglaterra por 40 milhões de euros, o valor de comissão não deveria ultrapassar os quatro milhões (os tais 10 por cento), mas chegou aos 10 milhões de euros, dos quais sete foram pagos à Gestifute, de Jorge Mendes, e três à STV, representada por Carlos Oliveira da Silva. A mesma STV já tinha recebido um milhão de euros de comissão na altura da última renovação do jogador, mais do triplo do que se justificaria tendo em conta o salário bruto do mesmo.

Fábio Silva e Mbemba são dois dos nomes em destaque @Catarina Morais / Kapta +
No total, segundo esta auditoria forense, o FC Porto pagou 11 milhões de euros em comissões referentes apenas a Fábio Silva, sendo que mais de metade desse valor (6,79 milhões de euros) foi acima do referencial FIFA. Por muito pouco não foi o jogador que mais custou acima desse benchmark, sendo apenas ultrapassado por Éder Militão: as comissões sobre a chegada e saída do defesa central ficaram num total de 12,5 milhões de euros, dos quais 6,8 foram acima do valor de referência.

A nível de entradas, destacam-se os três milhões de euros gastos em comissões de intermediação na contratação de Chancel Mbemba ao Newcastle, quando esse valor não deveria ter ultrapassado os 450 mil euros. Já as renovações mais dispendiosas foram as de Otávio (3,52 milhões de euros) e Diogo Costa (dois milhões), sendo que a primeira ultrapassou benchmark FIFA em 2,96 milhões de euros.

Entre as contratações feitas a custo zero, a que se destaca é a chegada de Eric Pimentel. O defesa central, que em ano e meio leva apenas três jogos pela equipa B dos azuis e brancos, justificou o pagamento «desproporcional» de um milhão de euros em comissões.

O documento diz ainda que em 11 das transações identificadas não foi possível verificar o destinatário do pagamento referente às ditas comissões de intermediação. Estes casos totalizam quase dois milhões de euros (1 994 535 euros).