Coco Gauff é a grande vencedora das WTA Finals, ao bater numa final épica de mais de três horas de duração a chinesa Zheng Quinwen, com parciais de 3-6, 6-4 e 7-6 (2).

No torneio final do calendário feminino de ténis, jogaram as oito tenistas mais regulares da época, sendo de destacar o regresso à competição da campeoníssima Iga Swiatek, que vinha de não competir há sensivelmente três meses.

Antes do torneio, havia uma clara favorita: a bielorrussa Aryna Sabalenka, a jogadora que tinha dominado por completo a maioria dos últimos torneios de piso rápido e que tinha finalmente destronado a polaca Swiatek do trono mundial.

Plena de confiança e praticamente já tendo assegurado terminar o ano como número um mundial, Sabalenka ia em busca de um torneio que nunca tinha ganho e de ser a tenista a ganhar o maior prémio monetário da história do ténis feminino: 4 milhões e 800 mil dólares (sensivelmente 4 milhões e 500 mil euros).

Os dias que antecederam a realização do torneio foram pautados pela polémica associada ao local onde este se iria disputar: Riade, na Arábia Saudita.

Todas as tenistas foram questionadas nas conferências de imprensa de antevisão deste torneio sobre este fato, mas a maioria delas disse que estavam ali para jogar e que era um orgulho fazer parte da elite do ténis mundial.

Entendo que as tenistas não quisessem proferir declarações polémicas e que optaram pelas respostas politicamente correctas, mas não deixa de ser compreensível que alguns fãs do ténis considerem no mínimo inadequado que se realize uma competição feminina num país onde as mulheres continuam a ser discriminadas e os seus direitos não serem respeitados.

Não podemos ser inocentes e devemos aceitar que esta vai ser cada vez mais uma realidade num futuro próximo. O poderio económico da Arábia Saudita vai sempre prevalecer sobre questões éticas e morais e os desportistas (por mais que possam estar em desacordo), sabem que estão inseridos num negócio que movimenta milhares de euros, e também alguns desses desportistas só se preocupam consigo mesmos.

Em relação a este torneio, era igualmente necessário perceber se o mesmo iria ter uma grande adesão por parte do público e se seria um sucesso ao nível da bilheteira e a realidade é que houve muitos jogos (inclusive na variante de singulares) em que as bancadas estavam bastante despidas.

O público árabe não tem um grande conhecimento do jogo e não se vive propriamente uma atmosfera digna de um torneio de ténis, mas o fator financeiro prevalece sobre tudo o resto. Este é mesmo um sinal dos tempos.

As oito tenistas foram divididas em dois grupos: Sabalenka foi sorteada no grupo roxo e iria ter como rivais na fase de grupos a italiana Paolini, a cazaque Rybakina e a chinesa Zheng, ao passo que Swiatek estava inserida no grupo verde, junto das americanas Gauff e Pegula e a checa Krejcikova (atual campeã de Wimbledon).

Sabalenka começou muito forte o torneio, com uma vitória categórica frente à chinesa Zheng (atual campeã olímpica), com os parciais de 6-3 e 6-4 em menos de hora e meia de jogo.

A sua candidatura ficava ainda mais reforçada com esta exibição e dava claramente uma mensagem de superioridade às suas adversárias. Quem lhe quisesse ganhar, teria que jogar o seu melhor ténis ou beneficiar de um dia menos inspirado da tenista bielorrussa.

No outro jogo da jornada inaugural do grupo roxo, a italiana Paolini (a fazer a melhor época da sua carreira com presença nas finais de Roland Garros e Wimbledon e sendo campeã olímpica em pares), ganhou à cazaque Rybakina, que vinha de uma lesão prolongada, pelos parciais apertados de 7-6 (5) e 6-4, num jogo onde a italiana se superiorizou nos pontos mais importantes, tendo sido a mais consistente das duas.

No grupo verde, Swiatek (a outra grande candidata ao título) queria voltar a demonstrar que não tinha sido a dominadora do ténis mundial feminino por mero acaso. Tendo mudado de treinador depois da derrota precoce no Open dos Estados Unidos, a polaca queria ganhar este torneio para poder voltar ao primeiro lugar do ranking.

O seu primeiro jogo foi contra a sempre incómoda e muito talentosa checa Barbora Krejcikova, que já lhe havia ganho anteriormente. O primeiro set foi de domínio absoluto da checa, tendo ganho com o parcial de 6-3 e beneficiando da falta de ritmo competitivo de Swiatek e da sua grande quantidade de erros não forçados. Krejcikova parecia que ia provocar a primeira grande surpresa do torneio, quando se adiantou para 3-0 no segundo set, com duplo break acima.

Mas se há algo que caracteriza a polaca Swiatek, é a sua capacidade de luta e a sua força mental. Muitas vezes a polaca é dominada em grande parte dos seus jogos, mas consegue encontrar sempre uma solução para a vitória, muito assente na extrema intensidade com que joga e na sua grande consistência. A perder por 3-0 no segundo set, a tenista polaca começou a ser mais sólida e o seu jogo começou a fluir.

Não podemos deixar de atribuir algum demérito a Krejcikova, que começou a servir cada vez pior e a adoptar um ténis previsível e bastante defensivo, deixando de tomar a iniciativa do ponto e esperando pelo erro da adversária, e isso revelou-se fatal para o desfecho final. O segundo set foi ganho por Swiatek pelo parcial de 7-5 e o terceiro foi uma mera formalidade para a tenista polaca, tendo-o ganho por 6-2.

No outro jogo do grupo, a americana Gauff banalizou a sua compatriota e habitual parceira de pares Pegula (visivelmente limitada fisicamente), pelos parciais de 6-3 e 6-2 em menos de hora e meia de jogo.

A segunda jornada do grupo roxo já nos trouxe uma Sabalenka mais errática e dubitativa frente à tenaz Paolini. O primeiro set foi ganho facilmente (6-3) pela bielorrussa, mas no segundo set começou a cometer muitos erros não forçados, Paolini agarrou-se aos pontos e começou a conseguir controlar a potência das pancadas de Sabalenka e por muito pouco não forçou a decisão do jogo num terceiro set.

Sabalenka elevou o nível de jogo no momento certo, acabando por conseguir ganhar o jogo num parcial apertadíssimo de 7-5 no segundo set.

No outro jogo do grupo, a chinesa Zheng ganhou à cazaque Rybakina pelos parciais de 7-6(4), 3-6 e 6-1. Rybakina foi melhorando de jogo para jogo mas acusou a falta de ritmo competitivo e com esse resultado, era a primeira tenista eliminada do torneio.

No grupo verde, a checa Krejcikova refez-se da derrota dolorosa contra Swiatek e arrasou por completo Jessica Pegula no seu segundo jogo na capital árabe. O resultado final foi esclarecedor, duplo 6-3 em 1h10 (!) minutos de jogo.

O outro jogo do grupo opunha Swiatek à americana Gauff. Swiatek é claramente a “besta negra” da tenista norte-americana e partia com uma superioridade assombrosa de 12 encontros ganhos contra apenas uma derrota frente a Gauff.

No entanto, este jogo foi uma clara demonstração da melhoria no jogo de Gauff. Ainda comete muitas duplas faltas, mas já tem um serviço mais consistente, e acima de tudo já consegue imprimir mais potência e profundidade à sua pancada de direita, o que descontrói grande parte do jogo de Swiatek, pois tem mais dificuldade em assumir a iniciativa do ponto e acaba por cometer muitos mais erros dessa forma.

Gauff ganhava por fim a Swiatek (algo que já não acontecia há mais de um ano) pelos parciais de 6-3 e 6-4 e com este resultado, garantia a classificação para as meias-finais, e tinha apenas de ganhar um set no jogo final do grupo contra Krejcikova para garantir o primeiro lugar do mesmo.

No último jogo do grupo verde, Sabalenka já apurada e com o primeiro lugar do grupo assegurado, fez um jogo de qualidade sofrível frente à cazaque Rybakina, que demonstrou ter orgulho de campeã, tendo ganho à bielorrussa pelos parciais de 6-4, 3-6 e 6-1.

No outro jogo, quem ganhasse acompanharia Sabalenka nas meias-finais. Paolini ou Zheng, seria uma destas tenistas a fazer parte do lote restrito das quatro melhores.

Num jogo de sentido único, a chinesa Zheng pura e simplesmente “varreu” Paolini da pista e ganhou por uns impressionantes e expressivos 6-1 e 6-1 em menos de hora e meia de jogo.

Já no grupo verde, Swiatek não dependia de si mesmo. Teria de ganhar o seu jogo contra Daria Kasatkina (que substituiu a lesionada Jessica Pegula à última da hora) e esperar por uma vitória de Gauff frente a Krejcikova. Tudo que fosse uma vitória da checa, eliminaria automaticamente a tenista polaca e garantia a Sabalenka terminar o ano como número um mundial, um dos seus grandes objetivos para esta época.

Swiatek fez a sua parte e banalizou Kasatkina com os parciais de 6-1 e 6-0 em menos de uma hora de jogo. Mas mesmo assim, não conseguiu a tão ambicionada classificação porque Krejcikova fez uma grande exibição e derrotou a americana Gauff pelos parciais de 7-5 e 6-4, tendo garantido o primeiro lugar do grupo.

Concluída a fase de grupos, iríamos ter uma primeira meia-final surpreendente entre a chinesa Zheng e a checa Krejcikova e a outra meia-final seria disputada entre a bielorrussa Sabalenka e a americana Gauff.

Na primeira meia-final, Zheng impôs o seu ténis mais potente perante a checa Krejcikova. A checa acusou claramente o cansaço do jogo do dia anterior contra Gauff (uma tenista que exige sempre muito fisicamente das suas adversárias) e viu-se rapidamente a perder por 6-3 e 3-0 com duplo break a favor da sua adversária.

Zheng abusou do excesso de confiança e começou a querer apressar a conclusão dos pontos, o que não é de todo aconselhado quando se defronta uma tenista total com um ténis tão variado e taticamente muito inteligente como Krejcikova.

Quando Krejcikova entra na zona, é uma delícia vê-la jogar ténis, mas a tenista checa peca muitas vezes por momentos de desconcentração e pela sua falta de consistência. Num dia sim, Krejcikova pode ganhar a qualquer tenista e por pouco não levou a decisão desta meia-final a um terceiro set. Eventualmente perdeu o segundo set por 7-5, mas a réplica apresentada, é digna de todos os elogios.

Zheng apurava-se assim para a final das WTA Finals na sua primeira participação no torneio e iria defrontar a vencedora do encontro entre Sabalenka e Gauff.

Sabalenka partia como a favorita, mas a americana Gauff vinha claramente num crescendo de forma e iria dar muita luta. O primeiro parcial foi ganho num tiebreak superiormente jogado pela tenista americana. Este primeiro set foi pautado pelo equilíbrio e a tenista americana conseguiu estar muito presente nas longas trocas de bola e fazer face à maior potência da tenista bielorrussa.

Cabia a Sabalenka conseguir elevar o seu nível de jogo e deixar de cometer tantos erros para poder discutir a vitória num terceiro set. Gauff é uma tenista muito sólida, que devolve muitas bolas e acaba por desesperar as suas adversárias. E foi exatamente isso que aconteceu com a campeoníssima Sabalenka. Visivelmente cansada e sem ideias, sucumbiu em quase todos os jogos de serviço deste set. O seu jogo desintegrou-se por completo e Gauff aproveitou para a levar de vencida, ganhando o set com um parcial categórico de 6-3.

A final das WTA Finals foi um jogo carregado de emoção, com várias mudanças de ascendente no marcador, mas nem sempre bem jogado. As pancadas de Zheng são mais potentes mas o seu segundo serviço é ainda mais permeável que o de Gauff e isso equilibra as forças.

Zheng necessitava de ter uma alta percentagem de primeiros serviços para se poder superiorizar, pois tem um ténis mais variado que o da americana.

No primeiro set, Zheng conseguiu impor-se com o parcial de 6-3, mas apesar de parecer que foi ganho facilmente, o resultado era bastante enganoso. Gauff tinha conseguido criar várias dificuldades nos jogos de serviço da tenista chinesa, mas não conseguiu capitalizar essas oportunidades e Zheng conseguiu acabar por ganhar o set inaugural.

No segundo set, Zheng foi a primeira a quebrar o serviço, mas voltou a ser a tenista mais errática e a solidez de Gauff foi minando a confiança de Zheng.

Zheng ainda conseguiu salvar dois pontos de set no serviço de Gauff quando a tenista norte-americana serviu a 5-4 no segundo set, mas voltou a cometer muitos erros e Gauff aproveitou para quebrar o serviço para levar a decisão desta final a um terceiro set.

No terceiro e último set destas WTA Finals, Zheng começou novamente a conseguir impor o seu jogo. Foi a primeira a quebrar o serviço, viu o seu serviço quebrado logo de seguida mas o ascendente estava claramente do seu lado, o que foi comprovado com uma quebra de serviço em branco no sétimo jogo do set e uma confirmação do mesmo para avançar para 5-3 no marcador.

Zheng esteve a dois pontos da vitória no serviço de Gauff, não conseguiu pressionar ainda mais a norte-americana e ia servir para fechar o encontro e obter a maior vitória da sua carreira, servindo a 5-4.

Mas os nervos apoderaram-se da tenista chinesa, que apesar de ser dois anos mais velha que Gauff, a americana é mais experiente (já compete ao mais alto nível desde os 14 anos de idade), já ganhou um torneio do Grand Slam e está mais habituada a estes grandes palcos.

Zheng acusou a pressão, teve o seu serviço quebrado e a partir daí, o ascendente mudou completamente. A muito sólida Gauff ainda teve que salvar um ponto de break no seu jogo de serviço, mas Zheng neste momento já era mais coração do que clarividência, cometendo erros fatais nos momentos mais importantes.

A chinesa ainda salvou dois match points no seu jogo de serviço e foi totalmente dominada no tiebreak, claramente ganho por Gauff por 7-2, tendo-se atirado para o chão e celebrando efusivamente uma vitória muito sofrida e que foi ganha na base da solidez e da força mental.

Será certamente uma derrota muito difícil de aceitar por parte de Zheng (provavelmente foi a que melhor jogou e a merecedora da vitória), demorará algum tempo para a digerir mas a tenista chinesa tem todas as qualidades e um grande arsenal de pancadas para melhorar o seu ténis e fazer um 2025 nos lugares cimeiros do ranking de forma consistente.

Depois de uma segunda metade de época bastante fraca a nível de resultados e onde as críticas dirigidas foram algumas delas justas mas bastante severas, Gauff ganhava o torneio depois de conseguir derrotar adversárias da craveira de Swiatek, Sabalenka e Zheng.

Gauff tem sofrido bastante com a comparação odiosa com as manas Williams, nomeadamente com a grande campeã e para muitos considerada a melhor tenista de todos os tempos: Serena Williams.

Gauff jamais terá a potência das pancadas de Serena nem o seu serviço, mas é uma tenista muito jovem e bastante competitiva, que já apresenta um currículo bastante interessante para a sua tenra idade e compete contra duas grandes jogadoras como Sabalenka e Swiatek, absolutas dominadoras do ténis feminino.

Apesar de tudo isso, Gauff apresenta o incrível registo de 8-0 em finais disputadas em piso rápido. Para quem comete várias duplas faltas e não tem um jogo assente na potência das suas pancadas, é um fato digno de todo o registo e admiração.

Em Gauff, temos uma tenista para ser competitiva ao mais alto nível por mais uma década no mínino, e se as lesões não a acompanharem, estará sempre a lutar pela conquista dos torneios mais importantes, estou absolutamente seguro disso.

Com apenas 20 anos, Coco Gauff é a grande vencedora das WTA Finals.

O céu é o limite para este prodígio norte-americano.