Luís Godinho, internacional português, partilhou há uma mensagem que recebeu pouco antes, onde lhe foram dirigidos vários impropérios a propósito da sua arbitragem no SC Braga-Vitória SC, que dirigiu na véspera.

O assunto não é novo, mas registo com agrado a forma como espanta gente decente, célere a criticar a escassez de neurónios de quem se presta a àquele tipo de números.

A verdade e é importante que isso fique claro, é que este tipo de abordagens, seja via mensagem privada ou comentário a posts/notícias, são recorrentes e acontecem há muito tempo.

Antes da explosão incontrolável das redes sociais, a coisa dava-se de forma, digamos, mais espontânea: de vez em quando ouvia-se um insulto básico do outro lado da rua ou um grito coletivo de meia dúzia de heróis sentados na esplanada de um café. De vez em quando ouvia-se uma buzinadela mais agressiva de um condutor chateado ou até uma tangente atrevida de um lunático do volante.

Agora não. Continuamos a ter idiotas a chatear em público, mas é a selva do online que domina, batendo forte e feio em tudo o que mexe: árbitros, jogadores, treinadores, dirigentes, jornalistas, comentadores e qualquer outra pessoa que "ouse" participar direta ou indiretamente no jogo.

Ainda assim, são os homens do apito o alvo preferencial desses trogloditas que, com pouca culpa, apenas dão aos neurónios o uso que sabem.

Muito raramente essa rapaziada atua com estratégia ou de forma maliciosa. Eles só não sabem mais. Não tiveram a possibilidade de crescer com valores e aprender o que é a educação, o respeito ou empatia pelo próximo. É por isso que se mascaram de heróis sem capa, com a cumplicidade que o teclado assegura.

Já fiz várias vezes o que fez agora Godinho e de vez em quando repito-o, mas lá no fundo sei que estas pobres almas não podem ser valorizadas. Dar-lhes palco é dar-lhes exatamente aquilo que mais anseiam: atenção. Mas o que elas realmente precisam é de colo, compreensão e tolerância. Temos que perceber que um Fiat 600 jamais será um Ferrari.

Mas esta constatação não anula outras mais importantes:

A primeira é a evidência que, em termos culturais e educacionais, continuamos longe, muito longe, do que podíamos e devíamos ser enquanto cidadãos de um país de bem, democrático, livre e saudável. A latinidade pode até atenuar laivos pontuais de estupidez, mas não desculpa tudo. Há sim, problemas estruturais profundos que justificam a recorrência destas e de outras investidas. Estou em crer que a formação das próximas gerações tem que começar no útero, senão será tarde demais.

A segunda é a gritante sensação de impunidade que continua a gozar quem se predispõe a cometer crimes online com esta frequência. É que a maioria destes pobres coitados nem se dá ao trabalho de ocultar o perfil ou falsear o nome. É à cara podre, de peito feito e com uma inconsciência surreal que violam repetidamente a Constituição, o Código Penal, todas as leis que existem... e no pasa nada.

Eles ofendem, ameaçam, perturbam a paz familiar, incomodam profissionais de bem a toda a hora, acordam as pessoas a meia da noite e depois fazem tudo de novo. Uma, duas, cem vezes. Porquê?

Penso que no dia em que a nossa justiça encontrar formas eficazes de controlar estes delinquentes menores, a coisa pode melhorar. E melhorará de certeza.

Mantenho uma convicção antiga: a melhor forma de resolver estas situações é mantendo o equilíbrio entre pedagogia e punição. Entre sensibilização e sanção. As duas são fundamentais para que aprendam, mas a segunda é mais eficaz na forma como passa a mensagem.

Infelizmente.