A Luz ainda tremeu por instantes, quando Otamendi ofereceu o empate a Samu, mas acabou por embalar para uma noite histórica. Na 11ª jornada da Liga Portugal Betclic, a águia abateu o dragão de forma categórica (4-1). Clássico vencido e distâncias encurtadas para o segundo lugar - ainda com um jogo a menos.

Depois do desenho menos ambicioso e das escolhas mais retraídas na derrota europeia, frente ao Bayern (1-0), Bruno Lage optou por regressar ao plano A e devolveu às águias a identidade apresentada até à partida em Munique: laterais bem projetados, uma linha média mais fantasista e uma referência clara no ataque - Vangelis Pavlidis, no caso.

Do outro lado, Vítor Bruno não mexeu muito em relação ao onze apresentado em solo italiano. Apesar do desfecho negativo (2-1), o treinador azul e branco premiou a boa forma de Stephen Eustáquio com uma nova titularidade e subiu Nico González para a posição mais adiantada do meio-campo - em detrimento de Danny Namaso.

Antes do apito final, nota para a notícia fresquinha - triste para as duas equipas prestes a entrar em campo. Na despedida de Ruben Amorim, o Sporting havia recuperado de uma desvantagem de dois golos e batido o SC Braga por 2-4. Com o leão cada vez mais líder, vencer era a única opção para águias e dragões, de modo a não ficarem para trás na corrida pelo título.

Em busca da superioridade

Como seria de esperar, o embate entre dois dos maiores clubes do país começou quentinho. Ambas as equipas mostraram ter a lição bem estudada e as estratégias bem definidas desde cedo.

Se, por imposição da plateia da Luz, o Benfica começou com maior vontade de ter bola e de jogar mais no meio-campo adversário, o FC Porto, pela rapidez dos homens da frente, não teve problemas em baixar no terreno e, posteriormente, explorar o espaço deixado nas costas da águia.

Visões diferentes, mas, além de percetíveis, a darem frutos. O FC Porto chegou à área de Trubin com perigo por duas vezes - uma delas por Samu Aghehowa (invalidada, mas com uma boa defesa de Trubin) e outra por Wenderson Galeno, com um belo remate em jeito que não passou tão longe do alvo quanto isso.

Em grande forma, Carreras abriu o ativo @Catarina Morais / Kapta +

Apesar dos avisos rivais, o Benfica estava mais confortável - as maravilhas que faz regressar ao figurino original. Kokçu tentou e Di María foi quem mais ameaçou. O golo pressentia-se, estava perto... e chegou.

Caro leitor, lembra-se da conversa dos laterais projetados, a fazerem o que melhor sabem, prontos a desequilibrar no último terço? Ora nem mais. Álvaro Carreras, a realizar uma época brilhante, apareceu na grande área, puxou para o pé mais fraco e tentou a sua sorte. Com um desvio pelo meio, foi feliz.

Um insólito tiro no pé

Nos minutos posteriores à inauguração do marcador, o Benfica deu continuidade à boa imagem - Pavlidis, por exemplo, voltou a estar perto do golo com um remate ao ferro. Estava tudo a correr bem e a emoção no estádio era notória. Se calhar, até demais - se é que isso é possível.

Samu fez o único tento dos dragões @Catarina Morais / Kapta +

Várias tochas foram acesas e arremessadas para o relvado, o que provocou uma longa - e desnecessária - paragem no jogo. Desde aí, o Benfica nunca mais foi o mesmo e o FC Porto... empatou. Um - aparentemente inofensivo - cruzamento de Francisco Moura para a pequena área parecia controlado, quando um erro monumental de Nicolás Otamendi fez a noite a Samu: o espanhol apareceu solto e de baliza aberta, pronto a reestabelecer a igualdade no clássico.

Claro que não foram as tochas que deram o golo ao FC Porto, como é lógico. E decerto que a vontade da franja adepta que arremessou as tochas era exclusivamente de demonstrar um apoio intenso e criar, de certa forma, um espetáculo único.

Contudo, é também seguro dizer que, olhando apenas para o jogo jogado, a paragem não beneficiou - de todo - o Benfica.

Sem rodeios: dragão abatido

Com toda uma segunda parte por jogar, as águias aproveitaram o intervalo para deixar erros e percalços para trás e, nesse sentido, voltaram a entrar fortes, a querer dominar o dragão.

Depois de insistir muito e de ter um compatriota a borrar a pintura, chegou a vez de Ángel Di María. O argentino, brilhantemente servido por Fredrik Aursnes, apareceu com espaço pela direita. Conduziu, tirou as medidas e colocou-se à distância perfeita para desviar de Diogo Costa para o fundo das redes. Luz ao rubro, em ebulição graças ao golo de um ídolo que, com um abraço nos festejos, confortava todos os benfiquistas.

Já não havia volta a dar. Melhor em campo e embalada pelas bancadas, a águia partiu para o terceiro. Ainda por cima, fê-lo numa jogada onde foi tudo tão simples e tão bem-feito. Tomás Araújo, com uma daquelas bolas que tem olhinhos, encontrou Bah desmarcado no corredor. O dinamarquês cruzou rasteiro para Pavlidis, que desviou a bola para dentro da baliza portista - Nehuén Pérez acabou por ser o último homem a tocar.

Simples, eficaz e esclarecedor, numa noite onde a águia foi superior ao dragão. O FC Porto quis dar um ar da sua graça, mas, se dúvidas existissem, a noite era da águia.

A vitória - que seria sempre histórica, independentemente dos números, pela grandiosidade do duelo - começou a ganhar contornos memoráveis. Di María bisou ao fazer o quarto de grande penalidade e nas bancadas, o pedido era claro: «Só mais um».

O desejo não foi concedido, mas os adeptos encarnados certamente não se importam: regressam a casa felizes, com uma vitória gorda (4-1) frente ao grande rival.