Haveria pouco para dizer do Benfica - Santa Clara, um jogo quase sempre enfadonho e mastigado. Quando os jogadores das equipas mais carregadas se queixam de que a qualidade do futebol vai baixar com o calendário atulhado de jogos como está, a 1.ª parte deste jogo dos quartos de final da Taça da Liga (tal como a 1.ª parte do Sporting - Nacional da véspera), é um bom exemplo disso: sendo necessária a gestão do esforço de um plantel, não há rotinas, talvez até nem haja grande entusiasmo para jogar um encontro numa quarta-feira de chuva de uma competição menor.

Mas bem, isso são outros quinhentos.

Dizia então que haveria pouco a dizer do Benfica - Santa Clara, jogo que valia um lugar na final four da Taça da Liga. Até que algures na 2.ª parte, o espírito de Zinedine Zidane entrou no corpo de Angel Di María. Com 71 minutos no marcador e muita chatice em campo até então, o argentino, em dia de aniversário de Diego Armando, viu um cruzamento de Pavlidis e acreditou que podia estar ali uma oportunidade de enxotar o marasmo. Puxou aquele sublime pé esquerdo atrás e com um perfeito remate quixotiano, de moínho, leia-se, colocado, cheio de força, bombardeou a baliza do Santa Clara.

Por si só, aquele golo valeu o preço do bilhete. E aquele lindo bilhete abriu caminho para que o Benfica ganhasse o jogo e o direito a seguir em frente na Taça da Liga. Até as comepetições menos relevantes têm direito aos seus momentos de magia.

Gualter Fatia

Aquela obra de arte premiou os mais estoicos. Na 1.ª parte, foi xaroposo o futebol do Benfica, que se entornou no campo depois de uns primeiros 20 minutos em que Gabriel Batista resolveu o pouco que a defensiva do Santa Clara não conseguia controlar. Renato Sanches, percebe-se bem, talvez nunca mais venha a ter aquele cavalgar. Amdouni entremeia bons momentos com jogos apagados - e este foi um deles.

Na 2.ª parte, não havia outro remédio para Bruno Lage que não fosse colocar a cavalaria. Com Di María, Kokçu e, mais tarde, Pavlidis, o Benfica cresceu, mas afunilou em demasia o ataque para o lado direito. Gabriel Silva assustou aos 62’ com uma tentativa de chapéu a Trubin e depois surgiu o tal momento capaz de figurar entre os mais bonitos da carreira de alguém que está carregado de highlights para mostrar. Pavlidis, em greve de golos nas últimas semanas, furou o piquete e bisou aos 76’ e aos 80’, dando um aspeto ao marcador que o marcador talvez não justificasse. Mas para a história ficará aquele remate.