Nas vastas planícies alentejanas também se joga bom futebol - e com impacto nacional. No distrito de Beja, mais precisamente em Ourique, atua um jogador que conquistou algo raro: ninguém em Portugal marcou mais golos em março que Tiago Canhestro.
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Seja em relvado ou pelado, Canhestro não falha o encontro com as redes. Na conversa com o zerozero, a expressão «Ronaldo de Beja» surgiu de forma natural, face à eficácia que tem demonstrado. Mesmo longe dos grandes palcos há histórias que merecem ser contadas, e este é mais um exemplo dessa máxima que nos guia...
«Bola», a primeira palavra...
Natural de Ourique, fez toda a sua formação no clube da terra, tendo começado a jogar com apenas 8 anos. Nem sempre jogou como avançado, sendo que nos primeiros escalões do futebol federado atuava como ala.
«Os meus pais dizem - não sei se é verdade - que a primeira palavra que disse foi bola. Desde pequenino que sempre tive paixão pelo futebol. Tal como muitas crianças portuguesas e do mundo, sonhava ser jogador profissional», afirmou, à conversa com o nosso portal.
«Nunca tive grandes oportunidades de me destacar. Sempre estive nos campeonatos distritais de Beja. Mesmo quando havia convocatórias para as seleções do distrito, nunca fui chamado para os treinos de captação. Nunca tive aquele momento em que pensei: ´Agora posso dar o salto´.»
Atualmente, o atleta de 26 anos, que assumiu em definitivo a posição de ponta de lança, vai além das quatro linhas. O seu local de trabalho fica em Lisboa, mais precisamente na EDP, focando-se na área de partner management. Além disso, concluiu a licenciatura em Economia e, mais tarde, juntou-lhe um mestrado em Gestão.
«Mesmo estando longe, felizmente consigo ir aos treinos, mas é algo que acaba por ser bastante cansativo. Tenho pensado que, na próxima época, não jogo - já digo isto há algum tempo - mas o bichinho mantém-se, e continuo a querer jogar.»
Tendo como referências Óscar Cardozo, Robin van Persie e Cristiano Ronaldo, acredita que a confiança é um dos elementos mais importantes no futebol.
«As minhas melhores características, que me têm permitido ter estes números esta época, são o posicionamento, consigo colocar-me bem para atacar as costas das defesas. O meu jogo de cabeça também é muito positivo», diz-nos.
«Gostava de ser campeão com o Ourique»
Tiago Canhestro soma 35 golos, mais de metade dos 64 marcados pela equipa. Isso significa que cerca de 55 por cento dos golos da formação alentejana têm a sua assinatura. Ainda assim, não se considera um herói.
«Gostava de destacar o jogo em que ganhámos 11-0 ao Pereirense. Não por ter marcado seis golos, mas pela entreajuda que houve. Sabíamos que era um jogo em que podia aumentar as minhas estatísticas e consegui subir na classificação graças a eles. É algo bonito e sem a estrutura toda, não seria possível marcar estes golos com tanta regularidade.»
«Houve um momento em que a equipa sénior federada deixou de existir, depois passou pelo Inatel e, recentemente, voltou ao futebol distrital. Temos a ambição de subir aos poucos e colocar o concelho de Ourique ao lado dos melhores concelhos de Beja. Tem sido a nossa prioridade.»
«No futuro próximo, gostava de ser campeão com o Ourique e voltar a pôr o clube na 1.ª Distrital. Seria bom deixar essa marca. Infelizmente, não foi possível esta temporada, mas estamos focados em tentar trazer a Taça de Honra para o concelho.»
AF Beja e os «problemas com campo e estrutura»
A AF Beja tornou-se centenária este ano, sendo uma associação que alberga clubes históricos. No entanto, nunca contou com nenhuma equipa nas principais divisões do futebol português.
«Uma equipa alentejana subir até aos principais escalões é complicado. Os clubes não têm o financiamento que existe noutros lados. Só mesmo com um projeto com muitos meios é que, daqui a uns anos, podemos ver alguma equipa lá.»
O distrito de Beja é o quarto menos populoso do país, com menos de 150 mil habitantes. Apesar disso, a 2.ª Divisão Distrital conta com três séries distintas e um total de 34 equipas em competição.
«Têm sido dados passos interessantes. Acho que há um interesse em que o futebol distrital sobreviva, e isso é bonito. As pessoas conseguem esquecer muita coisa - este desporto é muito bom para a sociedade. O futebol ajuda muitas pessoas e traz muita felicidade.»
* David Albano