Com a receção do Benfica ao Atlético de Madrid para a 2ª jornada da Liga dos Campeões como plano de fundo, várias são as memórias a saltar à vista dos ávidos seguidores da ligação entre os dois clubes. Entre o universo de 21 jogadores que vestiram as duas camisolas - entre outros com ligações contratuais a ambos -, o nome de José Antonio Reyes destaca-se dos demais.

O impacto da passagem por colchoneros e encarnados é inequívoca, mas a partida precoce de um dos craques do futebol internacional não se dissocia do mesmo exercício. Exercício esse que o zerozero decidiu fazer ao lado de Quim, antigo internacional português e companheiro do extremo aquando da passagem pelo Estádio da Luz.

«É daquelas pessoas que vou sempre recordar»

«O Reyes chegou como um craque do futebol mundial, mas juntou-se ao grupo de uma forma fantástica. Apesar do currículo, era um atleta muito acessível e estava ali para trabalhar. Lembro-me perfeitamente das suas brincadeiras com o grupo no balneário, fruto da sua alegria contagiante», contextualizou.

«Às vezes há aquela situação em que os grandes jogadores se dão melhor com aqueles com maior currículo, mas não no caso do Reyes. Dava-se bem com toda a gente, desde os miúdos da formação que iam lá treinar até aos grandes jogadores que o Benfica tinha. É daquelas pessoas que vou sempre recordar», reforçou.

Reyes foi uma das figuras das águias em 2008/09 @Getty / PAULO CORDEIRO

Uma simplicidade complementar ao ambiente necessário num balneário, mas difícil de adivinhar para o comum adepto, apenas habituado a apreciar as qualidades saídas do pé esquerdo do internacional espanhol que chegou à Luz com a Premier League - versão Invencíveis - gravada no palmarés: «O Benfica sempre nos habituou a grandes jogadores, já desde a minha altura. Jogadores que fizessem a diferença.»

Diferença que salta à tona no momento de visitar os registos do extremo ao serviço das águias. Com aptidão para marcar ao Sporting- três dos seis golos rubricados de encarnado vestido foram, nada mais nada menos, do que ao velho rival lisboeta.

«Era daqueles jogadores que fazia a diferença quando a equipa precisava. Derivado tudo a sua grande carreira em grandes campeonatos, em grandes clubes, com grandes dérbis e, com certeza, já habituado ajudou-nos muito nesse sentido», complementou.

«Ninguém estava à espera, foi tudo muito rápido»

Transparecida a gratidão através de uma voz em metamorfose para a emotividade, tornou-se inevitável chegar ao ponto mais delicado da conversa: o violento acidente de viação que vitimou o jogador, em 2019.

«Soube pela imprensa», contou, trémulo: «Ninguém esperava uma tragédia tão grande, o que nos leva a pensar que, às vezes na vida, temos que viver o dia-a-dia porque tudo pode acontecer», lamentou: «Ninguém estava à espera, foi tudo muito rápido. Recordei grandes momentos que passámos com outros colegas que conseguiram ir ao funeral, algo que eu, infelizmente, não consegui.»

Em ação frente FC Porto @Getty Images

Trazido ao de cima o momento de dor partilhado por muitos outros ex-companheiros, Quim vê no filho do antigo internacional espanhol a luz de consolo - se assim nos permitirem chamar - capaz de honrar o nome do progenitor num futuro próximo.

«Vi notícias que o filho dele joga futebol e acredito que vamos ver o Reyes através do filho. São coisas às quais, às vezes, o destino nos leva. Vai fazer carreira e jus ao nome do pai!», concluiu.

Um destino que, entre as vicissitudes a si inerentes, mandatou que o rebento do antigo craque envergue precisamente o nome do craque que também alinhou por Real Madrid, Sevilla, Espanyol, Córdoba, Xinjiang Tianshan Leopard e Extremadura UD, último clube que representou na carreira.