
Dois amigos de infância, dois habituais parceiros de pares, duas estreias em Jogos Olímpicos sucedendo a escassos metros de distância, com escassos minutos de intervalo. O começo da tarde parisiense de Nuno Borges e Francisco Cabral daria um bom início de vida, mas o desenrolar da película não foi tão êxitoso.
Os dois saíram de cena mais ou menos na mesma altura, caindo, cada um, por 6-2 e 6-2. Cabral, que nem tem ranking de singulares, frente ao alemão Jan-Lennard Struff (34.º) após uma hora e três minutos, Borges (42.º), face a Mariano Navone (36.º) com um encontro sete minutos maior. Mas, se para Francisco esta presença nos singulares foi um bónus, obtido pela desistência de última hora de Alex de Minaur e beneficiando um tenista que não atuava a solo há mais de dois anos, para Nuno o embate no court 13 do complexo de Roland-Garros assemelhou-se a um pesadelo.
“Le Portugais qui a battu Nadal”, escuta-se nas pequenas bancadas do court no começo do embate. Há vitórias tão famosas que se tornam quase lapas que se pegam à reputação e Borges terá de aprender a lidar com isso. Mas, enquanto Nadal jogava no Philippe-Chatrier, Nuno assinava uma exibição muito distante do seu melhor nível.
O começo foi logo um prenúncio. Navone ganhou os primeiros quatro jogos de serviço, chegando ao 4-0 em 15 minutos. Enquanto o argentino ia encadeando pontos sólidos, Borges destaca-se noutros capítulos: com 3-0 atirou a raquete para o chão, com 4-0 deu um pontapé nos painéis de publicidade.
No final da partida inaugural, Borges melhorou. Nessa altura, ouve-se “Allez les bleus” intensamente, um cântico vindo de outra parte de Roland-Garros, um clássico sonoro destes Jogos. Talvez fosse o festejo de outra vitória francesa no ténis, talvez a celebração de uma medalha noutra competição, quiçá por razão nenhuma [era porque Corentin Moutet acabara de bater Sumit Nagal].
O primeiro set foi para o argentino e, entre a partida inaugural e a segunda, os portugueses na bancada tentaram animar o maiato. Borges trocava olhares e queixas com o técnico Rui Machado, mas voltou a sofrer um break no arranque do segundo parcial.
A segunda partida não seria muito diferente. Nuno incapaz perante o acerto de Navone, um argentino especialista em terra batida que acertava todas as bolas mais arriscadas, fazendo-as beijar as linhas. E Nuno foi eliminado tendo como última ação de destaque a forma como chicoteou o seu saco com a raquete.
Ali perto, Francisco Cabral era eliminado de forma digna para quem nunca joga singulares. Nuno Borges, cabisbaixo, abandonou o court, não sem antes dar autógrafos e tirar fotografias com três portugueses presentes nas bancadas. Mais tarde, ambos defrontarão os irmãos Tsitsipas no torneio de pares.