“Pedro Pedro Pedro!”. A noite no Olímpico de Roma terminou com o ecoar de um dos hits dos últimos meses, uma canção que, no lado azul celeste da capital italiana, é cantada em homenagem a um homem vindo das Ilhas Canárias que, a caminho das duas décadas de futebol de elite, continua a fazer a diferença.
Ele já foi Pedrito. É Pedro Rodríguez de nome. Mas, para o futebol, é, na verdade, Pedro, como aqueles políticos cujo estatuto permite que sejam chamados pelo primeiro nome.
Pedro, o veterano espanhol. Quantas carreiras já teve Pedro? O atacante irrequieto da idade de ouro do Barcelona e de Espanha, tricampeão da Champions, campeão europeu e mundial. O reforço do Chelsea de Mourinho. O fim da carreira em Itália, primeiro na Roma, agora na Lazio. Chegou à Lazio já bem veterano. Mas, eterno, vai em 143 encontros pelo clube, sempre com aquela face cheia de energia.
Pedro, somente Pedro, recebeu um cruzamento aos 92' do Lazio-FC Porto. Os dragões, muito recuados, deixavam que os locais enchessem a área de opções atacantes. Na confusão, o espanhol, ao 775.º encontro de futebol profissional, marcou o 192.º golo.
É este o mesmo Pedrito que partilhava ataque com Messi? Ou é só um irmão gémeo que finta a passagem do tempo? Para o FC Porto, é apenas o carrasco da noite italiana, uma sentença de derrota, o castigar do encolher nos minutos finais. Quatro jornadas de Liga Europa, apenas uma vitória azul e branca, quatro pontos somados. Numa competição em que é candidata a chegar longe, a equipa de Vítor Bruno é, somente, 22.ª na tabela que agrupa os 36 participantes.
Confirma-se a recente maldição do clube como visitante: quatro derrotas consecutivas fora de casa nas competições da UEFA.
A Lazio chegava ao encontro embalada por oito triunfos nas derradeiras nove partidas e, no arranque da noite, superiorizou-se a um FC Porto demasiado precipitado. Logo num primeiro aviso, após arrancada de Loum Tchaouna, Taty Castellanos atirou por cima. O avançado argentino teria melhor pontaria logo a seguir, mas estava em posição adiantada.
Os dragões chegaram a Roma com pressa para recuperar a bola e partir para o contra-ataque. No entanto, essa vertigem gerou descontrolo na madrugada da partida, num pecado que teve exemplo máximo quando, aos 20’, Diogo Costa agarrou um remate de Guendouzi e logo bateu na frente, levando à rápida recuperação laziale. Nesta fase, Vítor Bruno ia seguindo o jogo na linha lateral como um polícia sinaleiro que acompanha o trânsito, andando pela parte de fora do terreno à medida que a bola avançava.
Pouco a pouco, os visitantes estabilizaram o seu futebol. Fábio Vieira foi abandonando a direita para se juntar ao centro do terreno, partilhando o perfume das suas botas com a circulação de bola, a qual se tornou mais pausada, mais pensada. Ter o médio cedido pelo Arsenal longe do centro do duelo soava a crime, mas esse exílio também ajuda a explicar a falta de pensamento na elaboração das jogadas dos visitantes no primeiro tempo.
Apesar da preocupante tendência para acumular amarelos — Namaso, Samu, Nehuén Pérez e Djaló viram cartões no primeiro tempo —, os melhores minutos do FC Porto chegariam após a meia-hora. Aos 33’, Fábio Vieira, descaído para a direita, tentou uma finalização do nível do Olímpico de Roma, um remate suave, que fez uma aliança com a lei da gravidade para tentar chegar ao golo. O pacto bateu na barra e caprichosamente, não entrou.
Pouco depois do lance do talentoso canhoto, foi Martim Fernandes a assistir Samu, mas o espanhol falhou a finalização na cara de Mandas. Foi uma noite pouco feliz para o goleador, que só acertou sete passes e teve dificuldades técnicas para ligar jogo longe da área.
No melhor período dos visitantes na etapa inicial, e mesmo em cima do intervalo, soube-se que o segundo tempo chegaria em bases diferentes. A Lazio bombeou um canto da esquerda, um cruzamento longo e largo que distraiu a defesa da equipa portuguesa. Castellanos devolveu a bola para a zona de perigo, onde Romagnoli, sozinho, finalizou para o 1-0.
A Lazio é a casa de Nuno Tavares, o lateral português feito ídolo do Olímpico. Agressivo e caótico, o ex-Benfica conseguiu, no mesmo lance, roubar a bola a Vieira perto da sua área, arrancar pela esquerda, ir para o meio, esbarrar em Tiago Djaló, perseguir a bola em sentido contrário e terminar no chão. É uma locomotiva à solta no relvado.
Aos 61', uma tripla substituição — entraram João Mário, Pepê e Nico — trouxe Fábio Vieira mais para o centro do relvado. O impacto foi imediato: aos 66', o canhoto recebeu a bola dos centrais, rodou com uma receção orientada e lançou Galeno, num passe que foi um convite, numa abertura que foi uma prova de talento, um presente. O brasileiro cruzou atrasado e Eustáquio empatou.
O FC Porto estava claramente por cima. João Mário e Pepê conseguiram boas combinações pela direita, Tiago Djaló parecia dominar a defesa, imponente atrás e audaz a partir para o ataque. Mas, apesar do bom momento, os dragões pareceram conformar-se com o empate.
Recuaram e recuaram. A Lazio acumulou jogadores na área, apostando no jogo direto. Foi num desses lances que Pedro, somente Pedro, fez o 2-1. O FC Porto sai da Cidade Eterna com pressão extra rumo ao clássico.