MADRID - «Hoje fazemos história!», afirmou, por duas vezes, o presidente da Federação de Desportos de Inverno de Portugal Pedro Flávio na apresentação da Liga Ibérica de hóquei no gelo, realizada no Conselho Superior de Desportos de Madrid. Uma prova que vinha a ser sonhada há ano e meio e, dentro de dez dias, arranca no fim de semana 21/22 de setembro, com a participação de sete clubes, entre os o Hóquei Clube do Porto tornar-se-á realidade.

Se na época passada o HC Porto teve a permissão de jogar na liga espanhola, que já vai para a 53.ª temporada, mas sem direito a poder aspirar a qualquer título que não o da participação e crescimento, para 2024/25 as duas federações nacionais juntaram-se, com o apoio da federação internacional, e criaram uma Liga Ibérica que será composta por 21 jornadas, envolverá 172 jogadores, e encontrará o campeão naquele que, a 16 de fevereiro, no final, estiver em primeiro com mais pontos.

Depois, o HC Porto termina a competição e as restantes seis formações espanholas - Koshner CH Huarte (Navarra), CH Jaca (Aragão), SH Majadahonda (Madrid), Mileno Panthers (La Rioja), CG Puigcerdà (Catalunha) e CHH Txuri Urdin (País Basco) – seguem para a disputada do play-off da Liga Nacional onde o Jaca, que absorveu alguns elementos do desaparecido mas muito desejado Barcelona – ganhou as duas últimas edições, assim como as duas últimas Taças do Rei. Uma Liga Ibérica que pode ser acompanhada pelos fãs portugueses através do Youtube.

«Temos grande chance de ganhar. Estamos bem e é o que vamos tentar fazer», afirmou um confiante rookie do HC Porto João Farromba na apresentação contando, é claro, na capacidade dos colegas de um conjunto que, além de alguns portugueses, tem na sua maior força hoquistas oriundos do Canadá, Estados Unidos, Letónia e os restantes ex-Barcelona que em vez de ficarem no norte de Espanha, onde se situam cinco dos seis equipas do campeonato do país, preferiram ir para o Porto.

Pedro, afinal hoje fez-se história? «É verdade, hoje fez-se história», responde de imediato o líder da FDIP, mantendo o sorriso que se lhe havia colado à cara desde o final da manhã. «É um dia feliz para a federação de desportos de inverno. E é um dia feliz para mim porque, de facto, é a concretização de um sonho. Estávamos a trabalhar neste modelo há algum tempo. Era um desejo que a federação tinha porque uma modalidade tão especifica como o hóquei no gelo precisa de dimensão e nós não temos essa dimensão».

«Conseguimo-la graças à estratégia de um modelo como este, aproveitando o facto da Espanha já ter um grande desenvolvimento na modalidade. Estas sinergias entre federações que se conhecem, respeitam e entreajudam é fundamental para que o hóquei no gelo cresça e vão permitir que tudo se vá encaixar», vai afirmando Pedro Flávio, recordando ainda que «a Federação Espanhola de Desportos de Gelo colabora também com Portugal noutra modalidades, pois muitas vezes temos juízes espanhóis e de Andorra nas nossas competições nacionais».

Com ambas federações a piscarem o olho para que Andorra se junte já na próxima época, e que se torne realidade o aparecimento da equipa dos Nordic Vikings, estudantes dos países nórdicos que vêm para Madrid estudar e jogar durante seis meses, assim como a esperança que o Barcelona volte a ter hóquei no gelo, o que deixaria a Liga a ser disputada a dez, o presidente da FDIP não esquece a maior dificuldade que o HC Porto tem, além das deslocações, para competir: a ausência de um campo com dimensões olímpicas para que possa treinar e jogar sem ter de vir a Madrid para fazer estágios e competir, como acontece desde 2023/24.

«Com essas infraestruturas o paradigma vai mudar. O HC Porto passa a jogar em casa e torna-se mais competitivo. O clube tem estado a trabalhar, em paralelo com a federação, para poder construir uma infraestrutura própria, e o ideal seria que passasse a existir esse rinque no norte do país e outro na zona de grande Lisboa de forma a que possam estar a funcionar ao mesmo tempo e assim termos maior desenvolvimentos das modalidades de gelo. Para já o que fazemos em Portugal é um campeonato nacional num modelo de três para três devido às dimensões da pista existente serem mais pequenas».

«No hóquei normal jogam cinco mais o guarda-redes, no outro formato são três mais o guarda-redes num rinque com metade do tamanho, mas não é a mesma coisa. Como o HC Porto mostrou vontade de competir no hóquei normal, fizemos um acordo com a federação espanhola, mas que impedia que o clube português pudesse vencer qualquer prova ou até ir aos play-off. Foi aí que começou esta ideia de uma Liga de dimensão Ibérica, a que se pode juntar Andorra, torna-la mais competitiva e incentivar o aparecimento de mais clubes ou motivar outros que têm uma menor dimensão e trazer praticantes e público. Já está!». Hoje fizeram história.