

Numa tarde chuvosa e cinzenta em Harrogate, o favoritismo de nada serviu ao experiente Matteo Trentin. Apontado como um dos principais candidatos à partida para os ondulados 260 quilómetros nas estradas inglesas, o transalpino parecia encaminhado para a maior conquista da carreira após chegar aos metros finais inserido num pequeno grupo e acompanhado por um colega de equipa. Trentin lançou primeiro o sprint, mas, após um o ímpeto inicial, rapidamente se percebeu que não tinha a pedalada necessária e que teria de se contentar com a prata, sendo claramente batido por um jovem dinamarquês. Mads Pedersen surpreendia o mundo do ciclismo e anunciava-se entre as estrelas com um arco-íris ao peito.
Como a supra contada história do seu maior sucesso bem atesta, o título deste artigo é uma clara injustiça. De facto, Mads Pedersen está longe de ser normal. Porém, por mais impressionante que os seus desempenhos na estrada sejam, o imponente começa a ganhar fama de ser “o melhor dos outros”, isto é, “o melhor dos normais”, daqueles que não fazem frente aos já lendários Mathieu van der Poel e Tadej Pogacar.
Classicómano com ponta final boa o suficiente para se intrometer entre os melhores velocistas, Mads Pedersen vai colecionando um palmarés que faria inveja a muitos. Além do já mencionado título mundial, vitórias de etapa nas três Grandes Voltas e uma camisola verde na La Vuelta, três triunfos na Gent-Wevelgem, conquistas na Cyclassics e na Kuurne-Brussel-Kuurne e até gerais de provas como o Tour of Denmark e o Deutschland Tour.
Porém, continua a bater na trave nos monumentos, mesmo já tendo três podiums e mais seis resultados entre os dez melhores. Ora, o mais fascinante, porém, é que dessas nove vezes que terminou entre os melhores nas mais importantes Clássicas do Ciclismo, cinco foram ganhas por Mathieu Van der Poel e outra por Tadej Pogacar.
O cenário é desolador para Pedersen e para os outros. Afinal, nos 11 Monumentos disputados desde 2023, nove foram ora para van der Poel ou para Pogacar, com apenas Remco Evenepoel e Jasper Philipsen (colega de equipa de van der Poel) a conseguirem quebrar esta hegemonia.
Parece que pouco há a fazer a não ser resignar-se e lutar por lugares menores, mas a luta que Pedersen dá em cada dia de corrida e a forma como tão facilmente vemos, em qualquer prova que participe, que se trata de um ciclista fenomenal e que, em tantas coisas, é mesmo o melhor dos “normais”.
O que significa isto para o seu legado? Como será recordado Mads Pedersen quando tudo acabar? Como um campeão do mundo ocasional que nunca voltou a voar tão alto? Ou como o homem que, mesmo com pouco sucesso, nunca teve medo de enfrentar alguns dos melhores da história?
Da minha parte, sei que o recordarei como um dos ciclistas que mais prazer me deu assistir a competir.