Numa entrevista concedida ao podcast 'Entrelinhas', conduzida por Afonso Figueiredo, Nuno Santos, atualmente de fora das opções do Sporting devido a uma lesão grave, abordou o período de calvário que tem vivido, mas não deixou passar em branco outros temas relacionados com a sua carreira.

Forma de ser dentro e fora de campo

"Fora do campo acho que não tenho inimigos, só se for os adeptos dos rivais. Mas não me importo de ir a outros estádios e ser assobiado. Isso dá-me força. Espero voltar e continuar a ser. Não pela pessoa que sou, mas pelo que jogador que sou. Não desrespeitando as pessoas, mas tento dar o melhor para ajudar a minha equipa."

Relação com Pote

"Dentro do campo tem coisas parecidas comigo o Pote. Como jogamos no mesmo flanco, quando alguém pegava com ele, ia sempre por trás e ouvia o que estava a dizer, e a seguir picava eu. E aí já éramos dois contra um. O Pote é mais na calada, consegue ter mais calma para falar e atingir mais tranquilo; já eu fervo mais e fico mais impulsivo. Não tenho nenhum inimigo no futebol e quando faço isso é porque quero ganhar. Eu e o Pote não queremos o mal de ninguém. Tenho um episódio com o Pote, quando estava no Rio Ave e ele no Famalicão. Temos o mesmo empresário, nunca tínhamos pessoalmente juntos, mas já nos conhecíamos. Numa bola em que passo para fora, ele vira-se e diz 'olha se quiseres depois ensino-te como é que falhas isso'. Fiquei chateado e depois, no final do jogo, mandou-me mensagem a pedir desculpa a dizer que estava a brincar comigo. Ele tem mais esse lado do que eu. Consigo ser frontal no momento, porque não gosto de guardar nada."

Críticas que recebe do exterior

"Não sou a mesma pessoa dentro de campo e fora de campo. Já liguei mais. Lia tudo, mas agora já não. Passei essa fase, porque somos holofotes de tudo. As coisas chegam-me sem ser eu a procurar."

Rotina no pós-jogo

"A seguir aos jogos, ligo sempre ao Barros, o meu melhor amigo, para o bom e para o mau. Ele fala mais como adepto. É o meu psicólogo. Também falo com a minha mulher, que foi jogadora de futebol. Mas ela já não critica tanto... ou porque não gosta de ver o marido mal disposto. Muitas vezes as opiniões não são mesmas."

Alcunha de cavalinho e condição de suplente

"Cavalinho? Era o míster Ruben Amorim tinha essa alcunha para o Matheus Nunes e para mim. Nunca lhe perguntei. Chamava-me sempre cavalinho, mas quando queria dar dura ou chamava-me Nuno no vídeo, sabia que ia para o banco ou que as coisas não tinham corrido muito bem. Já começava a pensar porque não gosto de ir para o banco. Sou um jogador ambicioso. Há jogadores que não se importam de ir para o banco, eu não. Se estou numa equipa de futebol, é para jogar sempre até ir ao limite. Quem diz que não azia nunca foi jogador de futebol. Se vir um jogador que se acomoda por não jogar, isso faz-me impressão. Não vou estar a ser hipócrita. O míster sabia isso e sabia lidar comigo. Já começava a vir à baila esse assunto e fico aziado porque quero jogar sempre e sei que tenho qualidade para jogar sempre. Sou uma pessoa ambiciosa, a minha vida é jogar à bola e já perdi muitos anos por lesões. E quero jogar."

Passagem pelos três grandes

"Fiz a minha formação toda no FC Porto, nove épocas, depois fui para o Rio Ave, onde fiz uma grande época de júnior. Depois assinei pelo Benfica, onde fiz quatro épocas. Agora estou na quinta época no Sporting e nunca pensei... Sempre acreditei mas nunca pensei chegar aqui e ser amado por muita gente e odiado por outros. Fico muito feliz de estar neste grande clube e de ter ganho o que já ganhámos aqui: 2 campeonatos; 2 Taças da Liga e 1 Supertaça entre outras perdidas em que fomos à final e podíamos ter ganho mas a vida é mesmo assim."

Dois títulos de campeonato no Sporting

"A mais especial a primeira. Porque era um título que o clube queria há muito e nós conseguimos. Mas o segundo, com os adeptos e da maneira que foi, também foi muito saborosa. E a felicidade de ver toda a gente no Marquês foi fantástica. Tento passar isso para os mais novos. Velho não sou, quero jogar até aos 40 [anos]. Tento passar que é um momento fantástico, que fica sempre na nossa cabeça. Vais de férias tranquilo, porque foste campeão e viveste dos momentos mais felizes da tua vida. E é isso que tento passar. Que metam isso na cabeça, porque ser campeão neste clube é uma coisa de outro Mundo."

Nascimento do filho Nuno 

"Foi o primeiro e é sempre especial. Foi na altura da Covid-19 e consegui assistir a tudo. Foi mais um golo e uma assistência. Consegui assistir, foi mesmo na altura em que rebentou a Covid em Portugal, o futebol estava parado, e era para ser um parto normal. Na altura teve de ser cesariana, porque estava em tudo em pânico. Passámos muito tempo em casa, eu, a Diana e o bebé, porque estávamos com medo. Os avós nem conheceram o neto em casa, porque estava tudo parado. Foi um grande momento. Chorei muito, chorei mais do que nas minhas lesões. Sou uma pessoa muito fria e para sair uma lágrima é difícil. Mas o nascimento do meu filho foi incrível. Está quase a fazer 5 anos. Tem pé esquerdo, é sportinguista, joga no Sporting. Quando lhe tentam virar a cabeça, digo que nem vale a pena falar. Não tem hipóteses. Ele tem de ser o que quiser, mas vejo ali coisas de que vai ser melhor do que o pai."