O que se viu de novo
Não é que o Al Arabi, 5.º classificado do último campeonato do Catar, seja um adversário capaz de fazer suar uma equipa como o FC Porto - e que dor de alma é ver Marco Verratti aqui, mas cada um com as suas prioridades -, mas neste primeiro jogo aberto ao público, já foi possível vislumbrar uma tentativa de Vítor Bruno apostar em mais jogo interior do FC Porto.
A jogar inicialmente numa espécie de 4-2-3-1, com Grujic e Nico como duplo pivot, Namaso e Baró nas laterais e Mora no apoio ao ponta de lança Toni Martínez, cedo Romário Baró ofereceu a ala a João Mário para se aventurar em terrenos mais centrais, criando muitas situações de superioridade no miolo e mais pernas para trabalhar jogadas de ataque por ali. O primeiro golo do FC Porto, logo aos 3 minutos, é culpa de um passe desbravador de linhas de Grujic para Namaso pelo meio e Rodrigo Mora foi tentando abrilhantar um jogo que, ainda assim, transpirou muito a pré-época.
Com João Mário um pouco mais adiantado do que Martim Cunha, não se pediu, apesar disso, muito arrojo aos laterais, com o FC Porto a mostrar-se, quase sempre, bem sólido atrás, ainda que a réplica dos jogadores da equipa do Catar tenha sido quase sempre perto de nula. Não foi por isso grande teste para analisar processos defensivos do FC Porto, ainda que pareça claro que está ali um setor em que os dragões precisam de reforços.
Sem deslumbrar ou mostrar particular magia, a vitória por 4-0 fez-se de algumas jogadas interessantes, principalmente as dos dois últimos golos: no 3-0, aos 60’, Rodrigo Mora soube ler bem a entrada de João Mário pela lateral, com o internacional português perfeito no passe atrasado que encontrou Nico com espaço para o remate certeiro na área. Já com toda a equipa mudada, os proscritos de outros tempos também se mostraram a Vítor Bruno: já perto dos 90’, Fran Navarro fez o 4-0 numa jogada em que Ivan Jaime trabalhou bem individualmente pelo corredor central (sempre o corredor central), encontrou André Franco que de primeira e com um toque de classe encontrou o avançado espanhol na área.
Os reforços
O FC Porto ainda não tem reforços para a nova época e a situação financeira do clube não permitirá grandes arrojos no mercado. Mas há posições importantes de reforçar: David Carmo não jogou, será para manter no plantel? Se não for, um central de qualidade será obrigatório para acompanhar Otávio, que entrou bastante bem.
À falta de reforços para analisar, há sempre os miúdos - e talvez esteja neles solução para passar este período tormentoso pós-eleições, em que há muito para arrumar em casa do Dragão.
Apesar dos 17 anos, parece difícil que Rodrigo Mora não seja uma aposta já para a primeira equipa. Tem muito talento nos pés o menino. Nem sempre teve espaço para progredir, mas quando teve não defraudou: aos 36’ ia marcando num potente remate à entrada da área e na 2.ª parte foi instrumental no terceiro golo do FC Porto.
Martim Cunha, na lateral-esquerda, também deixou boas indicações. Mais confinado atrás, não se coibiu de avançar no terreno quando teve oportunidade e marcou até um livre direto com a sua canhota, sinal de confiança do jovem de 17 anos, que ofereceu ainda um golo a Nico, num cruzamento perfeito que o espanhol transformou num remate à barra.
Também atrás, Gabriel Brás teve muito pouco trabalho, mas mostrou segurança. Gonçalo Sousa, Vasco Sousa e o guarda-redes Diogo Fernandes entraram já na última meia-hora, período em que o jogo se baralhou mais taticamente, e poucas oportunidades apareceram para brilharem.
Como começou
Claúdio Ramos; Martim Cunha, Fábio Cardoso, Gabriel Brás, João Mário; Grujic, Nico, Romário Baró, Rodrigo Mora, Danny Namaso; Toni Martínez
Como acabou
Diogo Fernandes; Gonçalo Sousa, Otávio, Zé Pedro, Gonçalo Borges; Alan Varela, Vasco Sousa, André Franco, Ivan Jaime, Galeno e Fran Navarro
O melhor
Numa equipa inicial com tanta juventude ou jogadores que na última época não foram titulares, João Mário acabou por se destacar, tomando conta da lateral direita, com boas progressões e alguns pormenores técnicos interessantes e ainda oferecendo uma assistência para Nico - esteve também no golo de Toni Martínez, o 2-0 para o FC Porto. Atrás, ajudou à solidez e bom posicionamento que a defesa dos dragões quase sempre explanou em campo. Parecia um verdadeiro veterano.
Rodrigo Mora deixou alguma água na boca e na 2.ª parte, depois de mudar toda a equipa, Vítor Bruno viu Ivan Jaime a clamar por mais oportunidades, flutuando pelo corredor central.
A banda sonora
Algures no intervalo, na estereofonia do humilde Oberwaldstadion, de Bad Tatzmannsdorf, passou “Major Tom”, o hino de synthpop de Peter Schilling dos anos 80, adotado como uma espécie de música não oficial de apoio à seleção alemã no Euro 2024, ganhando uma nova vida.
Vítor Bruno precisará mesmo de contactar o ground control do FC Porto suspirando por reforços, mas para já Major Tom ainda tem ligação à terra, cheguem com vontade os jogadores ainda de férias depois de participarem no Euro 2024 e na Copa América e sejam bem aproveitados os jovens do Olival.
Só que não é claro que não haja saídas no FC Porto e aí ir ao mercado soa a inevitável, caso os dragões queiram competir com Sporting e Benfica, que já há muito estão a retocar os respectivos plantéis.