Passou pouco mais de um mês da primeira conferência de imprensa de Ruben Amorim no Manchester United, mas tanto mudou em tão pouco tempo. Passaram apenas 10 jogos, mas há algo na face do treinador que é diferente, uma alteração no tom de voz, um discurso menos carregado de esperança e mais a apontar os problemas e dificuldades.
Em cinco semanas, Ruben Amorim foi do profeta sorridente que deixou os adeptos do Manchester United a sonhar para, depois do jogo contra o Wolverhampton, parecer possuído pela maldição que também afetou Ten Hag, Mourinho ou Van Gaal: uma espécie de tristeza associada ao clube, de fatalismo, de estado de choque perante uma instituição que, simplesmente, parece não conseguir funcionar. Há pragas de ratos no estádio, chove dentro da sala de imprensa, a equipa perde encontros.
O 2-0 sofrido frente à equipa de Vítor Pereira foi a quinta derrota em 10 partidas de Amorim em Inglaterra. É o pior registo de qualquer técnico do United na dezena inicial de encontros no banco do clube desde Walter Crickmer, em 1932. Desde que o ex-Sporting chegou aos red devils, o Southampton foi a única equipa da Premier League a perder mais vezes (seis) em todas as competições do que o United.
Depois de quatro vitórias, um empate e duas derrotas nos primeiros sete jogos, Ruben vai em três derrotas seguidas. Em oito dias, sofreu nove golos e só marcou três: 4-3 contra o Tottenham, 3-0 diante do Bournemouth, 2-0 face ao Wolverhampton.
Na conferência de imprensa posterior ao duelo do boxing day, Ruben Amorim apareceu sem grandes sorrisos, não perdendo a fluidez do discurso, mas com um tom mais derrotado. As perguntas também são já mais de momento de crise do que de esperança. Acabou-se o estado de graça.
“Tempo”. É este o bem de que Amorim precisa, mas não tem. “A ideia precisa de tempo”, diz o treinador, que lamenta que não tenha dias para treinar, devido ao muito apertado calendário. “Eles [jogadores] estão a mudar completamente a forma de jogar, isso é muito difícil para eles e é difícil para o staff passar toda a informação”, reconheceu.
O United já realizou oito jogos em dezembro, mês em que ainda terá a receção ao Newcastle, no dia 30. No arranque de 2025, o ritmo suavizará, com apenas dois jogos nos primeiros 15 dias do ano, mas de altíssima exigência. A 5 de janeiro visitará Liverpool e a 12 deslocar-se-á ao terreno do Arsenal, em eliminatória da FA Cup.
“A ideia precisa de tempo. Será um momento duro e estamos longe do fim desse momento”, reconheceu Ruben.
Os jornalistas foram, na conferência de imprensa, tentando que o treinador desse um horizonte temporal para que a equipa melhorasse. Quando Amorim chegou, o United era 13.º após 11 jornadas, agora, sete rondas depois, é 14.º. O português não quis ser concreto na resposta, garantindo que vai “dia a dia” e tentará usar “cada minuto de treino” para crescer.
À medida que o estado de graça termina, vai havendo questões mais escrutinadoras por parte da imprensa. Um jornalista contrastou as dificuldades do United com o grande impacto inicial de Vítor Pereira, que venceu os dois primeiros encontros ao serviço do Wolverhampton. Ruben Amorim discordou do paralelismo, dizendo que o plantel do seu adversário “foi construído” para jogar com três centrais, ao contrário do seu.
Nesta mudança de ideário, o campeão nacional sabe que precisa de convencer os seus futebolistas, fazendo-os acreditar nas alterações que propõe. Mas, sem vitórias, tudo é mais difícil: “Precisamos de ganhar jogos para vender a ideia aos jogadores”, diz, confessando que, “quando não há resultados”, é “mais difícil que eles acreditem”.
Ruben Amorim sabia que “seria uma longa jornada” até recuperar um clube que vive em crise. “É preciso trabalhar em muitas coisas, dentro e fora do campo”, indica. Mas, a curto prazo, o mais urgente será mesmo estancar a hemorragia das derrotas consecutivas.