
Ser piloto da Ferrari é muito mais do que pilotar um carro vermelho e Lewis Hamilton sabe bem disso. Aliás, é muito possível que tenha feito malas para Maranello precisamente por causa desse lado intangível, em busca de uma eternidade que talvez só a mais mítica das escuderias lhe poderá dar.
As coisas, sabemos, não começaram bem. O primeiro Grande Prémio do ano, na Austrália, foi um espectáculo de confusão que, na verdade, já estamos habituados a ver na Ferrari. Hamilton e Leclerc não tinham o ritmo dos demais, mas um aguaceiro metediço surgiu com vontade de baralhar tudo em Melbourne. Hamilton viu-se de repente em 1.º lugar e, se na garagem dos italianos não se tivesse instalado uma inoperância incompreensível, talvez por lá pudesse ter ficado. Trocou tarde de pneus e foi apenas 10.º. Para juntar ao drama (porque a Ferrari é sempre um drama, para o bem e para o mal), as tensas interações do britânico sete vezes campeão mundial com o novo engenheiro, Riccardo Adami, deixaram meio mundo a vociferar sobre uma crise já instalada.
Como sempre, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Na sexta-feira, Lewis Hamilton garantiu de forma soberba a pole position para a corrida de sprint do GP China e este sábado, quando ainda a Europa dormia, foi dominador, liderando do início ao fim, sem nunca estar particularmente pressionado primeiro por Max Verstappen e depois por Oscar Piastri, que ultrapassou o neerlandês já nas voltas finais. Ajudou não ter ar sujo nem comboios de DRS à frente, ajudou a gestão dos pneus numa pista que os consome até ao tutano. Mas no final, o que interessa é que o vermelho cai bem a Hamilton na hora da vitória, ainda que ela seja apenas numa corrida de sprint.
“Acordei a sentir-me muito bem”, começou por dizer, sorriso rasgado de um lado ao outro, ainda talvez incrédulo com a diferença que sete dias podem fazer. “Desde a primeira volta este fim de semana que estava a senti-lo. Fizemos um grande trabalho - os engenheiros fizeram um grande trabalho, os mecânicos fizeram um grande trabalho a afinar o carro”, frisou ainda, lembrando que na primeira prova do ano não se sentiu “confortável no carro”.
Sobre a depressão que se instalou no pós-Melbourne, Hamilton lembrou que “muita gente subestimou o quão difícil é chegar a uma equipa nova, adaptar-se”, falando também dos desafios da “comunicação”.
“Não sinto a pressão”, disse ainda o piloto de 40 anos. “Conheço os tifosi e sei que a equipa quer ganhar. Sei que isto significa tudo para eles, mas como disse no outro dia, Roma e Pavia não se fizeram num dia. Um passo de cada vez”.
Piastri na pole para a corrida principal
Nada como uma boa dose de sabedoria popular. Até porque à vitória na corrida de sprint seguiu-se a qualificação para a prova principal e aí a Ferrari voltou a ficar atrás da concorrência. Lewis Hamilton foi apenas 6.º, Charles Leclerc 7.º. Oscar Piastri, 2.º na corrida de sprint, vai partir na frente, afastando para já a ideia de uma quebra de rendimento da McLaren, depois da FIA alterar os regulamentos para o GP China, reduzindo a flexibilidade da asa traseira dos carros, que estaria a ser um dos segredos da equipa.
George Russell (Mercedes) vai largar ao lado de Piastri e Lando Norris, vencedor em Melbourne, sairá de 3.º, à frente de Max Verstappen.