As poucas almas que na quinta-feira à noite pintalgavam irregularmente a bancada da Tele2 Arena, em Estocolmo, para a qual o Vitória atacava naquela altura, talvez nem acreditassem naquele golo de Nuno Santos, numa fase do jogo em que o Djurgarden até tinha mais bola. Mas esta é a sina do Vitória esta temporada na Europa: ganhar, ganhar e ganhar. Oito vezes seguidas ganhar, arrebatando um novo recorde entre equipas portuguesas: nunca alguma delas havia conseguido tantos triunfos consecutivos nas competições continentais.
As oito vitórias divididas entre fases de qualificação e fase de liga da Liga Conferência ultrapassam as sete que o SC Braga conseguiu em 2008, na altura divididas entre essa excentricidade que era a Taça Intertoto e a Liga Europa, onde os bracarenses, então treinados por Jorge Jesus, caíram nos oitavos de final. Na Suécia, golos de Manu Silva e de Nuno Santos valeram um triunfo por 2-1 frente ao Djurgarden, com a equipa minhota a ser agora 5.ª classificada na tabela da terceira prova da UEFA, onde Portugal, até esta época, havia recolhido mais desilusões que feitos de relevo.
Inesperadamente, o início da série, no modesto sintético do modestíssimo Floriana de Malta, na 2.ª pré-eliminatória, jogada em julho, quando ainda muito boa gente festejava a vitória espanhola no Euro 2024, foi o triunfo mais suado da equipa de Rui Borges: 1-0, um golo ainda marcado por Jota Silva que pouco depois sairia para o Nottingham Forest.
Daí para cá, o Vitória tem nadado calmamente pelas águas da Liga Conferência. Em casa, num terreno mais propício à prática do futebol, os vimaranenses arrumaram o Floriana com 4-0, chegando assim à 3.ª pré-eliminatória onde o adversário foi o Zurique, campeão suíço em 2021/22 e equipa que já andou pela Champions em tempos idos. Aí, vitórias claras por 3-0 na Suíça e 2-0 no D. Afonso Henriques.
No playoff de acesso à fase de Liga, mais dois triunfos concludentes frente ao Zrinjski Mostar: 3-0 em Guimarães e 4-0 na Bósnia. Já na fase de liga, antes do Djurgarden a vítima foi o Celje, da Eslovénia. Em casa, o Vitória venceu por 3-1. Não será de espantar se a série de triunfos ainda engordar: o próximo adversário do Vitória, em casa, é o Mladá Boleslav, atual 10.º classificado do campeonato checo. Segue-se o Astana, onde a dificuldade da longa viagem até ao Cazaquistão poderá retirar o teórico favoritismo da equipa portuguesa.
O percurso imaculado na Europa contrasta até com o campeonato algo irregular do Vitória dentro de portas. Na I Liga, os minhotos não vencem há três jogos, após derrota com o FC Porto e dois empates inesperados, com Casa Pia e Boavista. Ainda assim, a equipa de Rui Borges é 5.ª na tabela. Para comparar - e sabendo que a comparação está sempre condicionada pela qualidade das equipas -, em oito jogos europeus o Vitória tem 22 golos marcados e apenas dois sofridos, enquanto em oito encontros na I Liga são nove os golos marcados e oito os sofridos.
As tardes e noites europeias têm sido assim impulsionadoras do que tem sido um percurso que está acima das expectativas do Vitória nos últimos 20 jogos. De acordo com o portal de dados Driblab, na última vintena de encontros de campeonato e Liga Conferência (contando por isso ainda com quatro jogos da última época), no rácio entre vitórias, empates e derrotas, o Vitória tem 44 pontos, mais do que o número de pontos esperados, que estaria nos 38,24 pontos.
A nível de golos marcados (retirando penáltis) também dados positivos nos últimos 20 jogos: o Vitória tem 34 golos, bem mais do que os 27,15 que seriam esperados.
Para Rui Borges, o desafio é agora levar a força europeia para o campeonato. O Vitória eliminou o Paços da Taça de Portugal no último fim de semana e terá agora oportunidade de voltar às vitórias na I Liga frente ao Estrela, na Amadora, no domingo.