Portugal é uma terra de campeões. Cresci a ouvir os nomes de Figo, Rosa Mota, Rui Costa ou Nélson Évora, referências maiores de um país que, apesar da sua dimensão, deixaram marcas inesquecíveis no desporto mundial. Mas quando o assunto era ténis, as conversas mudavam. Lembro-me de ouvir o meu pai falar com entusiasmo e nostalgia de John McEnroe, Jimmy Connors, Ivan Lendl, Björn Borg e Yannick Noah, nomes que para mim, rapazola, pareciam quase super-heróis com raquetes. E no meio daquela galeria de estrelas, uma pergunta instaurava-se silenciosamente na minha cabeça. Porque é que nunca um português chegou tão longe? Anos passaram, e a pergunta continua atual. Quando será, afinal, a vez de Portugal no ténis?

De um ponto de vista mais histórico, o único rosto português visível de uma geração que ousou sonhar mais alto, foi o do tenista João Sousa, com os seus 4 títulos ATP, conquistados em Kuala Lumpur (2013), Valência (2015), Estoril (2018) e Pune (2022), três em piso duro e um em terra batida. Sempre se destacou pela sua capacidade de jogar em contra-ataque, com uma movimentação sólida na linha de fundo e uma inteligência notável na construção de pontos, embora lhe faltasse, por vezes, potência no serviço e consciência ofensiva. A par de João Sousa, nomes como Frederico Gil, Rui Machado ou Michelle Larcher de Brito, também deram sinais de que, pelo menos, o talento existia. No entanto, sempre à porta dos grandes palcos, sem nunca conseguirem entrar de forma definitiva. Foram momentos isolados, vitórias celebradas com euforia e sempre com alguma esperança dos portugueses, mas seguidas de um regresso à normalidade. Uma normalidade repleta de avanços promissores e recuos frustrantes, quase como um tie-break que parece nunca acabar.

Mas afinal, o que é que falta ao ténis português? Na verdade, não se trata de falta de talento, aliás, disso nunca estivemos propriamente mal servidos. Sinto que talvez o maior obstáculo esteja fora dos courts. Ao contrário do que acontece em países como a França, Alemanha, Espanha, Itália ou os Estados Unidos, Portugal nunca desenvolveu verdadeiramente uma cultura de ténis. Por cá, o desporto continua a ser visto como algo de nicho, muitas vezes associado a elites ou praticado de forma ocasional. Faltam torneios nacionais de grande escala, faltam transmissões regulares nos canais principais, e isso reflete-se em tudo o resto.

Dentro de campo, nota-se que temos jogadores inteligentes, com bom toque na bola, mas falta muitas vezes aquele fator extra, potência, confiança e sobretudo experiência em momentos de pressão. No fundo, falta-nos jogar mais vezes com os “grandes”.

Ainda assim, há sinais de que algo pode mudar. Nuno Borges, atual número um português, tem mostrado uma evolução consistente, conquistando vitórias importantes frente a jogadores do top 50. A sua postura, enquanto tenista, transmite a ideia de que há ali uma base sólida, talvez não para explodir, mas sim para ficar e deixar o ténis português vivo. Jaime Faria, com apenas 21 anos, é outro nome que está a despertar a curiosidade de todos, com um jogo agressivo, moderno e uma confiança que contagia. Os dois portugueses foram recentemente confirmados no quadro principal de Roland Garros, e o jovem de 21 anos fará a sua estreia no quadro principal. Além disso, o Estoril Open é a grande ponte entre o público português e o ténis internacional, e talvez o mais importante seja mesmo manter o ténis visível, presente e real. Para que os miúdos que hoje veem um court saibam que o mesmo pode ser o palco de uma história portuguesa também. O miúdo que ouvia o pai a falar daquele gigantes do ténis, com um brilho nos olhos. Que via os jogos, sem perceber muito bem as nuances técnicas e táticas, mas sempre com muita atenção aos movimentos dos tenistas. Hoje, olha para o ténis com outros olhos, de alguém que tenta ver para além do resultado, e percebe que há muito mais por trás de cada vitória e de cada ausência. Mas talvez essa mesma paixão de criança e o sonho de ver um português, agora alimentada com mais conhecimento, seja o que me faz continuar a perguntar. E se for desta? Porque por mais que o olhar mude, o sonho continua o mesmo.

Artigo redigido por Daniel Pereira