Gullit confessa que não está seguro se a defesa das grandes causas, mais ou menos humanitárias, mais ou menos pessoais, devam ser bandeiras que os atletas profissionais hasteiem enquanto estão no ativo. Ele arriscou quando evocou Mandela.

- Quando ganhou a Bola de Ouro dedicou-a a Nelson Mandela. Porquê?

- Naquela altura eu ouvia muito reggae, a mensagem contra o apartheid. Apoiei o ANC silenciosamente durante anos. Quando ganhei o prémio, dedicá-lo a Mandela pareceu-me o mais correto. O que eu não esperava era a reação, especialmente em Itália, onde muitos não sabiam quem ele era.

Quando conheci Mandela, ele disse-me que ouviram falar disso na prisão e que tinha medo de que eu fosse punido por causa isso. Ouvir isso dele, foi incrivelmente emocionante. Mais tarde, convidou-me para ir à África do Sul, onde fui agraciado com uma medalha e nomeado Comandante do governo sul-africano. Estou extremamente orgulhoso disso.

- Acha que os jogadores no ativo devem envolver-se em causas como racismo no desporto e não, ou devem esperar pelo fim da carreira para se envolverem nessas lutas?

- É difícil responder. Marcus Rashford fez um trabalho incrível para crianças em idade escolar, mas enfrentou reações negativas. É triste, mas durante a carreira, falar, muitas vezes, acaba por trazer mais dores do que ajuda. É por isso que muitos esperam até depois de terminar a carreira. Às vezes dizem que não temos opinião, que não falamos, mas não é que não tenhamos opinião sobre as coisas, é porque por vezes os danos colaterais são enormes e mais prejuciais do que benéficos.

- Vinícius Jr. é outro caso.

- É um exemplo perfeito. Falar é corajoso, mas não deve vir acompanhado de punição. Precisamos de muitas mudanças nessa área.