«Sempre que morre alguém como Neeskens é um pouco de mim que desaparece». António Simões foi informado por A BOLA do desaparecimento do neerlandês, representante de uma «revolução» que «impediu» o Benfica de vencer a sua terceira Taça dos Campeões Europeus. «Só não a vencemos porque defrontámos o Ajax por duas vezes [1968/1969 e 1971/1972]», diz, convicto.

«O Benfica tinha uma grande equipa, mas o Ajax era um pouco melhor que nós, não por ter mais talento individual, mas por possuir mais conhecimento do treino. O Futebol Total foi a origem do futebol a que assistimos hoje, com maior controlo do tempo e do espaço, a ponto de ter tornado o jogo parecido com o andebol: 11 contra 11 num espaço de 35 metros, todos próximos», recorda, aproveitando para uma reflexão: «Foi o andebol a ter um esquerdino no lado direito, o basquetebol a criar bloqueios e o voleibol a produzir surpresa sobre quem vai rematar. O futebol moderno foi beber tudo isso a essas modalidades.»

Da meia-final de 1972, na qual participou Johan Neeskens, António Simões recorda o que os jogadores do Benfica disseram uns para os outros face a tanta mobilidade do adversário, um tipo de futebol inovador e surpreendente numa era em que não havia observação de adversários: «Como é que vamos parar estes gajos? E ainda por cima tendo o Cruyff?»

De Neeskens recorda um tipo de jogador que só mais tarde seria batizado como box to box. «Comparo-o ao nosso Jaime Graça, que tanto estavam junto à sua área a recuperar bolas como de seguida iam à área contrária marcar um golo». O neerlandês, «além de grande futebolista, era um grande atleta», daqueles que «dificilmente atingiam as 120 pulsações».