Talvez não haja expressão portuguesa aproximada para o anglo-saxónico all but, mas esta quinta-feira, em Alcochete, Rúben Amorim all but confirmou que está de partida para o Manchester United. Ou seja, sem confirmar taxativamente, o ainda treinador do Sporting lançou as palavras que ditam, sem grandes dúvidas, que o acordo entre os leões e os red devils está feito e que Amorim será mesmo o próximo treinador português a viajar para a Premier League.
“No fim do jogo falarei sobre todas essas questões, agora quero que a equipa se foque, e eu também, e eu prometo que no fim do jogo falarei sobre isso. Ficará tudo mais esclarecido, amanhã responderei a essas perguntas”, começou, assim, por responder às inevitáveis perguntas não sobre o jogo com o Estrela mas sobre o seu futuro, bem mais calmo e ponderado do que há dois dias no final do encontro da Taça da Liga com o Nacional, em que a enxurrada de perguntas o deixaram pouco confortável, algo que quase nunca vimos em Rúben nestes últimos quatro anos e meio.
Chegará assim, após o jogo de sexta-feira, a confirmação da partida. Talvez até antes. Mas será a seguir ao jogo que Rúben vai contar e esclarecer de viva voz tudo o que aconteceu nas últimas 72 horas, em que a estabilidade que tinha no Sporting foi abalada por uma proposta para rumar a um dos gigantes do futebol mundial. Bastante moribundo neste momento, mas ainda assim um gigante: “Os adeptos podem gostar ou não, mas estará lá tudo definido.”
Esclarecerá também, diz, que a relação com Frederico Varandas continua “muito boa, muito boa”, que “não há guerra nenhuma” com o presidente, “nem paz podre” como escreveram alguns jornais, até porque, sublinhou, “isso não faz parte do feitio” dos dois homens que a 5 de março de 2020 apresentaram o novo futuro do Sporting, um futuro que terá saído melhor do que a encomenda. O Sporting tem sido duro de roer nas negociações e Amorim lembra que Varandas “está a defender os direitos do clube”.
Sobre o plantel e a suposta rebelião, Rúben Amorim também a negou, embora, candidamente, no regresso ao seu registo honesto, tenha assumido que a palestra antes do jogo com o Nacional foi tudo menos normal.
“Senti os jogadores diferentes na palestra, eu sei que os meus jogadores sentem ansiedade. Leem as notícias e não estavam normais. Percebi que eles estavam nervosos, ansiosos, porque temos uma série de jogos complicada, vai ficar, não vai ficar… Mas não houve revolta nenhuma, revoltas havia quando eu cheguei cá, com todos os problemas. Nem precisei do Morten [Hjulmand] para segurar os colegas porque eu trato disso. Eles conhecem-me tão bem, eu já provei que os defendo sempre”, explicou.
Rúben no divã
Talvez o único tiro no pé de Rúben Amorim nesta conversa, depois dos vários na conferência anterior, tenha sido manter a ideia de que não pode controlar nada. Para que os clubes negoceiem, é certo que o negociado tem de estar dentro do tema. E que tenha uma vontade. E a vontade de Amorim é sair. Isso está já bem assente na sua cabeça e com uma decisão já tomada o tom é outro. Mais sereno. Ainda que a voz aqui e ali pareça estar a ponto de quebrar.
Na conferência de imprensa de terça-feira viu-se um Rúben inquieto (e irrequieto), até quase belicoso, algo inaudito. O Rúben de quinta-feira abriu-se com os rodeios ainda necessários, mas que dizem tudo sem dizer. O treinador do Sporting assume que não se dá bem com a incerteza. Que sente algum “cansaço”.
“Toda a situação, tudo à volta” deixam-no “nervoso” e tem sido difícil focar-se. “Quando não sei o que dizer e o que posso dizer torna-se tudo mais difícil. A incerteza cria-me muitas dificuldades e tenho problemas de comunicação como qualquer treinador”. Rúben no divã. Depois, quase aliviado, lança: “Está quase a acabar a novela.”
E vai sair a bem, como sempre disse que iria acontecer? “Isso será cumprido, sem dúvida nenhuma. Será cumprido, se sair [risos]”. Os risos aqui são importantes porque denunciam que a hipótese de ficar já não será real.
A nostalgia e João Pereira
Já há uma ponta de nostalgia que aparece quando Rúben Amorim fala do staff, não só o que o deverá acompanhar até Manchester, mas o que vai ficar. Diz que “não é fácil encontrar um ambiente” como aquele que encontrou no Sporting. Que há “seis anos” ele e os seus adjuntos praticamente pagavam “para trabalhar” no Casa Pia.
E não se escusou a falar de João Pereira, o seu mais que provável sucessor. Está preparado? “Eu digo claramente que sim, não só por ele mas pela equipa técnica. E pela qualidade dos jogadores, como estão física e taticamente quando eu os chamo. Não é preciso quase trabalho nenhum. Está claramente preparado para outros voos”, diz sobre o seu antigo jogador, a quem elogiou a “maturidade” e a “personalidade”.
No final, algumas perguntas em inglês sedento de novidades. Rúben voltou a remeter tudo para o final do jogo com o Estrela, mas acabou a denunciar-se. O que gosta mais na Premier League, alguém lhe lançou quando treinador já se levantava da cadeira.
“Everything.”