Os números e a memória fotográfica são danados e olhar para a tabela da Premier League e ver um dos maiores clubes do mundo em 14.º lugar tende a ter consequências. A manhã de segunda-feira foi aziaga para Erik ten Hag, que já não é treinador do Manchester United, uma saída esperada e almofadada por um início de época mais do que desapontante, que se seguiu a outras duas temporadas comezinhas ao nível de sucessos.
Uma Taça da Liga, em 2023, e uma Taça de Inglaterra, no ano passado, são o pecúlio palpável do neerlandês, pouco, muito pouco para um clube habituado ao domínio do futebol inglês e que, algures a meio do vertiginoso caminho do negócio do futebol, se deixou inexoravelmente ultrapassar pelos rivais também eles endinheirados, mas com vistas mais longas sobre o que deve fazer um clube para se modernizar.
Ten Hag é culpado, mas também apenas mais uma vítima da debulhadora de treinadores que se tornou o United, equipa que antes arrastava multidões por esse mundo fora e que na última temporada se arrastou pelo meio da tabela da Premier League. Este ano, apesar dos investimentos milionários, na ordem dos 250 milhões de euros em transferências, o caminho não parecia distinto: o United tem quatro derrotas em nove jogos no campeonato, três empates em três jogos na Liga Europa e o último desaire, no domingo frente ao West Ham, foi a gota de água.
“Estamos agradecidos ao Erik por tudo o que fez durante o seu tempo connosco e desejamos-lhe boa sorte no futuro”, escreveu singelamente o Manchester United, numa curta mensagem no seu site acenando com o lenço ao treinador neerlandês. Ruud van Nistelrooy, em outros tempos, nos tais tempos bons do United, temível avançado dos red devils, será o interino até à chegada de um novo treinador.
Poucas luzes
O 8.º lugar final da última temporada foi a pior classificação do Manchester United na liga inglesa desde 1990. Ainda assim, o clube optou por ativar a cláusula de extensão do contrato de Ten Hag, dando nova oportunidade ao treinador que chegou a Old Trafford depois de um brilharete com o Ajax, levando a equipa de Amesterdão às meias-finais da Liga dos Campeões em 2018/19 e à conquista da liga neerlandesa por três ocasiões.
O brilho desses tempos nunca apareceu em Manchester, ainda que na primeira temporada Ten Hag tenha conduzido o United ao 3.º lugar na Premier League e à vitória na Taça da Liga. Mas esse primeiro ano fica também marcado pela mediática e tensa relação com Cristiano Ronaldo, que deixaria o clube em novembro, e pela histórica e pesada derrota por 7-0 frente ao rival Liverpool, uma das piores da história do clube.
O nível exibicional também nunca convenceu, nem as apostas do treinador em jogadores como Antony, Andre Onana ou Matthijs de Ligt, seus ex-pupilos no Ajax. Ten Hag deixa o United por uma minúscula porta, como quase todos depois de Alex Ferguson. Com 27 derrotas em 85 jogos na Premier League, só David Moyes apresenta um rácio pior que o treinador de 54 anos.
No final da última temporada, nomes como Thomas Tuchel ou Mauricio Pochettino surgiram como hipótese, mas ambos estão agora empregados: o alemão foi recentemente anunciado como selecionador de Inglaterra e o argentino é treinador dos Estados Unidos. O mesmo para Roberto De Zerbi, que seguiu para o Marselha. O nome de Xavi, ex-Barcelona, tem sido intensamente referido em Inglaterra, ainda que no seu país natal garantam que o antigo médio quer estar afastado dos bancos esta temporada. Rúben Amorim, naturalmente, saltou imediatamente para o radar, mas será improvável ver o treinador do Sporting sair a meio da temporada.
Gareth Southgate será do agrado dos cartolas da INEOS, agora investidores, e Graham Potter, ex-Brighton e Chelsea, também surge como hipótese para agarrar num lugar que parece amaldiçoado desde que Ferguson deixou o banco do United, já lá vão 11 anos. Daí para cá, entre interinos e treinadores principais, foram oito os treinadores, nove com Van Nistelrooy.