
Thomas Bach aconselhou que o seu sucessor na presidência do Comité Olímpico Internacional (COI) mantenha a neutralidade política, de modo a evitar que o movimento olímpico seja convertido num "instrumento" de divisão mundial e "destroçado".
"O único conselho que posso dar ao meu sucessor é que continue a manter os atletas no centro do movimento olímpico. E, em segundo lugar, que mantenha a união do movimento olímpico. União não significa que todos tenham de ter a mesma opinião, mas sim que todos estão comprometidos com os mesmos valores", realçou.
O presidente do COI falava em conferência de imprensa, depois da reunião da Comissão Executiva, em Costa Navarino, na Grécia, onde entre terça e sexta-feira decorre a 144.ª Sessão do organismo, na qual vai ser eleito o sucessor do alemão.
"Para manter essa união, temos de seguir dois princípios: um é a solidariedade. Todos os membros, em particular todos os 206 comités olímpicos nacionais, têm de ser tratados da mesma maneira, ter igual acesso aos benefícios do movimento olímpico e a oportunidade de desenvolver-se e tentar atenuar as diferenças entre privilegiados e não privilegiados", defendeu.
Em suma, segundo Thomas Bach, todos os comités olímpicos nacional "têm que ter não apenas uma voz, mas um voto".
"O segundo princípio é a neutralidade política, porque, particularmente na situação geopolítica que estamos a viver, com uma nova ordem mundial a nascer, podemos ver tentativas destes blocos emergentes ou dos protagonistas neste mundo multipolar de arrastar o movimento olímpico para o seu lado, dada a relevância que atingimos", alertou.
O dirigente teme que se o movimento olímpico assumir "uma posição favorável" a um destes "poderes emergentes", possa acabar "destroçado".
"Seria apenas mais um instrumento para dividir ainda mais este mundo", reforçou.
Bach, que tinha começado por notar que o seu sucessor enfrentará "menos incerteza" do que quando iniciou o seu primeiro mandato, há 12 anos, abordou ainda a situação da Rússia, lembrando que o comité olímpico daquele país só será readmitido quando cumprir o estipulado na Carta Olímpica.
"As condições são muito claras: têm de seguir as regras. Todos os que cumprem as regras da Carta Olímpica são bem-vindos e todos os que não a seguem não. A 'bola' está do lado do Comité Olímpico Russo", completou.
O alemão de 71 anos negou ainda ter feito campanha por qualquer um dos sete candidatos à sua sucessão, em resposta a uma pergunta sobre a sua alegada preferência pela antiga nadadora Kirsty Coventry, do Zimbabué, que procura tornar-se a primeira presidente mulher do organismo olímpico.
Sobre a sua despedida do COI, Bach disse sentir-se "muito relaxado", nomeadamente por este ser o primeiro período em 12 anos de mandato que não tem "nenhum problema existencial do movimento olímpico ou dos Jogos Olímpicos" na sua secretária.
"E, em segundo lugar, porque sinto que dei ao movimento olímpico aquilo que podia dar. É um ótimo sentimento", assumiu.
Finalmente, o campeão olímpico de esgrima em Montreal'1976 reconheceu não conseguir dizer se foi mais difícil organizar os Jogos Olímpicos Tóquio'2020 -- adiados em um ano devido à covid-19 - no meio de uma pandemia ou conseguir ter todos os comités olímpicos nacionais em Paris2024 sem qualquer boicote.