Era um confronto cheio de familiaridade. Uma dupla de irmãos, com o pai como treinador, frente a uma parelha de amigos de infância, tendo na bancada a assistir uma série de rostos conhecidos, desde o técnico Rui Machado até Vasco Costa, presidente da Federação Portuguesa de Ténis.

O court 13 do complexo de Roland~Garros, o pequeno court 13, ajudava à familiaridade, quase ao intimismo, com toda a gente próxima, escutando-se tudo, quase se ouvindo o respirar mais rápido dos protagonistas nos muitos momentos de tensão. Porque foi um encontro tenso, equilibrado, com ambiente de partida entre seleções, cânticos de portugueses de um lado, cânticos de gregos do outro.

Custou, foi preciso sofrer, mas Portugal venceu. A Grécia, com Stefanos e Petros Tsitsipas, venceu o primeiro set por 6-3, a dupla nacional respondeu com o mesmo marcador e, no decisivo tie-break, Francisco Cabral e Nuno Borges impuseram-se por 12-10.

Pouco tempo depois das derrotas de ambos em singulares — a de Borges mais dolorosa que a de Cabral —, o dia português no torneio olímpico de ténis recompôs-se. A dupla que ganhou o Estoril Open 2022 segue para os oitavos de final.

JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa

Cabral e Borges entraram em ação ainda com o sabor das derrotas de meio da tarde nos lábios e essa amargura, essa sensação de frustração, pareceu ter entrado no arranque do encontro. Logo na primeira vez que Portugal serviu, os gregos quebram o serviço.

A fase inicial do embate foi de supremacia helénica. O serviço de Stefanos Tsitsipas, do alto dos seu 1,93 metros, fazia mossa. Quando Petros servia, superar o mais cotado dos irmãos na rede também não era fácil.

Um jogo de pares é um curioso espaço de segredos e sussurros. Os companheiros de equipa dizem-se coisas ao ouvido, combinam ações, tentam prever e antever. “Fica atrás, vou responder cruzado e subir”, dizia, a certa altura do primeiro set, Borges para Cabral.

Sem oportunidades para quebrar o serviço dos gregos, a primeira partida foi para os helénicos. O melhor de Portugal viria no segundo parcial.

O serviço de Stefanos deixou de brilhar tanto. As fragilidades técnicas de Petros foram expostas. E Portugal passou a ganhar os seus jogos de serviço com mais tranquilidade.

Custou ter oportunidades de break, ainda assim. Uma primeira foi desperdiçada, uma segunda não. À medida que o sol se ia embora, Nuno agigantava-se, parecia deixar para trás a imagem nervoso do seu encontro de singulares. Quando Portugal quebrou o serviço do adversário, a superioridade portuguesa nas bancadas fez-se ouvir.

O ascendente nacional coincidiu com uma quebra psicológica da Grécia. Exemplo disso foi uma troca de palavras mais acalorada entre Stefanos e o seu pai, Petros, que desta feita esteve anormalmente calado.

Com Portugal a ganhar o segundo parcial, tudo se decidiria num tie-break, fórmula para desempatar estes confrontos de pares. Aí, o embalado ganho pela dupla Cabral/Borges revelou-se decisivo.

“Está nosso!”, disse Cabral para Borges depois de um par de pontos ganhos no serviço dos gregos. Essa vantagem seria desperdiçada, mas uma grande direita ao longo de Nuno Borges reabriu as hipóteses de triunfo para Portugal. A vitória na eliminatória foi confirmada neste encontro de familiaridades, em que se confirmou que, num imprevisível torneio de pares, a equipa dos amigos de infância pode surpreender.