
Os bancos globais têm estado nos últimos dias a reduzir as suas perspetivas de crescimento para a China, tendo em conta a instabilidade causada pelas tarifas impostas pelos EUA.
O UBS AG acrescentou nesta terça-feira a uma série de revisões em baixa do crescimento da economia chinesa a previsão mais pessimista entre os principais bancos, prevendo que vai expandir-se apenas 3,4% este ano, refletindo o impacto das tarifas norte-americanas.
O banco suíço, que anteriormente previa um crescimento de 4% em 2025, manteve a sua estimativa para o próximo ano em 3%. Ambas as previsões são as mais baixas de todas as projeções compiladas pela agência Bloomberg.
“O choque tarifário coloca desafios sem precedentes às exportações da China e vai desencadear um grande ajustamento na economia doméstica”, escreveram os economistas do UBS, incluindo Tao Wang, numa nota publicada nesta terça-feira.
O Goldman Sachs Group e o Citigroup estão entre os bancos globais que reduziram as suas perspetivas para a China nos últimos dias, com a maioria dos economistas a duvidar que Pequim consiga atingir o objetivo oficial de crescimento de cerca de 5% este ano.
Se os atuais aumentos das taxas alfandegárias se mantiverem, é provável que arrastem o crescimento do produto interno bruto da China em mais de 2%, apesar dos estímulos adicionais esperados de Pequim, segundo o UBS.
Os economistas admitiram que a sua opinião tem “margens de erro elevadas”, devido à “incerteza extremamente grande” que rodeia a guerra comercial em curso.
As exportações para os EUA deverão cair dois terços nos próximos trimestres e o total dos envios para o estrangeiro poderá cair 10% em termos de dólares este ano, acrescentaram.
“Pensamos que alguns dos outros parceiros comerciais da China também poderão aumentar as tarifas sobre os produtos chineses nos próximos meses, mas provavelmente apenas sobre produtos específicos e não em magnitudes semelhantes às das tarifas dos EUA”, afirmaram.
Rutura de mercados de capitais China-EUA pode custar até 2,5 biliões de dólares
Uma dissociação entre os mercados de capitais da China e dos Estados Unidos pode custar 2,5 biliões de dólares (2,2 biliões de euros) num “cenário extremo”, advertiu também nesta terça-feira o banco de investimento Goldman Sachs.
Os investidores norte-americanos poderiam ser obrigados a vender cerca de 800 mil milhões de dólares (705 mil milhões de euros) em ações chinesas negociadas nas bolsas norte-americanas, em caso de dissociação, afirmaram analistas do banco.
A China poderia liquidar as suas participações no Tesouro dos EUA e em ações, no valor de 1,3 bilião de dólares (mais 1,1 bilião de euros) e 370 mil milhões de dólares (326 mil milhões de euros), respetivamente.
O risco de dissociação entre as duas maiores economias do mundo poderá ir para além do comércio, segundo o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, que disse que a opção de retirar empresas chinesas da lista das empresas negociadas nos mercados de capitais dos EUA “está em cima da mesa”.
A Administração de Donald Trump impôs já uma taxa de 145% sobre produtos oriundos da China, enquanto Pequim contra-atacou com uma taxa de 125% sobre todos os bens oriundos dos Estados Unidos e outra de 25% sobre determinados produtos.
“Nos mercados de capitais, os investidores em ações estão muito concentrados no risco renovado de exclusão dos ADR (American Depositary Receipts) chineses”, afirmaram os analistas do Goldman no relatório.
Se a ameaça se concretizar, afetará cerca de 300 empresas, incluindo algumas das maiores empresas tecnológicas da China, que estão cotadas na Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE) ou no Nasdaq, com uma capitalização bolsista conjunta de 1,1 biliões de dólares (970 mil milhões de euros), de acordo com a Comissão de Análise Económica e de Segurança EUA-China.
De acordo com James Wang, diretor de estratégia para a China do UBS Investment Bank Research, a exclusão das empresas chinesas dos EUA poderia ter implicações fundamentais significativas, incluindo a redução do acesso a um maior volume de capital nos EUA, a potencial redução dos múltiplos de avaliação, devido à perda da base de investidores e a uma menor liquidez.
“No entanto, notamos que o levantamento de capital a partir de ADRs [lotes de ações de uma empresa não-americana negociadas em bolsas de outros países] diminuiu nos últimos anos, enquanto o papel de Hong Kong aumentou”, acrescentou.
O grupo Alibaba é a maior empresa chinesa cotada nos EUA, com uma capitalização bolsista atual de 257 mil milhões de dólares (226 mil milhões de euros). A rival de comércio eletrónico PDD Holdings é a segunda, com um valor de mercado de 125,7 mil milhões de dólares (mais de 111 mil milhões de euros).
Em 2022, cinco empresas estatais chinesas – PetroChina, China Petroleum and Chemical Corp, China Life Insurance, Aluminium Corporation of China e Sinopec Shanghai Petrochemical – deixaram de ser cotadas nos EUA devido a uma disputa em matéria de auditoria.
A crise foi posteriormente resolvida depois de as autoridades reguladoras de ambas as partes terem chegado a um acordo para permitir a realização de inspeções de auditoria em Hong Kong.
Desde então, muitas empresas cotadas nos EUA procuraram obter cotações secundárias em Hong Kong ou converteram-se num estatuto de dupla cotação primária para evitar a ameaça de exclusão nos EUA.
“Acreditamos que a potencial admissão à cotação em Hong Kong destas empresas poderia provavelmente catalisar uma reavaliação, dada a flexibilidade de os investidores norte-americanos converterem os seus ADR em ações de Hong Kong” em caso de um evento de liquidez perturbador, afirmaram os analistas do Goldman.
Agência Lusa
Editado por Jornal PT50