
O PIB global poderia crescer mais de 20% na próxima década se as mulheres tivessem as mesmas oportunidades económicas e políticas que os homens, conclui o relatório “Representation Matters”, realizado pela consultora Oliver Wyman em colaboração com o Banco Mundial e a Women Political Leaders. Na análise que se debruça sobre o impacto da representação feminina na política e a sua relação com o desenvolvimento económico, Portugal está acima da média global e europeia em representação feminina, com 33% de mulheres entre os membros do Governo e um elevado índice de igualdade legal de género, demonstrando um ambiente jurídico favorável à participação das mulheres na economia e na política.
“A participação das mulheres na política é um fator determinante para o crescimento económico e a redução da desigualdade. No entanto, apesar de representarem metade da população mundial, continuam a enfrentar múltiplas barreiras para aceder a posições de liderança na política e na economia”, conclui a análise.
Atualmente, as mulheres ganham, em média, apenas 80% do rendimento dos homens e têm menos de dois terços dos direitos legais que lhes são atribuídos. O seu acesso ao mercado de trabalho continua a ser limitado e, em muitos países, os avanços na equidade de género registaram retrocessos.
O estudo conclui que a equidade de género na política não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma “estratégia essencial para o crescimento económico global”.
Em Portugal, além da representação política feminina, o país apresenta-se como um exemplo no índice de equidade de género política, apresentando uma pontuação de 93/100, o que supera a média europeia de 82/100.
Representação feminina em Portugal
Portugal apresenta níveis de representação feminina superiores à média global e europeia contando atualmente com 36% de deputadas na Assembleia da República e com 33% de ministras no Governo. A relação entre crescimento económico e equidade de género é “clara”, referem os analistas, no entanto, o Parlamento Europeu registou uma ligeira diminuição na representação feminina, passando de 40% para 39% após as eleições de 2024.
A nível global, as mulheres continuam significativamente sub-representadas na política: apenas 26% dos assentos parlamentares são ocupados por mulheres e, nos cargos do ministério, a representação feminina situa-se nos 23%. A disparidade é ainda mais evidente na liderança governamental, onde apenas 27 dos 193 países do mundo são liderados por uma mulher, sendo que, em apenas 15 destes países, elas detêm poder real de decisão. Se o ritmo atual de progresso se mantiver, serão necessários mais de 40 anos para alcançar a paridade política a nível global.
Existem, no entanto, países que alcançaram progressos significativos na representação feminina. México, Ruanda, Cuba, Nicarágua, Andorra e Emirados Árabes Unidos atingiram a paridade nos seus parlamentos. No que diz respeito aos governos, Austrália, Bolívia, Canadá, México e Zimbabué conseguiram um equilíbrio de género entre os membros do Governo.
O México marcou um momento histórico em 2024 com a eleição de Claudia Sheinbaum como a sua primeira presidente, um marco significativo num país onde a política tem sido tradicionalmente dominada por homens. No entanto, nem todos os países seguiram esta tendência: em nações como Índia, Paquistão e França, a representação feminina nos parlamentos diminuiu entre um e quatro pontos percentuais em 2024.
Barreiras à representação feminina
O relatório identifica vários fatores que dificultam o avanço das mulheres. No âmbito legal e económico, destaca-se a necessidade de reformar leis discriminatórias e eliminar barreiras regulatórias que dificultam o acesso das mulheres ao mercado de trabalho. Isto inclui a garantia da igualdade salarial, o fortalecimento dos direitos de maternidade e paternidade e o aumento do investimento em serviços de apoio à infância acessíveis, diz o relatório.
O relatório também sublinha o papel do setor privado na promoção da equidade de género. Recomenda-se que as empresas adotem políticas internas de igualdade, assegurando a paridade nos conselhos de administração e nos cargos executivos de topo. Além disso, sugere-se que o financiamento político esteja condicionado ao compromisso dos partidos em promover a equidade de género.
Apesar de Portugal se situar acima da média global na representação política feminina e ter um elevado índice de igualdade legal de género, os dados do relatório demonstram que a igualdade real vai além dos números e exige mudanças legislativas, sociais e económicas. Na Europa, com o Parlamento que registou uma redução na percentagem de mulheres em 2024, a tendência evidencia que “os avanços não são garantidos” e que qualquer progresso deve ser sustentado por políticas ativas.
A análise “Representation Matters” sublinha que garantir a representação feminina nos processos de tomada de decisão é essencial para um desenvolvimento sustentável e para uma economia global mais forte. “Assegurar que as mulheres tenham um lugar à mesa das decisões é um passo fundamental para construir sociedades mais justas e equitativas”, conclui o relatório.