As perspetivas de futuro dos jovens, em Portugal, são hoje melhores do que eram há dez anos, quando tivemos uma crise financeira e uma intervenção da Troika no país. A evolução feita desde então não é, no entanto, suficiente para esconder um problema grave, antigo, e que continua sem aparente resolução à vista: continuamos a desperdiçar uma grande parte do talento mais qualificado que produzimos.

Os jovens portugueses estão cada vez mais qualificados. O mercado de trabalho nacional parece incapaz de absorver este capital humano, de forma adequada e sustentável.

Uma primeira consequência é preocupante: nos últimos anos, a taxa de desemprego jovem em Portugal tem sido consistentemente alta. A junho deste ano, de acordo com os dados mais recentes do INE, cerca de 23% dos jovens, entre os 15 e os 24 anos, estavam desempregados – mais do dobro da média da OCDE, e um dos piores registos europeus.

Neste contexto, a PwC tem vindo a publicar o Youth Employment Index 2024 (YEI24), onde apresentamos uma análise multidimensional da situação laboral dos jovens, nos 38 países da OCDE. Apesar de alguns progressos, como a redução da taxa de abandono escolar, Portugal surge nesta edição na 27ª posição (em 38 países analisados), uma subida de apenas três lugares face à última edição em 2018.

Enquanto Portugal perde capital humano crucial para o seu crescimento económico, as razões que explicam estas fragilidades continuam sem resolução. Uma das mais evidentes é o desfasamento entre as qualificações adquiridas no sistema de ensino e as necessidades das organizações no mercado de trabalho, o que leva a que muitos jovens, altamente qualificados, procurem empregos para os quais estão sobrequalificados, ou optem por emigrar para países onde as suas competências possam ser mais valorizadas, quer em termos salariais, quer no equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Esta “fuga de talentos” está a empobrecer o nosso país. Segundo dados recentes do Business Roundtable Portugal, cerca de 16 a 20 mil licenciados saem do país todos os anos. A riqueza que estes milhares de jovens levam para fora de Portugal não é apenas financeira ou fiscal, mas também faz reduzir a capacidade empreendedora e de inovação, fatores críticos para o desenvolvimento e competitividade de Portugal. A precariedade contratual é outra realidade que afeta desproporcionalmente os jovens, implicando níveis elevados de insegurança financeira e poucas perspetivas de carreira.

Os jovens qualificados são cruciais para Portugal para modernizar e escalar o crescimento da sua economia, contudo o país não se pode esquecer dos menos qualificados, que compõem a maioria dos jovens que não estudam nem trabalham. Portugal precisa, tal como outros países já o fizeram, de apoiar mais estes jovens permitindo-lhes adquirirem novas competências, necessárias às empresas da economia portuguesa.

As políticas de apoio ao emprego jovem devem começar bem antes da entrada no mercado de trabalho. Os países nórdicos, como a Dinamarca ou a Suécia, por exemplo, promovem programas de formação vocacional desde os anos escolares, em estreita colaboração com o setor empresarial.

Esta situação só poderá ser revertida com um papel mais ativo por parte das organizações.
A colaboração entre o setor privado e as instituições de ensino é critica para garantir que os jovens entram no mercado de trabalho com as competências necessárias para enfrentarem os desafios do futuro.

Embora a requalificação profissional seja uma necessidade, muitas são as empresas que sabem que esta nova geração possui uma maior orientação para o tema da Sustentabilidade, incluindo preocupações sociais. O YEI 2024 refere que 72% dos alunos britânicos pretendem trabalhar para um empregador alinhado com estas questões, por exemplo.

A nossa experiência mostra que, para que o emprego jovem possa ser mais sustentável e de qualidade, é fundamental apostar em formação que permita combinar competências técnicas e comportamentais, adaptadas às realidades das organizações, numa economia global em constante transformação.


Gabriela Teixeira, Sócia da PwC