No momento em que entramos em contagem decrescente para a grande festa dos 40 anos da BLITZ, na Meo Arena, em Lisboa, a 12 de dezembro – com concertos de Xutos & Pontapés, Capitão Fausto, Gisela João e MARO –, pedimos a músicos, promotores, jornalistas, radialistas e outras personalidades que vão ao baú resgatar memórias de quatro décadas de história, deixando-nos, também, uma mensagem para o futuro.

A memória mais antiga que Rodrigo Leão guarda da BLITZ é “a primeira capa, com a Siouxsie Sioux”, numa época em que tanto o músico quanto o seu “amigo de infância” Pedro Oliveira, vocalista da Sétima Legião, iam “todas as terças-feiras de manhã para um café no Bairro das Estacas, ao lado das piscinas do Areeiro [em Lisboa]”. “Era fascinante o nosso entusiasmo a ler o BLITZ”, conta. “Penso que é a publicação de música mais importante que se fez em Portugal. Para nós, era uma paixão devorá-la, não só pela quantidade de notícias relacionadas com a música portuguesa”.

“Antes do BLITZ, lembro-me de pouca coisa: do ‘Sete’, do ‘Rock Week’, que era um folhetim onde na altura escrevia o Tiago Baltazar… O BLITZ veio revolucionar as nossas vidas”, comenta. “Para além de ter dado, obviamente, um grande contributo para a divulgação da música portuguesa - e é impossível dissociá-lo daquele boom dos anos 80, desse grande movimento que aconteceu muito espontaneamente, em que os músicos perderam a vergonha de cantar em português… Que começou a ser assumido com muito mais naturalidade, em grupos como os Xutos & Pontapés, Heróis do Mar, Rádio Macau”.

O percurso de Rodrigo Leão na música acaba por se confundir com a BLITZ: primeiro na Sétima Legião, depois com os Madredeus e, finalmente, a solo. “Contribuiu para a divulgação da minha música, dos discos de todos os projetos em que participei. Estava em cima de tudo o que aconteceu, e acontece, em Portugal”.

“Em 1985, penso que terá saído, na última ou penúltima página, um artigo do Miguel Esteves Cardoso sobre umas primeiras maquetas de Madredeus, que seriam cinco, seis temas. Penso que foi a primeira vez que alguém escreveu sobre aquele projeto que eu e o Pedro Ayres Magalhães tínhamos iniciado nesse ano, e essas maquetas, supostamente, já seriam com o Francisco Ribeiro, o Gabriel Gomes e a Teresa Salgueiro”, recorda.

A BLITZ acaba, assim, por marcar toda a vida de Rodrigo Leão enquanto músico, mas não só. “Consultávamos tudo: os concertos que iam existir durante a semana, as críticas aos discos - que hoje em dia existem muito poucas… Toda a informação que eu fui tendo de grupos conheci através do BLITZ, fui ver concertos anunciados pelo BLITZ… É a maior publicação de sempre”, assinala.

“Penso que a música portuguesa deve muito, muito, muito ao BLITZ”, remata. “O que desejo, daqui para a frente, é que continue a existir por muitos mais anos e que continue a chegar às pessoas, que possam ter acesso aos concertos, às edições que vão existindo”.