No momento em que entramos em contagem decrescente para a grande festa dos 40 anos da BLITZ, na Meo Arena, em Lisboa, a 12 de dezembro – com concertos de Xutos & Pontapés, Capitão Fausto, Gisela João e MARO –, pedimos a músicos, promotores, jornalistas, radialistas e outras personalidades que vão ao baú resgatar memórias de quatro décadas de história, deixando-nos, também, uma mensagem para o futuro.

“Há aqui um detalhe interessante: para ter acesso à revista, ia todas as semanas, ou todos os meses, à biblioteca municipal da Moita, onde eu morava”, é esta a salvaguarda que Alex D’Alva faz ao recordar uma das primeiras memórias enquanto leitor da BLITZ: “uma das mais marcantes que tenho é de ter descoberto uma banda como If Lucy Fell a ler a BLITZ, o que à partida parece um pouco inusitado, mas nessa época, pré-internet, a revista era um dos meios que eu tinha de descobrir música nova e música portuguesa underground. E também acho que foi uma das poucas publicações portuguesas que fez uma review sobre um dos meus discos favoritos de sempre, que se chama ‘Define the Great Line’ e é de uma banda americana que se chama Underoath”.

Falando sobre o impacto que a BLITZ teve na sua melomania – “como nasci em 90, apanhei já em fase revista” – e no seu percurso enquanto artista, assume: “estamos a falar de uma altura em que não havia ‘Stereogum’, não havia ‘Pitchfork’ e, provavelmente, o Anthony Fantano nem sequer imaginava que ia ter a relevância que tem hoje, portanto a BLITZ era a referência no que diz respeito à música. E, tendo eu crescido a descobrir imensos artistas através da revista, quando apareci a primeira vez na publicação, fiquei extremamente contente. Era uma espécie de validação, de que alguma coisa estava a correr extremamente bem. E, felizmente, tanto a solo como com os D’Alva estivemos presentes algumas vezes, o que para mim é super gratificante”.

“A BLITZ tinha esse papel de catapultar novos talentos e dar a conhecer coisas até mesmo em primeira mão, de ser o lugar das grandes descobertas e de dar a conhecer coisas às quais, se calhar, de outra forma, o grande público não teria acesso. A meu ver, talvez esse seja o seu maior contributo”, acrescenta D’Alva, desejando que, no futuro, a publicação “mantenha esse espírito de dar a conhecer novos talentos e criar espaço”.

“Tem a capacidade de congregar, no mesmo lugar, aquelas pessoas que ainda estão muito entusiasmadas com os discos que nós adoramos dos anos 90, como os dos Nirvana e Pearl Jam, mas abrir espaço para novas formas de fazer e experienciar a música. E tem, de facto, diversidade a nível estilístico. Não é especializada em rock ou pop-rock, tem uma visão isenta de preconceito, agregando música eletrónica, hip-hop, até mesmo música mais folk. Acima de tudo, gostaria que ajudasse as pessoas portuguesas a apreciar mais a música portuguesa”, remata.