No momento em que entramos em contagem decrescente para a grande festa dos 40 anos da BLITZ, na Meo Arena, em Lisboa, a 12 de dezembro – com concertos de Xutos & Pontapés, Capitão Fausto, Gisela João e MARO –, pedimos a músicos, promotores, jornalistas, radialistas e outras personalidades que vão ao baú resgatar memórias de quatro décadas de história, deixando-nos, também, uma mensagem para o futuro.

“Comprava o BLITZ todas as terças-feiras. Aliás, na minha casa de Paredes de Cora, ainda deve haver umas centenas. Guardava-os religiosamente”, afirma João Carvalho, diretor do festival Vodafone Paredes de Coura, “o primeiro festival de Paredes de Coura chamava-se Festival de Música Moderna Portuguesa e onde é que nós íamos ver os contactos das bandas? Precisamente no BLITZ. Portanto, teve grande influência na minha forma de ouvir música e, depois, na forma de fazer cartazes. Isto há 32 anos".

"Terça-feira era um dia sagrado lá, na altura em que não havia internet: as novas tendências, as críticas aos discos eram absolutamente fundamentais. Depois, lá mandava eu vir o vinil da Tubitek, ou até do estrangeiro, como aconteceu algumas vezes. O BLITZ teve muita influência nas primeiras edições do festival e lembro-me perfeitamente de estar com o jornal aberto na penúltima página, numa cabine telefónica, e a discar o número de determinado agente, O BLITZ foi muito útil, não só para isso como também na forma de me ensinar a ouvir coisas novas”.

Para o fundador da promotora Ritmos, o maior contributo da BLITZ é o de “promover muito a música portuguesa”. “Confesso que sou muito mais fã do início do BLITZ. No entanto, todos os dias leio o site. Todos, sem exceção. Tenho o ritual de ler jornais online todos os dias e o BLITZ faz parte desse grupo”, revela João Carvalho, “mas, no início, foi super importante na divulgação de novas bandas, nacionais ou estrangeiras. Em mim, teve um grande impacto em termos musicais. Foi o jornal que teve mais influência no início do Paredes de Coura. Teve influência em toda a gente, porque não tinhas outra forma de chegar à música alternativa, tirando depois umas crónicas no jornal ‘Independente’, que não era um jornal dedicado à música. Eram dois jornais que eu comprava de forma sagrada aos meus 17, 18 anos, o BLITZ e o ‘Independente’”.

“Desejo que continuem, porque hoje as coisas estão mais complicadas do que nunca. É muito difícil acompanhar tudo. Todos os dias nascem novas bandas”, acrescenta o diretor do Vodafone Paredes de Coura, “desejava que o BLITZ dedicasse mais às coisas novas do que propriamente ao mainstream, porque o mainstream vai chegando a toda a gente de forma mais fácil. E, às vezes, há pérolas musicais, projetos inacreditáveis, que se não forem os órgãos de comunicação da especialidade, como o BLITZ, a puxar por eles, morrem à nascença. Desejo que o BLITZ tenha uma longa vida e que continuassem a dar grande relevância aos festivais, aos concertos, à crítica musical. Tem-se perdido um bocadinho essa coisa da crítica musical. Gosto de saber, quando vou a um concerto, o que o jornalista viu. Nos festivais vão fazendo, nos concertos de sala raramente. É uma coisa que sempre me habituei a ler e gostava de continuar”.