
Esta iniciativa faz parte do "encontro dos centenários" de Mário Soares e de Maria de Jesus Barroso, que foi opositora ao regime do Estado Novo, fundadora e deputada constituinte do PS e a primeira presidente mulher da Cruz Vermelha Portuguesa (1987 a 2003).
No concerto, de acordo com a organização, "todas as peças serão executadas por jovens instrumentistas e cantores sob a direção musical da maestrina Joana Carneiro".
O concerto do CCB contará com jovens músicos da Escola Artística de Música do Conservatório Nacional, da Orquestra Geração, do Instituto Gregoriano de Lisboa, da Escola de Música Nossa Senhora do Cabo e da Escola de Música do Colégio Moderno, bem como a participação do Coro Voces Caelestes.
"Serão 250 jovens em palco. Creio que um grande concerto é a melhor forma de homenagear a minha mãe, para quem a educação dos mais novos e a partilha com eles dos valores da liberdade, do conhecimento e da cultura foram a grande missão da sua vida", afirma Isabel Soares, filha de Maria Barroso.
Para José Manuel dos Santos, escritor e coordenador da Comissão Organizadora do Centenário de Mário Soares, Maria Barroso "foi uma figura ímpar" da História Contemporânea de Portugal.
"A sua luta pela liberdade foi política, moral e cultural. Por isso, [o ensaísta] Eduardo Lourenço, louvando a sua coragem e desassombro, chamou-lhe a nossa Antígona Ibérica. A sua intervenção política teve sempre um estilo e um valor próprios", sustenta.
Pedro Marques Gomes, historiador - curador da exposição itinerante "Maria Barroso: 100 anos", no CCB -, considera que Maria Barroso fez da sua vida uma luta constante pela liberdade e pela democracia.
"Resistente à ditadura do Estado Novo, prestigiada atriz do Teatro Nacional, viu a sua carreira interrompida por razões políticas pela ditadura. Foi uma pedagoga dedicada à defesa da educação como pilar fundamental da sociedade, a sua voz ergueu-se contra a violência, a opressão e a exclusão social e em defesa dos direitos humanos", realça.
Maria de Jesus Barroso nasceu em 02 de maio de 1925, na Fuseta, no Algarve, numa família de antifascistas. O seu pai, Alfredo José Barroso, oficial do Exército, foi preso e deportado por participar em ações contra o Estado Novo.
Nos anos 40 Maria Barroso destacou-se no teatro nacional, tendo contracenado com figuras como Palmira Bastos, Amélia Rey Colaço, Palmira Bastos, Maria Matos, Alves da Cunha e Augusto Figueiredo entre outros.
Devido à sua militância política foi afastada do teatro e impedida de representar pela ditadura, mas continuou a declamar poesia em recitais de coletividades operárias, associações de estudantes, muitas vezes acompanhada pelo coro de Fernando Lopes Graça.
Conheceu Mário Soares nos seus tempos de faculdade e casou com ele em 1949, na cadeia do Aljube, onde o antigo Presidente da República estava preso.
Na oposição ao regime de Salazar, Maria Barroso participou nas campanhas presidenciais de Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958), tendo concorrido às eleições legislativas de 1969 pela CDE (Comissão Democrática Eleitoral) no distrito de Santarém.
Em meados dos anos 60, assumiu a direção do Colégio Moderno, em Lisboa. Em 1973 foi a única mulher a intervir na abertura do III Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro. E, dias depois, foi também a única mulher presente no congresso fundador do PS, em Bad Münstereifel, na Alemanha, entre 17 e 19 de abril.
Após a revolução de 25 de abril de 1974, candidatou-se à Assembleia Constituinte em 1975 e nas primeiras eleições legislativas em 1976.
Com a eleição de Soares para Presidente da República (1986-1996), Maria Barroso centrou a sua ação na defesa da cultura, da língua portuguesa, da solidariedade e da paz. Morreu em Lisboa em 7 de julho de 2015.
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