Morreu Joaquim Pinto, membro fundador dos Mão Morta, seu primeiro baixista e, de acordo com comunicado da banda, um dos seus ideólogos. O músico, que juntamente com Miguel Pedro (guitarra) e Adolfo Luxúria Canibal (voz), formou os Mão Morta em 1984, estava internado no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, onde esta madrugada faleceu.
“É com profunda tristeza que comunicamos o falecimento de Joaquim Pinto. (…) Fundador e ideólogo dos Mão Morta, que formou com Miguel Pedro e Adolfo Luxúria Canibal há exatamente 40 anos, no início de novembro de 1984, e seu membro honorário desde 1990, quando deixou de exercer as funções de baixista permanente. Desde então aparecia esporadicamente e de surpresa num concerto ou outro, a tocar o seu ‘Aum’. Haveremos de nos voltar a encontrar em Berlim! Até lá, fica em paz, irmão”, partilhou o grupo nas redes sociais.
A referência à capital alemã está plenamente enraizada na história dos Mão Morta. O nascimento do grupo está ligado a uma visita de Joaquim Pinto a Berlim, em outubro de 1984, tendo então assistido a um concerto dos Swans, de Michael Gira. Ao cruzar-se com o português, Harry Crosby, baixista dos norte-americanos, terá dito a Pinto: “Tens cara de baixista”. De regresso a Portugal, Pinto comprou um baixo e logo no mês seguinte formava os Mão Morta.
Em “Narradores da Decadência”, a biografia dos Mão Morta editada pela Quase em 2004, Vítor Junqueira apresenta assim Joaquim Pinto: “Era uma pessoa cheia de carisma, que reunia à sua volta meio mundo. Chamavam-lhe o Pinto Marroquino (...) não só por causa dos charros que enrolava a toda a hora ou da barba e do cabelo que lhe davam um aspecto fora do comum, mas também porque nunca tinha pressa para nada. (...) Filho da burguesia médio-alta, de uma família ligada à indústria têxtil, experimentou vários cursos após o liceu, sem nunca ter terminado nenhum. Esteve em Coimbra (...), esteve em Bruxelas para estudar cinema, voltou a Coimbra e estudou ainda no Porto. Esteve ligado à extrema-esquerda, embora nunca se tenha envolvido nas escaramuças activistas. Ele e Adolfo conheciam-se desse circuito político, mas foi só a partir do primeiro concerto dos Auauafeiomau que os dois se envolveram em conjunto, ainda que inseridos naquela agitação que se começava a sentir, na conspiração para a criação de uma certa cultura alternativa em Braga. Pinto ouvia essencialmente jazz, até mais ou menos à altura desse concerto, do qual saiu cheio de entusiasmo, começando daí a cultivar outro interesse pelo rock”.
Joaquim Pinto abandonou a banda após o concerto que os Mão Morta deram em janeiro de 1990 no Rock Rendez Vous, numa altura em que o grupo preparava o álbum “Corações Felpudos”. Seria substituído por José Pedro Moura, dos Pop Dell'Arte.