Nick Cave passou um dia em Lisboa após o concerto dos Bad Seeds na Meo Arena, aproveitando para responder às cartas dos fãs através do website “The Red Hand Files”.
“A partir de uma varanda de um hotel em Lisboa”, e “com o sol português de outubro” no horizonte, o músico australiano procurou responder à questão de um seu conterrâneo, Jai, que o questionou sobre “o significado de se ser livre”.
“Enquanto compositor, o que mais me importa é a liberdade artística - liberdade de expressão, de crença, de imaginação”, escreveu. “O que me custa procurar estas liberdades - sentir-me genuinamente livre - tem, paradoxalmente, que ver com ordem e restrições. Sinto-me livre para me expressar e consigo aceder a uma quantidade maior de imaginação quando há certas restrições impostas".
“Como sabem, sento-me no meu escritório para escrever, das 9h às 17h, e sinto que nesse horário a minha mente se torna genuinamente livre. Sinto uma criatividade que é qualitativamente mais rica que qualquer coisa que sinta fora deste tempo, na desordem e na distração do mundo”, continuou. “Há liberdade no cativeiro. A desordem, a aleatoriedade, o caos e a anarquia são onde a imaginação vai para morrer”.
“Assim se passa com a fé e a liberdade de crença: sinto uma vaga ‘espiritualidade’ no caos do mundo, uma percepção de que Deus se encontra implícito de uma forma latente e metafísica, mas é só na igreja - uma instituição humana e falível - que me sinto verdadeiramente livre espiritualmente”.
“Claro que estas ideias são puramente subjetivas”, concluiu. “Muitas pessoas criativas, especialmente os mais jovens, sentem que a sua relação caótica ou desordenada com o mundo é indispensável à sua liberdade criativa. Depois de trabalhar arduamente nesta área, sinto que não é assim. O músculo da imaginação é fortalecido através da resistência, da disciplina e da ordem".