Pedro Ayres Magalhães, músico dos Heróis do Mar e Madredeus, lamentou a falta de soluções apresentadas para resolver o problema da Academia de Amadores de Música, em Lisboa, fundada em 1884, e que poderá vir a ser despejada do prédio na Rua Nova da Trindade, no Chiado, em que se encontra há 68 anos.

Num vídeo partilhado nas redes sociais, o músico português afirmou ser “realmente uma pena que a Academia não possa fazer face ao aumento da renda, por um lado, e por outro que não apareça nenhum benemérito, filantropo, ou uma instituição - inclusive estatal - que se digne a comprar o prédio, para que a Academia fique exatamente no mesmo sítio”. “Não há assim tantas coisas que durem [quase] 150 anos no nosso país”, acrescentou.

Situado no Chiado, o imóvel foi colocado à venda no passado mês de março, por um valor a rondar os 3,6 milhões de euros. Na quarta-feira (15 de abril) a Assembleia Municipal de Lisboa acolheu um grupo de cidadãos que se tem insurgido em defesa da Academia, entre eles Joana Bagulho, professora na Escola Superior de Música e ex-aluna da instituição. “Precisamos da Academia de Amadores de Música no centro da cidade, porque retirá-la do espaço onde está é comprometer a sua missão, é desrespeitar o seu passado e comprometer o seu futuro”, disse, citada pela Agência Lusa.

A Academia terá que abandonar o espaço até ao final do mês de agosto, uma vez que a renda do imóvel se tornou incomportável: de 542 euros passou para 3728 euros, colocando em causa a permanência dos 320 alunos e 40 professores da instituição. “Imagino o desgosto de todos”, disse Ayres Magalhães. “Acho que toda a gente o sabe, mas cabe-me a mim repeti-lo: o ensino é a atividade mais nobre de qualquer país, e o ensino da música é aquela atividade em que essa nobreza se revela mais. Os alunos têm direito à oportunidade de estudar música como se estuda na Academia”, acrescenta.

Pedro Ayres Magalhães, que também passou pela Academia enquanto aluno, afirmou que esta o “deixou cumprir o [seu] desiderato”. “Fui muito influenciado pelo movimento pop, naquela altura; era precocemente maníaco, por assim dizer. Tive um professor de guitarra extraordinário - o Paulo Valente Pereira -, frequentei a Academia uns quatro anos, e foi dos maiores desgostos da minha vida ter que a deixar”, contou. “Era uma escola muito simpática, muito aberta. Fiz amigos, tocava com pessoas, fazíamos duetos, tudo isso. Alguns dos músicos que conheci lá, vim a tocar com eles de forma profissional, mais tarde. Foram grandes exemplos para mim e aprendi imenso com eles”.

Assumindo a sua “perplexidade” com a situação, o músico deixou ainda um apelo “aos tantos eleitos, que estão aí nos seus cargos, que pretendem representar o interesse das pessoas e que estão ao corrente, como eu estou, pelos jornais”, apelidando esta causa de “indiscutível”. “O tempo passa e o estado de aflição da Academia é total. Não me cabe a mim encontrar exatamente a solução; [cabe-me] levantar a minha voz ao mesmo tempo que a vossa”, rematou.

A Câmara Municipal de Lisboa, refere a Lusa, deu como uma possível solução mudar a Academia de Amadores de Lisboa para o antigo centro de recrutamento militar na Avenida de Berna, junto à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, estando atualmente a negociar o valor da renda desse imóvel.

Nos últimos meses, foi criado um movimento em defesa da Academia de Amadores de Música, que reúne não só ex-alunos como também vários músicos e figuras públicas - entre estes nomes como Manuel Alegre, Rui Veloso, Camané, Sérgio Godinho, Teresa Salgueiro ou António Victorino d'Almeida - que se têm posicionado contra o despejo da instituição.

Notícia corrigida às 14h50 com a data de fundação da Academia de Amadores de Música e o tempo em que de facto se situa no prédio na Rua Nova da Trindade